segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Os 300 orgasmos de Elizabeth

Minha ligação com números é algo surreal: detesto-os e os amo. Tenho mania de fazer contas com tudo.
Por isso quando li uma notícia escondidinha no jornal sobre os 300 orgasmos por dia que uma mulher da Inglaterra tem, embatuquei.
Mas como?
E fui lendo. E apesar de descobrir que se trata de uma doença (Síndrome da Excitação Permanente), não pude deixar de dar gargalhadas, que me perdoe a inglesa lá.
E logo junta aquela turminha em volta, comentando: "ela é que é feliz".
E ela antes tratava da doença, mas aí arrumou um namorado que está dando conta do recado, segundo ela. Os quatro maridos anteriores jogaram a toalha.
Saí para o dentista e fui tentando fazer contas de cabeça. Quantos orgasmos por minuto?
Voltei sem ter chegado a um resultado, porque esbarrei na dúvida: conto as 24 horas, ou desconto o horário de sono? E se ela tem orgasmos dormindo? É capaz que sim, já que ela teve de largar um emprego numa fábrica de biscoitos, porque ficava excitada vendo as máquinas, vejam só, se ainda fossem os biscoitos...
Voltei e encontrei uma turma com as respostas prontinhas: a mulher tem um orgasmo a cada 4,6 minutos, considerando as 24 horas; ou um orgasmo a cada 2,2 minutos, considerando as 12 horas do dia. E outros números mais, considerando múltiplas possibilidades, aliás o que são múltiplas possibilidades diante das 300 dela?
E já fui logo imaginando Hollywood fazendo um um filme: "Os 300 de Elizabeth".

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Muito além de Além Paraíba

Além Paraíba, na Zona da Mata mineira, é o lugar mais quente do mundo. Pensei isso assim que pus o pé na rua, descendo da van geladinha, e onde estive para trabalhar, por dois dias e meio. Calor e suor escorrendo, em poucos minutos na cidade.
Mas depois percebe-se que nem é tão quente assim, que tem quase um clima de litoral, com uma boa brisa à tarde.

Às margens do rio Paraíba do Sul, a cidade tem duas incongruências, logo à primeira olhada: está na beira do Rio de Janeiro, aonde a gente chega por uma ponte comprida e estreita, a Engenheiro Armando de Godoy, de mão dupla e que trepida que nem betoneira. Guilherme, meu colega de expedição pela cidade, quase desistiu de atravessar.
Do outro lado está Jamapará, distrito de Sapucaia, já no Rio, e onde todo mundo fala cheio de sssss.

A outra é a linha ferroviária que corta toda a cidade, bem na avenida principal e que serve de caminho para os trens da Centro-Atlântica levarem a bauxita de Miraí e região para o porto de São João, no Rio.
É estranhíssimo ver o trem passando, apitando e tocando o sino, dez vezes ao dia (cinco indo e cinco voltando), bem na beira das casas, que em muitos trechos estão a menos de dois metros da linha. Apitando para espantar os carros, bicicletas e até ônibus que estacionam ali em cima dos trilhos.
Mas essa é a beleza de Além Paraíba, que tem no patrimônio ferroviário sua referência de comunidade, de povo, de história.

Descaso e abandono
Pena que as estações estão semidestruídas, como a principal delas, bem no centro da cidade e conhecida como Torreões (Estação de Porto Novo). Exemplo da bela arquitetura pré-modernista, com muitos detalhes e amplo uso do ferro fundido.
Mas o descaso vem fazendo estragos, como o desabamento de parte da rotunda, na mesma estação, no ano passado. Aquilo ali é história pura do povo mineiro e não só da Zona da Mata, pois se trata nada mais, nada menos, do que a Estrada de Ferro Leopoldina, presença constante na literatura e música nacionais ("Samba do Crioulo Doido", Stanislaw Ponte Preta). Nessa estação há um pequeno museu com peças de trens, de cinema, fotos e muitos livros.

Hidrelétrica
Além Paraíba está agora às voltas com a construção da usina de Simplício, megaempreendimento de Furnas, que vai atingir duas cidades mineiras (Além Paraíba e Chiador) e duas do Rio de Janeiro (Sapucaia e Três Rios).
Claro que não se pode negar todo o benefício da obra de 2 bilhões de reais, mas o estrago ambiental é grande. Primeiro com a derrubada de centenas de árvores para as obras de infraestrutura; depois com a movimentação de dezenas de caminhões com terra e materiais diversos, sacudindo a cidade e empoeirandos tudo, azucrinando os mais antigos com tanta barulheira.
E Furnas está sendo acusada de não cumprir os acordos de compensação ambiental, entre eles o de restauração de Torreões e do asfalto da estrada até a usina (distrito de Simplício).

"Adeus, adeus" (debaixo d'água lá se vai a vida inteira Por cima da cachoeira...)
O Paraíba do Sul vai mudar de lugar para o enchimento da barragem. As árvores estão sumindo e as replantadas ainda vão demorar anos para crescer e dar sombra e fazer a troca de CO2.
Daí que quando eu voltar a Além Paraíba em poucos anos, talvez sinta na pele, literalmente, a piada que mais ouvi dos além-paraibanos: "aqui tem três temperaturas: quente, muito quente e excessivamente quente".