sábado, 31 de maio de 2008

Ainda a Web e o estranhamento

Leio, leio, leio e ainda não fico sabendo de um terço do que está acontecendo. Na palestra do Oswaldo Gouveia, ele contou sobre a campanha do Obama.
Na parte de estratégias de comunicação, um cara de 20 e poucos anos, com um domínio fabuloso sobre a web, montou um verdadeiro canal mundial com o site do candidato.
O menino construiu um site pro Obama, que não custou nada. Buscou tudo que já estava disponível na web. Todas as ferramentas do site, e olha que tem de tudo, foram buscadas na rede mundial, gratuitamente.
Em um canto, há o "Obama em toda parte", com a lista das ferramentas de onde você pode acessar algo sobre o candidato: Facebook, MySpace, YouTube, Flickr, AsianAve, Digg, MiGente, BlackPlanet, Twitter, teaser, vídeos, fotologs, tudo colocado na página sem o cara gastar nada.
Há "n" endereços na internet que oferecem tais serviços gratuitamente.
E por falar em gastar, tem, óbvio, o campo de doações on line. E assim que começou a campanha foi estabelecida uma meta de 1, 5 milhão de doadores (há campos de doação de 50 a 500 dólares e um campo de "mais"). O site conta diariamente o número de doadores, que já ultrapassou muito a meta. Mas não conta a quantidade de dindim arrecadada. (Vou escrever sobre esta rede construída via internet depois).
A campanha pela internet é um multiplicador de opiniões, adeptos e tal. A página está traduzida até na China (menos doações, que a lei não permite, para estrangeiros).
Se você digitar Obama no Google, a primeira página é a chinesa. Coisa de louco, ou cibernéticos, claro.
A campanha está sendo acompanhada por milhões de pessoas pelo mundo afora, por meio dos twitters (mensagens curtas do que o Obama está fazendo, em tempo real, em espaços públicos, claro, que chegam pelo seu celular).
São milhões de "jornalistas" postando informações e milhões de aficcionados por tecnologia acompanhando e interagindo.
Isto é a web 2.0.
Por aqui temos o jornalismo colaborativo de alguns portais (Terra, Uol). Mas iniciativas de porte, vêm sempre de fora. A Índia está na linha de ponta.
Mas que importa de onde vem a iniciativa? Estamos todos conectados mesmo, mundo afora.

Ainda da campanha do Obama (isso tudo foi falado pelo Gouveia na palestra e eu fui xeretar depois no site): há um mapa do mundo no site para que os twitters sejam visualizados. Você posta daqui de BH e aparece em tempo real, no mapa múndi, com sua fotinha.
E tem também, um globo em 3D, que mostra as mensagens vistas do espaço com sua localização aqui, na pequena Terra!

Mas ainda vamos chegar à Web 2.0 no setor público. Continuo.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

McLuhan e a Web 2.0

Pouco antes de morrer, em uma de suas últimas entrevistas, McLuhan, teórico da comunicação global, guru de quem estudou jornalismo nos anos 70, respondeu à seguinte pergunta: "qual a pergunta que nunca lhe foi feita e que gostaria de responder?"
-"Gostaria que me perguntassem se gosto de tudo isso ( referindo-se ao seu campo de pesquisa e atividade). Só para responder que não, não gosto, tenho é medo disso tudo que está vindo".
E McLuhan não tem idéia do que veio e continua vindo. Claro que, profeticamente, ele anteviu nosso mundo globalizado, não só na informação, mas na economia, política, ciência.
Mas duvido que até mesmo sua genialidade pudesse supor o quão pequeno se tornou nosso planeta, com a internet.
E por que busquei o McLuhan aqui, hoje?
Porque me ocorreu que minha curiosidade com os avanços das tecnologias de informação, tem a ver um pouco com medo também.
Medo de não conseguir mais trabalhar. Medo de não conseguir entender uma simples conversa. Medo de não entender mais o mundo.
Essa é a sensação mais evidente diante de tantas novidades a nos assaltar diariamente.
E não só pelo marketing comercial e suas inutilidades (ainda tem celular que só faz e recebe chamadas?), mas principalmente pela infinidade de recursos disponíveis na web.
Fiz mais um curso de web. Todos que aparecem, ligados à minha profissão, me atraem irresistivelmente.
Cada vez saio sabendo menos. E não se trata apenas de uma constatação socrática.
Mas da percepção de que me faltam as ferramentas para entender o que intelectualmente vislumbro. Creio que preciso fazer um curso de informática, ou algo assim.
Pois a palestra era Mídia Social: os impactos da Web 2.0 nos setores privado e público, organizada pela Secretaria de Ciência e Tecnologia, com o apoio da Fapemig.
O expositor foi o Oswaldo Gouveia, administrador da Rede Peabirus.
Foi uma viagem cibernética.
Mas o tempo é curto e não dá para aprofundar em nada.
O jeito é pegar as referências, dicas e ir pesquisar porque "o tempo não pára no porto, não apita na curva, não espera ninguém".
E eu quero entender um pouquinho desse mundo, enquanto estiver nele.
Volto ao assunto depois

