terça-feira, 31 de julho de 2007

Cansei do...

Há controvérsias, Aline.
Pode ser que sim, pode ser que não. Ainda nem estreei o AL.
O que sei, neste momento, é que realmente estou passando por uma fase de "cansei", mesmo que o "bom burguês" Cláudio Lembo diga que "cansei" é coisa de dondoca dos Jardins paulistanos. Até parece que ele é algum pobretão lá da Vila Cingapura,uma daquelas favelas que o Maluf transformou em aglomerado de aps coloridos, que até o Volpi teria inveja se visse, e que agora o Pimentel copia aqui, no aglomerado da Serra.

Fora TAM!

Juro que não acreditei, mas depois conferi em mais de um jornal e era aquilo mesmo. Estava lá. Passageiro da TAM foi retirado do vôo, por perturbação da ordem. Isto porque pediu fones de ouvido à aeromoça, ops!, comissária de bordo, e ela disse que estavam todos quebrados. Aí o cujo, como bom brasileiro, emendou uma piadinha para a ops!, comissária: "e o freio também está quebrado?" "Rancaram" o "home" do avião.
E quem tira a TAM do ar pelo crime de lesa humanidade? É, porque com mais de 300 mortes nas costas, a TAM já deveria ter sido banida há muito tempo. Pelo menos em países sérios, ela já teria "saído do ar", falida, de tanto pagar indenização.
Mas aqui é diferente. Mais de 10 anos depois do primeiro crime, aquele com o Fokker 100, em 1996, que matou 99 pessoas no ar e três em terra, ainda existe gente que não recebeu indenização. As vítimas de 1996 também tiveram tratamento diferenciado. Quem entrou na Justiça nos Estados Unidos recebeu mais e mais rápido.
Além do mais, ficam sempre várias indagações. Qual o valor justo da indenização ? Como fica o futuro de um filho menor de idade, depois que foi-lhe tirado um pai ou uma mãe? Existe compensação financeira pela dor da perda de um ente querido?
Que isso sirva de exemplo para as famílias do crime com o Airbus A300, que matou 186 no ar e mais um tanto, até agora ignorado, no chão.
Por isso, precisamos sim nos unir, nas várias campanhas que expressam a indignação dos brasileiros, sejam paulistas dos Jardins ou estudantes do Piauí.
A minha campanha, neste momento: Fora TAM! Cansei da TAM!
NÃO VIAJE DE AVIÃO DIA 18 DE AGOSTO. Já pensou todos os aeroportos brasileiros às moscas, neste dia?
Ah,glória!

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Cansei

Vou participar ativamente da campanha da OAB paulista "Cansei".
Enquanto a deles estiver sendo veículada com peças em outdoors e filmes de tv, as primeiras inserções com o "Cansei de caos aéreo"; "Cansei de bala perdida"; "Cansei de corrupção", minha campanha terá uma lista própria.
Minha lista será (por enquanto):
"Cansei da parlapatice do Lula"
"Cansei das frases inconseqüentes das autoridades"
"Cansei do deslumbramento da corte"
"Cansei da TAM"
"Cansei das mortes de idosos por infecção hospitalar


Junte-se a nós (brasileiros),faça sua lista e vamos enviá-las todas, para todo mundo. Vamos fazer nossa campanha, com os instrumentos de que dispomos. Quem sabe alguma coisa muda?

sexta-feira, 27 de julho de 2007

"Chega de realidades, queremos uma promessa, um sonho, uma novidade!"

Com esta frase pichada nos muros da Cidade do México, o jornalista Ilson Lima encerra um artigo que fez sobre as demissões no Diário da Tarde.
Por concordar inteiramente com ele, por ter trabalhado mais de cinco anos na redação da rua Goiás, por ter vivido bons momentos profissionais e pessoais no DT, reproduzo o texto do Ilson, compartilhando com ele e com os jornalistas demitidos, toda a indignação com as políticas do "Deus Mercado".

