domingo, 16 de novembro de 2008

O caso da Nédia

Passando pela Praça Hugo Werneck, perto da Santa Casa, vejo a casinha azul, velha, da Nédia.
Nédia, ela também já velhinha, deve ter mais de 75 anos, mas é esperta que só.
Espio dentro do alpendre e vejo que ela está com o bazar de Natal aberto, como faz todos os anos. Vende mimos do Paraguai.
Me dá uma vontade de conversar com ela. Há mais de quatro anos não a visito.
Entro e a vejo sentada ao fundo fazendo contas numa calculadora.
-"Minha amiga Nédia", vou exclamando para dar tempo de ela se lembrar de mim.
-"Adriana, tá lembrada?"
E ela abre o sorriso e os braços e nos apertamos muito.
Conversamos, eu elogio a disposição dela para o trabalho e a aparência.
Falamos sobre a Nanci e a campanha para vereadora em 2000.
Rimos.
Pergunto pelo processo da casa.
Vamos saindo e ela embola a explicação, falando baixinho, já na porta.
Conta que perdeu a causa - "30 anos, na Justiça"- mas trocou de advogado, creio que o terceiro ou quarto, e este já entrou com nova ação.
Nunca entendi bem o caso porque ela falava pelas metades.
Nédia mora sozinha numa casa grande, antiga, num dos locais mais valorizados de Belo Horizonte: a região hospitalar, que cresceu assustadoramente nos últimos 8 anos, tempo que eu a conheci.
Há prédios altos, um movimentadíssimo comércio e prestação de serviços, muitos laboratórios.
E a Nédia brigando na Justiça para manter a casa, segundo ela, herança do pai.
Mas uma outra família entrou na Justiça com pedido de usucapião, sem nunca ter morado lá, segundo minha amiga e depois de 15 anos conseguiu mas não levou. Segundo a Nédia, o processo foi feito sobre declarações e documentos falsos.
Por isso, o novo advogado dela entrou com uma ação inominada e pediu a apresentação do inventário do dono original da casa e ainda a escritura.
A coisa é mais ou menos assim, segundo entendi depois de hoje, não sei por que, vim à internet pesquisar o caso, na página do Tribunal de Justiça.
E encontrei processos da Nédia desde 1984, com o inventário de quem eu suponho ser o pai dela. Fiquei abismada com o vaivém da papelada.
E me compadeci das pessoas humildes que não têm ninguém por si como a Nédia, e envelhecem sozinhas dependendo da boa vontade alheia.
Como outra companheira também velha, a Natalice, que toca um inventário do ex-marido. Só que o inventário é em Recife para onde ele se mandou, depois de largá-la, mas de não ter desfeito o casamento. Ele arrumou outra família.
E esta está metendo a mão nos bens que ele deixou, enquanto a Natalice aguarda aqui, há mais de 10 anos, por uma "decisão" (ou seria condescendência?) da Justiça

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