quinta-feira, 29 de maio de 2008

As peraltices da MMX

A MMX, apesar de ser uma empresa recente, que ainda não teve tempo suficiente para arrebentar com ecossistemas de onde se instala - como a Vale -, já tem uma boa folha corrida de peraltices.

Primeiro, o Eike Batista foi corrido da Bolívia em abril de 2006, depois de uma tentativa frustrada de implantar um empreendimento altamente poluidor naquele país. Como já estava em andamento o projeto Corumbá, de instalar um baita complexo siderúrgico no Mato Grosso do Sul, ele passou a pressões políticas e econômicas para agilizá-lo, conforme denúncias de ambientalistas de lá. http://arruda.rits.org.br/oeco/servlet/newstorm.ns.presentation.NavigationServlet?publicationCode=6&pageCode=67&textCode=21219&date=currentDate&contentType=html

No Mato Grosso, o licenciamento passou a sair num piscar de olhos, deixando todo mundo de cabelo em pé, com medo de ver o Pantanal virar uma nova Cubatão. Lá o Ministério Público está com ação civil pública contra a MMX. (www.prms.mpf.gov.br/info/not/images/20070412-01.pdf )

O outro braço da MMX, o projeto do Amapá, corre solto, porque lá naquelas lonjuras acontece de tudo, a não ser quando os índios fecham as estradas (parece que os pataxós de Carmésia andam vendo televisão). Mas se não dá problema no Amapá, de onde vai extrair uma montanha de ferro para mandar para o exterior, a forma de mandá-lo é uma verdadeira odisséia.

A MMX quer construir um porto flutuante no Pará, por onde o minério escoaria, em comboios de barcaças. Coisa de louco! O Ministério Público do Pará botou os olhos em cima e a coisa virou polêmica. "Peraí né gente, também não é assim, isto aqui não é a casa da mãe Joana não", decretou o MP paraense. http://www.portogente.com.br/texto.php?cod=15322

Aqüeduto lá, mineroduto aqui em Minas, onde a MMX vendeu quase todo o controle acionário do projeto Minas Rio, para a Anglo American.

Aqui falta o MP tomar uma medida qualquer, nem que seja obrigar a empresa a fazer um amplo esclarecimento à sociedade e não ficar comprando as terras de Conceição, Serro, Alvorada por valores milionários. Não ficar prometendo milhares de empregos para os coitados dos moradores que não têm alternativas de ocupação nessas cidades pequenas. Não ficar prometendo uns caraminguás para os prefeitos delas, sob a carapaça de desenvolvimento, que depois todo mundo verá do que se trata, mas aí já serão outros governantes.

Os índios da reserva Guarani, de Carmésia, desbloquearam a estrada, mas estão com os caminhões com os tubos do mineroduto. Ótimo, pelo menos a MMX foi obrigada a descer do pedestal, nem que por um minutinho só.

O Fórum de Desenvolvimento Sustentável tem um documento já apresentado ao MP com uma lista de irregularidades no processo de lá. Pedi uma cópia para o pessoal do Fórum. Estou aguardando.

Mas enquanto isso, sem licença, com licença, com processo na justiça, sem processo, com projeto ou não, a MMX vai caminhando tranquilamente, aqui, no Mato Grosso e no Amapá.

Um dia, quando acordarmos, teremos só essa "terra devastada"

(Eis a natureza, árida, desolada, como metáfora da condição humana):

"Terra devastada" (fragmentos)