*"Nada substitui o lucro"**
Solidarizar-me com os jornalistas, ilustradores e diagramadores do Diário da Tarde é muito pouco nesta hora de demissão em massa, sempre uma triste hora para nós trabalhadores. Nestas horas, e ainda assim, às vezes é preciso radicalizar nos conceitos e nada como reproduzir essa máxima da TAM, que sem nenhuma hipocrisia (diga-se), é o signo do que para eles seja o Deus que rege o mercado.
No jogo jogado dessa lógica mercadológica, a pessoa somente importa enquanto colocar sua força de trabalho e talento à disposição do capital, do lucro das empresas, e só tem futuro se se enquadrar no sistema caduco que querem manter às nossas custas. O resto é trololó de empresário, cuja responsabilidade social só existe para amenizar o quadro de misérias e mazelas do nosso país, mantido pelos "130 mil milionários (0,7% da população brasileira)", segundo dados da The Boston Consulting Group.
Enquadrado nessa forca, o jornalismo brasileiro vive sua mais recente crise, agora globalizada, e moldou-se à idiotice mercadológica, como se seu produto fosse sabão na prateleira. Hoje, um punhado de poucas famílias - Frias, Marinho, Civita, Saad, Associados e Companhia -, auxiliadas por seus managers, gestores de negócios e negociatas, mandam na comunicação do país. Jornalismo mesmo, aquele que polemiza,
que mostra a sua face educativa, científica, que mostra as diversas "verdades", e que por isso pode até ser revolucionário, foi pras cucuias há muito tempo. E o que é pior: sob a conivência do governo Lula, que, por medo, como um súcubo, se verga àquilo que a mídia conservadora e golpista (Globo à frente) quer, mesmo sendo vítima do antijornalismo e do partidarismo desses veículos.

Quem teve acesso ao Diário da Tarde do final da década de 80 e início de 90, mesmo já sob as cíclicas crises com as quais convivíamos, conheceu um pouco do que restou do jornalismo mineiro. O jornal ainda não tinha perdido (ou vendido) a sua alma, não tinha virado esse negócio/negociata que é hoje (Aécio Neves que o diga).

Nessa época, com a popularidade que tinha com o público belo-horizontino, o velho DT era esperado com suas manchetes inovadoras de primeira página e suas reportagens policiais. Uma das mais espetaculares que me lembro agora foi com a privatização da
Açominas na década de 90. Em letras garrafais, o Márcio lascou lá: "É Pau, é Pedra....É Aço!", com direito a abertura de fotos e tudo.
Sensacional!. Houve confronto entre militantes do movimento sindical e
a PM. Voaram paus e pedras em direção aos policiais, muitas prisões e tudo mais. Enfim, galera do DT, agora como eu também no olho da rua, não tem chororô com o Deus Mercado. Enquanto eles manipulam seus negócios e negociatas, nós sonhamos em fazer jornalismo inspirados no velho Pasquim, cujos mentores diziam que jornalismo é investigativo, o resto é negócio, e nos grandes jornalistas brasileiros. Para terminar, veio à cabeça uma frase na contramão daquela lá em cima da TAM...TAM...TAM:
"Chega de realidades, queremos uma promessa, um sonho, uma novidade!", uma pichação atribuída à juventude da Cidade do México.

Muita fé e alegria nesta hora de dor,
Ilson Lima


*Primeiro dos sete mandamentos da TAM, reproduzido do site
institucional da empresa