T.S.Elliot

"Aqui água não há, mas rocha apenas
Rocha. Água nenhuma. E o arenoso caminho
O coleante caminho que sobe entre as montanhas
Que são montanhas de inaquosa rocha
Se água houvesse aqui, nos deteríamos a bebê-la
Não se pode parar ou pensar em meio às rochas
Seco o suor nos poros e os pés na areia postos
Se aqui só água houvesse em meio às rochas
Montanha morta, boca de dentes cariados que já não pode cuspir
Aqui de pé não se fica e ninguém se deita ou senta
Nem o silêncio vibra nas montanhas
Apenas o áspero e seca trovão sem chuva
Sequer a solidão floresce nas montanhas
Apenas rubras faces taciturnas que escarnecem e rosnam
A espreitar nas portas de casebres calcinados
Se água houvesse aqui
E não rocha
Se aqui houvesse rocha
Que água também fosse
E água
Uma nascente
Uma poça entre as rochas
Se ao menos um sussurro Aqui água não há, mas rocha apenas
Rocha. Água nenhuma. E o arenoso caminho
E água
Uma nascente
Uma poça entre as rochas
Não a cigarra
Ou a canora relva seca
Mas a canção das águas sobre a rocha
Onde gorjeia o tordo solitário nos pinheiros
Drip drop drip drop drop drop drop
Mas aqui água não há".

terça-feira, 27 de maio de 2008

No caminho da MMX tinha os índios

A MMX começa a enfrentar os problemas reais no território mineiro.
Se ela achava que era só chegar, jogar preços lá nas alturas, e começar a cavoucar, enganou-se.
Mesmo contando com a boa vontade do governador, que graciosamente, decretou a desapropriação de quilômetros e quilômetros de terras na região, "para fins públicos", facilitando a "negociação" com as famílias desapropriadas, melhor dizendo, expropriadas, a MMX ganhou a mídia negativamente.
Mesmo que a Globo, visando claro seu lado comercial, insista em dar a notícia sem citar quem. E olha que o "quem" é pilar básico da notícia.
No caminho do mineroduto que vai levar nosso pobre minério (pobre mesmo, porque de teor econômico bem mais baixo do que o de outras áreas de exploração tradicional) para o porto de Açú no Rio de Janeiro, tinha uns índios pataxós.
E os pataxós estão com os caminhões da empresa "sob custódia" há dois dias. Caminhões carregadados de tubos para a construção do "minhocão".
Os índios dizem que os caminhões estão passando por sua reserva em Carmésia, atrapalhando plantações, pondo em risco a vida das crianças que vão a pé para as escolas.
Não quero nem saber se os índios estão certos sobre a reserva.
Estou é achando ótimo a atitude deles. Pelo menos um segmento social peitou a poderosa multi.
E com uma repercussão internacional, basta ver os portais, porque a imprensa nacional mesmo não dá nada. E quando dá, omite o nome do santo, ou demônio, se preferirem.
Mais do que nunca está provado que a mineração não contribui grande coisa para a economia do Estado. E nem para o desenvolvimento das comunidades. Que o digam o governo mineiro e as populações atingidas como as de Itabira, Congonhas, obrigadas a conviver com poluição, restos, degradação.
Não são as "tecnologias" dessas empresas que melhoram a situação. No cômputo geral, somente as mineradoras são as beneficiadas. Estão só faturando bilhões, como a Vale, que no ano passado teve um lucro de R$ 21 bilhões.
E o Estado só faturou R$ 265 milhões com a mineração, enquanto o Rio de Janeiro ganhou R$ 7 bilhões com os royalties do petróleo.
Minas continuará devastada, porque é política desse governo atrair mais mineradoras, que oferecem, no final das contas uns níqueis de compensação, uma terra arrasada e o maior saldo de acidentes de trabalho de todas as atividades econômicas: 2.717 mortos em 2006, segundo o Sindicato dos Garimpeiros de Paracatu.
E salve os 150 índios pataxós da reserva de Carmésia, que com sua ação provocaram o maior "imbróglio". A PM disse que não lhe competia interferir, chamou a Polícia Federal, que disse aguardar a Funai, que disse estar tudo bem.
Se não fosse tão trágico, poderia ser um poema de Carlos Drumond de Andrade.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Só as avós são felizes

Não são as mães, como dizia Cazuza, que são felizes. São as avós.
Enquanto aquelas têm de se preocupar com tudo: o bebê dormiu? Comeu? Fez xixi? Fez cocô? O cocô estava verde ou marrom? Gostou do mamão? Comeu a batatinha? Cuspiu o espinafre? Vomitou a vitamina de couve com alfafa? Chorou com a vitamina de beterraba e ovo cru?, a avó só fica sabendo de alguns detalhes por telefone.
A avó vai lá visitar o bebê, olha a coisinha, ri, brinca, põe ele no chiqueirinho, no máximo dá uma papinha, ou uma mamadeira e acha graça quando ele cospe o mamão na roupa novinha.
Mas depois vai embora. Se o bebê teve febre. Se teve de ir ao hospital. Se teve cólica, vai saber só no dia seguinte, por telefone, depois de ter dormido uma boa noite de sono e ter tomado aquele café da manhã.
E por que estou falando isso, se nem sou avó?
Bem tive um domingo de avó. Fui passar o dia com minha sobrinha-neta Giovana. Aliás não sei quem inventou este raio de parentesco. Para mim é sobrinha, se é filha da sobrinha.
Brincamos muito, ri, fiz o bebê de oito meses dar risada até soluçar, cantei, deixei-a rolar na cama na tentativa de pegar brinquedinhos, engatinhando, o que ela não faz ainda.
A menina me deu uma canseira danada e depois de, inutilmente, tentar fazê-la dormir, entreguei para a mãe e fui dormir no quarto ao lado.
A pestinha acabou dormindo com a mãe, mas um soninho de meia hora e armou logo o berreiro para voltar à atividade.
Será que a menina vai andar logo? Será que ela fala antes de um ano? Será que é hiperativa? Será que vai dormir bem esta noite?
Bem essas são preocupações da mãe.
Eu sou só a tia-avó.

sábado, 24 de maio de 2008

Galinha d"angola

Leio no blog da Helena Leão (tem o link ao lado), um post sobre o dia em que ela chegou em casa, um apartamento na Zona Sul e encontrou um galo na área. Dou risada com o texto leve da Helena e com a cena.
E quando volto de Lagoa Santa, neste sábado, onde fui passar o aniversário de meu irmão, fico pensando como os bichos invadiram nossa vida e como, muitas vezes, têm prioridade sobre os humanos.
Logo na chegada a Lagoa Santa ninguém pôde colocar o carro dentro da enorme área verde da casa, porque tinha uma galinha d'angola lá. Mais de cinco mil metros e o carro poderia "espantar" a bichinha.
Xinguei indignada, falei que ia embora.
Mas ao final, a discriminação contra os humanos foi maior ainda.
Cismei de cortar um cacho de banana que já estava no ponto, mas minha cunhada não se abalou a me arrumar um facão. Desculpa vai, desculpa vem e quando eu desisti, dizendo que as bananas iam perder, "os bichos iam comer tudo", ela riu e disse: "pois as bananas são para os bichinhos mesmo, os miquinhos e passarinhos".
De vingança deixei meu irmão achar que meu retorno antes do dia previsto era porque eu havia me aborrecido.
Ele teve de me ligar pelo menos três vezes para perguntar se eu havia ido embora por causa da galinha e das bananas.
Deixa ele sofrer um pouco.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Tempo, tempo









" Há o tempo de nascer e o de morrer.
Entre os dois são o Homem e seu tempo,
o largo espaço-tempo, claro campo que vai desde o viver ao não-viver .
Há o tempo de cantar e o de sofrer e o de cantar sofrendo e o de, cantando sofrer ;
e há o tempo desse canto, que o tempo dado ao Homem é mercê.
Há o tempo de fazer e o destruir, o tempo de sorrir e o de chorar, de se manchar e de se desmanchar.
Há o tempo de abraçar e o de partir, e o de nascer no tempo de abraçar e o de morrer, no tempo de partir. "
(Renata Pallottini)

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Um ano


Algums pessoas passam por nossa vida deixando um perfume que lembraremos eternamente. Lembraremos quando tivermos de tomar uma decisão grave.
Quando formos criticar alguém ou algo.
Quando formos lidar com nossos filhos,
Com nosso irmãos,
Com nossos colegas, vizinhos, gente.
Me acontece de pensar nisso recentemente, com uma certa freqüência.
Pode ser a proximidade da data de uma partida muito sentida, muito doída.
Pode ser a saudade.
Pode ser a lição que ficou depois de todo sofrimento.
Deve ser a lição.
Gosto de pensar que pelo menos para isso - uma lição -, serve a dor que temos de enfrentar algumas vezes.
Não lição de conformismo, do tipo "antes isso do que aquilo", desculpa que nos empurramos, nós mesmos, ou outros, para justificar eventos que não queremos aceitar.
Lição de pensar, de refletir, de descobrir significados.
De redescobrir hábitos perdidos, como rezar, ir à missa e cantar olhando um telão com uma letra singela.
De ser mais tolerante. De não desistir ao primeiro tropeço. De continuar até deus sabe onde.
Essa é a lição: completa, dividida e multiplicada em outras tantas, que passou a levar meus passos, depois de um longo tempo recheado de incompreensão, revolta, culpa.
Hoje vou caminhando na certeza de sua companhia eterna ao meu lado.
Companhia, perfume, lembrança, presença.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Para além da Amazônia