quinta-feira, 26 de julho de 2007

A suspeita calmaria do PAN

O PAN quase chegando ao final, ficam algumas reflexões: como se conseguiu a calmaria de Finlândia no Rio, cidade acuada diariamente pela guerra civil,antes dos jogos?
Amigo meu, que mora na Lagoa Rodrigo de Freitas, disse que dá para sair à noite até pelado que não acontece nada.
Uma atleta idiota duma rocinha (sem trocadilhos) lá da Califórnia - que escreveu horrores sobre o Rio (depois quando eu falei,na postagem "Overdose de PAN", que os gringos ainda acreditam que cobras e jacarés passeiam em Copacabana, houve gente que achou que era piada)-, disse que a segurança estava boa porque havia agentes do FBI à paisana pra tudo quanto é lado.
Mas eu tenho minha própria teoria: acho que teve "autoridade" negociando uma trégua com o crime organizado. E por aí se vê que a violência no Rio é uma questão de oportunidade sazonal.
E mais: como eu não vi a vaia ao Lula - ou molusco-mor, como disse o Paulo Emílio -, na abertura dos jogos, daria tudo para ver a vaia no encerramento.
Mas Sua Majestade, que não é boba nem nada, vai sumir estrategicamente.
E viva o PAN!

quarta-feira, 25 de julho de 2007

A epidemia de infecção hospitalar (3)

Hoje peço licença ao meu amigo Trotta, jornalista lá de Itajubá, para publicar aqui um texto dele. Trotta havia feito um comentário no primeiro artigo da infecção hospitalar, relatando os problemas ocorridos com sua mãe, que também se foi, como a minha mãe, a mãe da Luciene, a avó do Jader, presa a um leito de hospital. Com intenso lirismo e emoção, ele repudia a morte artificial dos aprelhos da medicina moderna. Após o texto dele, posto mais alguns comentários, que incluem também um trecho de um artigo de uma médica do Ministério da Saúde. Leiam até o final, porque vale a pena compartilharmos nossos sentimentos

REFLEXÔES DO DIA A DIA
Antonio Trotta – Jornalista
marketingsempena@itajuba.com.br

“Depois de eu me morrer, morro-me”

Morre-se de muitas maneiras e não quero a dor quando ela chegar. Já me basta a morte como parceira, como companheira discreta e certeira. Que a tristeza seja entregue à partida, aos momentos finais e não à dor voraz, insana e desmedida. No momento derradeiro, que meu ultimo grito não seja doído ou de sofrimento, mas de adeus, de até breve, de abraço na plataforma do próximo trem, com destino certo.
Seria demais morrer sorrindo, gargalhando, achando graça em tudo, na vida e nos que ficam?
Hospitais me deprimem; seus quartos, leitos e atendimentos não me dão a paz necessária para me remeter à paz infinita, definitiva! Tudo é muito artificial, anormal, cheio de procedimentos frios e burocráticos para enfrentar, com naturalidade, a morte. Seu silêncio não me faz bem; é imposto, carregado de obrigações e desconforto.
Não! Não quero acabar meus dias nas mãos de pessoas estranhas à minha vida e, evidentemente, à minha morte. Quero poder partilhar o pouco do sopro que me resta com quem sempre viveu ao meu lado. Quero, em vida, o meu direito a uma morte tranqüila. Se pudesse escolhê-la, obviamente, desejaria a mais repousante de todas, uma morte morrida, a mais natural possível. Não sei do que vou morrer, mas que eu esteja ao lado de quem sempre me amou em vida!
Não quero uma morte agônica. Que o fio de vida que me resta não seja sustentado por aparelhos, tubos e remédios - bombas que me arrebentam por dentro, sem a minha permissão. Não quero nada contra a minha vontade de viver ou simplesmente de morrer. Que a minha vida tenha uma boa morte e que os anjos me guardem do sofrimento, da humilhação, da dor e me libertem de súbito com suas asas. Quero poder voar e alcançar alturas jamais atingidas na quase-morte. No último sopro, que o vento me arrebate e me lance às torrentes, misturando-me com todas as partículas.
De morte natural, viver na natureza. Não mais existir junto a ela, mas ser totalmente parte dela, naturalmente. Da vida, viver a vida. Na morte, simplesmente morrer.
Viver é uma lição: muito se pode levar, muito se pode deixar. Muito se aprende e se ensina na vida e quando ela faltar. Que o último suspiro seja sereno, se possível com certo ar de quem já vislumbra o outro lado, a chegada, sem, ao menos, ter deixado de vez a partida. Que seja uma morte sem dor, mas repleta de saudades. Quero partir com a certeza de que tenho a eternidade toda pela frente.
Mas, antes que ela chegue, sabe lá como, quero continuar vivendo bravamente e amando apaixonadamente, acima de tudo, a vida e tudo o que ela contém.
Entre vida e morte, luto!