Para quem crê que a Amazônia é do Brasil, visite o link abaixo e confira esta e outras fotos

http://www.bbc.co.uk/portuguese/especial/1851_amazonia/page5.shtml

China e os pandas


O terremoto da China passou pertinho deles, a 30 quilômetros.
Mas 86 ursos panda gigantes que vivem na reserva de Wolong escaparam sem nenhum ferimento.
Vi uma foto no jornal hoje, de soldados socorrendo os filhotes dos ursos, levando-os para fora da reserva e sendo alimentados, um dia depois do terremoto, dia 12. Parece que o governo chinês foi criticado ao divulgar as fotos, mas eu achei uma atitude acertada, mesmo que tenha tido um marketing implícito.
É uma foto linda, soldados carregando aqueles ursões, como se fossem mesmo bichos de pelúcia e eles comendo umas graminhas de fora de uma casa.
Os pandas, ameaçados de extinção, recebem todo o cuidado do governo chinês, que mantém, há anos, programas de proteção. Resultado positivo indica o aumento dessa população.
Pelo menos os da reserva estão salvos. Mas não se tem notícia dos mais de mil pandas que vivem em florestas bem próximas ao desastre.
A foto é um momento de ternura ante o horror que foi o terremoto, com aquela interminável seqüência de destruição e morte.
(A foto é da agência espanhola Efe)

segunda-feira, 19 de maio de 2008

China e Mianmar

Conter a emoção ao ver aquelas cenas é quase impossível.
Um minuto de silêncio em memória das vítimas do terremoto na China dá vontade de chorar. E o choro sai espontaneamente.
As imagens dos milhões de chineses em silêncio, ao meio dia e pouco, hora em que ocorreu o tremor que matou quase 50 mil e desabrigou 5 milhões, levam a gente a pensar como um povo ordeiro supera com mais facilidade qualquer tragédia.
Chineses de terno e gravata, de uniforme escolar, de macacão de fábrica, de uniformes militares ainda revirando escombros.
E em outras cenas, o socorro às vítimas. Organizado, fluído, sem atropelos, sem ninguém disputando comida ou água. As doações de todos os países sendo recebidas e encaminhadas corretamente, àqueles atingidos.
Diferente das cenas de Mianmar, onde os militares bloquearam a ajuda internacional. Onde foi possível ver, com espanto e constrangimento, os alimentos serem atirados para a multidão, como se fossem ração aos porcos.
País vizinho da Tailândia, ex-integrante do império britânico (União da Birmânia, que tinha além dos dois, também a Índia e Paquistão), é um mísero território massacrado por sucessivos governos militares, por tragédias naturais, como o último ciclone que matou mais de 10 mil pessoas.
E pior do que tudo, massacrado pela ignorância, pela corrupção da meia dúzia de mandantes.
E o povo correndo atrás dos caminhões de alimentos e referendando o governo, na mesma semana do ciclone.
As duas cenas fazem chorar. A vulnerabilidade humana não tem fronteiras.

domingo, 18 de maio de 2008

A igreja política

Há um ano retomei um hábito perdido nas diversas voltas da vida: ir à missa aos domingos, ainda que só de vez em quando. Alguns acontecimentos marcantes nos levam a essas decisões. Acontecimentos traumáticos, que com o passar do tempo descobrimos terem-se revestido de muitas lições.
Voltei à missa. Neste domingo fui com meu irmão e participamos de uma missa festiva, alegre, bastante cantada.
Ao final, o frei Agenor dá os recados e num desses, chamou um senhor para uma mensagem política.
O homem, que não ouvi o nome, é professor de alguma coisa e convidou a comunidade para apoiar um movimento que ele criou, contra a corrupção no país.
Já havia lido uma reportagem sobre ele em um jornal e fique surpresa com o espaço dado pelo padre.
Ficamos ali, ouvindo atentamente - embora o som estivesse ruim -, ou como disse a senhora ao meu lado "o homem falou com o microfone enfiado na boca", sobre o movimento.
Há um site e uma série de propostas para uma reforma política, cujo ponto mais significativo me pareceu o voto facultativo.
Ainda não entrei no site, só leio o folheto que ele distribuiu na porta.
Me impressionei com a iniciativa. Primeiro de uma pessoa lançar uma ONG para combater a corrupção e dizer basta aos desmandos. Depois, pela capacidade de mobilização. Pela coragem de ir em um espaço público-religioso, pregar cidadania.
E ainda pela disponibilidade do frei que cedeu o tempo e o espaço.
E finalmente, pela comunidade que reagiu positivamente.
Estamos todos cansados de tanta falcatrua. De sermos ludibriados com promessas e discursos inócuos.
Estamos todos tentando abandonar o eterno comodismo da pseudo-representatividade parlamentar.
Somos todos nós tentando tomar as rédeas de nossos destinos nas próprias mãos.
Aconselho todos a visitarem o site e participar dessa corrente. É gratificante colocar um graozinho de areia que seja, na reforma dessa nossa humanidade.
Visite:
www.rpj.org.br

sábado, 17 de maio de 2008

A jungle ganhou desenho bonito

Bom, pelo menos o safári serviu para eu observar como as calçadas do centro ficaram bonitas.
Os cruzamentos onde a prefeitura fez interferências como na Goitacazes, Tupis, Rio de Janeiro, colocando um calçamento colorido, elevado e alargando os passeios, deu um ar de boulevard a todas elas.
Pena que está muito sujo. Seria muito bacana passar um caminhão pipa de madrugada, jogando uma água para lavar a sujeira e mostrar as pedras limpas no dia seguinte. Ao invés daquele varre varre interminável dos garis, um caminhão, como vi em alguns lugares por aí, que varre lavando, sem gastança de água, claro, que os tempos são bicudos.
Mas aí o que fazer com os garis?
É, mercado inelástico, trabalhador desqualificado, mão-de-obra abundante, levam a essas distorções: gente para varrer rua, gente para "dirigir" o elevador, gente para catar latinha nas feiras.
Mas as ruas ficaram bonitas.
Só que os canteiros da Tupis, esquina com Rio de Janeiro, estão estranhíssimos; jardins suspensos da Babilônia que deveriam ser, estão parecendo mais com túmulos: aqueles murundus bem nos quatro pontos da esquina, altos, com um troço verde cobrindo tudo.
Será que é alguma espécie que dá flor depois?
Ou pode ser o lugar de repasto dos cavalos da PM que tem um posto por ali.
Tomara que eu queime a minha língua.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Uma excursão à jungle

Me preparo para o safári: calçado tipo papete, filtro solar fator 40, uma bolsinha minúscula, só com o necessário, na mão, afinal bichos são perigosos e adoram bolsas alheias.
Vou à jungle ver as novidades.
Me assusto com o povaréu. Passo meses e meses sem ir ao centro da cidade, por isso quando vou, parece que estou em outra cidade. Muita, muita, muita gente trombando com tudo e com todos. E uma barulheira arrasadora.
Entro numa loja na Rio de Janeiro, que tem uma caixa de som enorme na porta e luzes piscando, embora seja meio de tarde.
Tapo os ouvidos, respiro fundo e entro. Dou uma voltinha e saio e falo bem alto para o moço da caixa de som ouvir: "ninguém merece este barulho".
Creio que se o Ministério do Trabalho desse uma batida por lá, como faz nas lavouras interior afora, encontraria muita, mas muita irregularidade mesmo.
Fico pensando que raio de estratégia de vendas é essa que obriga os clientes e as pobres coitadas das vendedoras a ficar horas e horas com músicas estridentes nos ouvidos? Claro que é música eletrônica que elas gostam, mas o dia inteiro? Duvido.
Já pensou que glória você sair do burburinho da rua, ou dos corredores do shopping e entrar numa loja, ar refrigerado civilizado e ouvir "Rhapsody in blue"?
Mas não , ou é aquele tum tum tum ou o pancadão.
E a vendedora, coitada, gritando para mim: "a senhora precisa do quê?"
A senhora precisa sair correndo dali e voltar para sua casa, sossegadinha, uma musiquinha suave, pode ser Carpinters, Caetano, o novo cd do Ney, quem sabe uma tacinha de vinho e o barulhão lá fora, bem longe.
Safári? Só em último caso. Me viro com o comércio local mesmo.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Moradores de Brumadinho exconjuram Vale

Recebo uma mensagem com um endereço de um vídeo do YouTube. Me permito repoduzir, já que está na internet e é um assunto que cabe a todos nós divulgar. O texto com o link foi encaminhado pelo Gustavo Gazzinelli, mas eu recebi pela lista do Fórum Social.
Trata-se de um vídeo Chamado "Quanto vale a nossa fé?", que mostra uma tradicional comunidade de Brumadinho - São José de Brumadinho - se mobilizando contra uma barragem de rejeitos que a Vale quer implantar no local, um sítio lindo, cheio de história, tradições, de riquezas naturais e pré-históricas, como pinturas rupestres.
O povo rejeita a barragem anunciada pela Vale, para ocupar mais de 900 hectares na vertente norte da Serra do Tamanduá. O lamaçal dará vasão à lavagem da mina do Brucutu, que fica em Barão de Cocais.
O povo humilde se rebela contra a poderosa Vale, com a arma que conhece: a religiosidade.
Como ver coisa no Y-Tube nem sempre é fácil, siga a orientação do Gustavo " Se o vídeo der umas paradinhas na primeira exibição, espere terminar e repita que ele deverá fluir bem".
O vídeo tem texto de Gustavo Gazzinelli, fotos de Ivan Loyola, trilha sonora de Rodrigo Valle e é produzido pela Camarela Stúdios.

O endereço vai abaixo:

http://www.youtube.com/watch?v=tU0HH7fW2zk

E a seringueira Marina se vai

Os povos da floresta e as florestas estão órfãos.
Marina Silva se foi. Como Chico Mendes e Dorothy Stang. Mas graças a Deus que ela se foi para um palco maior.
Ao deixar o Ministério do Meio Ambiente, Marina Silva caiu para cima. Se ficou tanto tempo, foi a ministra, não a acreana do Seringal Bagaço.
É até inacreditável como ela resistiu tanto tempo à mediocridade desse governo.
Governo que aplaude usurpadores de cartões corporativos, que os elogia às lágrimas. Que aplaude autores e executores de dossiês.
Governo que não teve o mínimo de consideração pela história de vida da menina das matas acreanas, criada e calejada na luta pela sobrevivência pessoal, dos seringueiros, dos desfavorecidos, ou despossuídos como prefere a retórica governamental.
Com Marina Silva no Meio Ambiente, o Brasil viu a desaceleração do desmatamento da Amazônia, ainda que por um curto período.
Mas com sua visão míope do futuro e megalomaníaca do país, Lula fez opção pelo "desenvolvimento". Com isso estamos todos à mercê, agora, da intensificação da derrubada da Floresta Amazônica.
A preconizada savanização da Amazônia em dez anos, pode acontecer antes. Mas talvez isso não ocorra, porque tem potência mundial de olho.
Como já se fez uma guerra por petróleo, faz-se outra por ar, água e mata, fácil, fácil.
Marina Silva sai com a cabeça erguida de quem lutou bravamente, com sua figura frágil e voz curta, cansada de ser o bibelô do governo.
Cansada de emprestar seu prestígio para um governo medíocre, que se esvai em embrulhadas, tropeços, inutilidades, que não se justificam diante dos seis anos já de tentativas.
O que Lula precisa para acertar? Mais quatro anos de desgoverno?

terça-feira, 13 de maio de 2008

No meio do caminho havia uma pedra

Estou indo toda serelepe, manhã cedinho, para o serviço. Finalmente o tempo começa a esfriar e eu fico feliz, porque não há cristão que agüente aquele calorão dos infernos.
Este friozinho de manhã dá uma preguiça de sair da cama, mas quando a gente troca a roupa e coloca uma blusa de lã - alguns mais friorentos experimentam até um casaco -, ou uma bota e sai toda chique, aí vale a pena.
Tempo civilizado é isso. Nem calor de matar, nem frio de rachar.
Mas estava indo trabalhar, como dizia, e dei um tremendo tropeção em uma pedra solta sobre um passeio. "No meio do caminho havia uma pedra", associei com Drumond, imediatamente.
Dois dias depois me acontece o mesmo, em outra rua, com uma pedra solta da calçada.
E antes de lembrar do verso drumoniano novamente, pensei em processar a prefeitura por danos físicos.
Mas segui em frente filosofando: "não é qualquer pedregulho que me derruba".
E ainda bem que a minha pedra era bem real.

domingo, 11 de maio de 2008

E o trema começa a se despedir

Ao escrever o post abaixo, ri quando redigi longínqüo. Tem trema ou não tem trema, me afligi num primeiro instante. Mas foi aí que me lembrei de que li em algum lugar, dia desses, que o Ministério da Educação já autorizou a impressão de livros didáticos com as novidades da nova língua pátria ("última flor do Lácio, inculta e bela"..., segundo Bilac).
As novidades referem-se a acentos. Cai trema, acento circunflexo e outros pinduricalhos mais.
É que a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) decidiu isso há bem uns seis anos e o Brasil foi um dos signatários. Mas ninguém pôs em prática a reforma - que significa basicamente unificar a língua de Camões-, porque Portugal nunca mais se decidia.
Aí se decidiu no ano passado, mas o Brasil precisa de um decreto para regulamentar o que foi decidido (claro, de outra forma não seria o legítimo herdeiro de Portugal), mas o Lula ainda não assinou.
Mas o MEC já mandou rodar os livros, sabe como é né, vai que em 2011 - última chamada para todo mundo estar falando igual -, as editoras ainda não tenham tido tempo para igualar o lusitano.
Melhor dar mesmo tempo à burocracia, afinal somos todos lusitanos.
E só por curiosidade. Já poderia ter escrito este texto sem pelo menos 20 acentos.
Ai que saudade já estou sentindo!

sábado, 10 de maio de 2008

O e-mail bomba

Homem-bomba já está caindo de moda, a não ser em longínqüos cantos do mundo.
O instrumento devastador do momento é o e-mail. Que o diga o cara lá da Casa Civil, José Aparecido, que mandou o dossiê dos gastos do FHC para o assessor do senador Álvaro Dias e pouco tempo depois estava tudo na imprensa.
Me lembrei do episódio do Recúpero falando no estúdio da Globo que dado econômico ruim o governo escondia, achando que estava fora do ar e não estava. Foi aquele vexame e o homem, cavalheiro diplomático que era, enfiou a viola no saco e se mandou.
Pois o e-mail vem cumprindo e muito bem este papel de xereta, de indiscreto, de candinha. Não é mais a câmara indiscreta. É o computador indiscreto, fofoqueiro, boateiro.
E muita gente boa já foi pega na armadilha do falso segredo, da falsa cumplicidade.
Lembram-se da ministra Carmem Lúcia, que teve os e-mails trocados com um colega durante uma sessão do Supremo fotografados e estampados nas primeiras páginas? E ainda pôs apelido no outro ministro que dava um parecer, de não me lembro o quê.
Pois é, o big brother é a nova onda. Quanto mais bisbilhotice, mais o povo gosta. E se for de baixo nível, então, aí é a festa!

sábado, 3 de maio de 2008

Ainda a mineração e a economia

Este é o Pico do Itabirito, símbolo
da cidade, depois da MBR



O grande "benefício" que o boom da mineração vem trazendo para Minas é a especulação imobiliária que ocorre em algumas regiões, como Brumadinho, onde a MMX comprou a Minerminas, e Conceição do Mato Dentro, Serro, Alvorada de Minas, onde será efetivado o projeto Minas-Rio. E ainda Congonhas, com a expansão da CSN.
Fazendas na região do Serro e Conceição estão sendo vendidas a preço de diamante, por até 12 vezes mais do que valiam há dois anos. Há terras sendo negociadas por R$ 80 milhões, como a fazenda de Dona Lucinha (do restaurante Dona Lucinha) e Seu Marcílio.
Junto com este lucro de poucos vem o prejuízo de muitos: disparada dos aluguéis, dos preços de serviços e alimentação.
E o prejuízo das prefeituras obrigadas a fornecer serviços básicos a uma população que aumenta, que abandona campos e agricultura, a oferecer vagas em escolas para os filhos dos novos "mineradores", saúde gratuita, saneamento.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Mineração e o modelo econômico ultrapassado

Ainda a mineração me ocupa. Ouvi o secretário de Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, falar em um evento qualquer, que o ser humano ainda é basicamente extrativista. Coleta tudo que a natureza ainda lhe oferece.
Não pude deixar de me encantar com a singela, porém cruel análise.
E de pensar como o modelo econômico mineiro é arcaico e perigoso.
Vive hoje o boom da demanda aquecida das comodities, principalmente do minério de ferro, (já foi café, já foi leite), e se ilude com um falso crescimento, baseado nos bons preços internacionais do produto.
Minas Gerais continua atrelada a um modelo colonial de economia. Vive e respira os humores do mercado internacional, das metrópoles, cumprindo seu eterno papel de colônia, de satélite da economia globalizada.
A mineração cresceu mais de 400% no Estado, nos últimos anos.
São projetos e mais projetos acudindo às Minas Gerais.
Minério de ferro que até algum tempo atrás era considerado de pouco valor comercial é hoje disputado a preço de ouro pela MMX, em Conceição do Mato Dentro.
E quem ganha com isso?
Só as mineradoras.
Os impostos que ficam no Estado e nas cidades devastadas são insignificantes, tanto é que a tecla mais batida por prefeitos dessas cidades é que haja um aumento da Cfem, a compensação pela exploração de recursos minerais.
Em compensação, sem querer fazer trocadilho, as mineradoras estão cada vez mais multinacionais e multimilionárias, como a Vale, que já é a segunda maior empresa do setor, no mundo; ou a MMX, no empreendimento Minas-Rio, que antes de tirar um grão de ferro sequer em Minas, já foi vendida por uma fábula de U$ 5,5 milhões para a Anglo American.
Para o Estado e as cidades sobram apenas o passivo ambiental, a contaminação de rios, a devastação de matas e a paisagem lunar, onde antes havia serras azuis, verdes, douradas.