Nesta terceira incursão sobre a infecção hospitalar, me aventurei no site da Anvisa para buscar informações. Queria dados, estatísticas nos estados, trabalhos das comissões, etc. Não encontrei. Solicitei, por meio do “Fale conosco”, estes dados. Tenho esperança que me respondam.
Pesquisando o assunto, encontrei um artigo da médica Glória Maria Andrade, coordenadora do Programa Nacional de Controle de Infecção Hospitalar.
No período de calvário de minha mãe na UTI, uma das cenas mais angustiantes era a informação diária de que “hoje foi ligado tal aparelho; ontem foi entubada, amanhã será ‘traqueostomizada’, depois ligada ao aparelho de hemodiálise...”
E como o hospital onde ela estava internada mantém um programa para os familiares, de acesso quase irrestrito à UTI, diariamente a víamos, ali, atada ao leito, numa cena dantesca de aparelhos. Já não era ela mais.
Sobre isto, transcrevo aqui um trecho do artigo da médica Glória Maria:
Convivemos com o avanço tecnológico no nosso dia a dia nos hospitais. Novas descobertas surgem a todos os momentos. A medicina robótica já substitui a mão do homem no campo cirúrgico. Os monitores com seu festival de luzes e botões se interpõem entre o profissional de saúde e o doente. Foi-se o tempo em que o paciente podia contemplar a face do seu médico e segurar com confiança na mão do seu enfermeiro de cabeceira. Perde-se no tempo o olhar de esperança que o paciente busca naqueles que lhe aplicam os tratamentos. Cada vez mais a máquina vem assumindo estas funções.
Paga-se alto preço nas unidades de tratamento intensivo por se prolongar a vida dos pacientes.
O aumento das taxas de infecção hospitalar nestas circunstâncias é um sinalizador que a melhoria da qualidade de vida nem sempre é uma verdade. Os procedimentos invasivos, muitas vezes desordenados, se transformam em mais uma agressão ao templo sagrado do corpo. Necessário se faz que reflitamos ao se colocar a tecnologia ao nosso serviço.
Fazê-la correr paralelamente conosco não permitindo que o computador engesse nosso raciocínio e nossas ações quando se trata de oferecer cuidados aos nossos pacientes.
Que possamos usufruir do maravilhoso Mundo Novo Tecnológico com parcimônia, sem nos esquecermos que a máquina não transmite o calor humano, não oferece o olhar de esperança”.

terça-feira, 24 de julho de 2007

A epidemia de infecção hospitalar (2)

De novo, a “coincidência macabra”. Um dia depois que postei o texto sobre a epidemia de infecção hospitalar, prometendo voltar ao tema, o Hospital das Clínicas da Unicamp, de Campinas, anunciou hoje (24), a suspensão temporária de novas internações e cirurgias naquele estabelecimento.
A medida, que mostra alguma responsabilidade dos dirigentes, visa exatamente evitar um “surto” de infecção hospitalar, depois da contaminação de 12 pacientes internados em uma ala do hospital. O HC de Campinas detectou a presença de uma bactéria, a enterococcus faecium, resistente a antibióticos.
Além da suspensão de novas internações e de novas cirurgias, o HC está esterilizando todos os leitos do hospital, restringindo o fluxo de pacientes no pronto-socorro e trabalhando o problema com um comitê criado exclusivamente para este fim.
Louvável atitude que deveria ser seguida pelos hospitais Brasil afora, que desde a década de 80 são obrigados, pela Anvisa, a manter uma comissão de controle de infecção hospitalar. Todos a criam, mas poucos a mantêm funcionando, contrariando as resoluções da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que determinam ainda que os hospitais relatem seus casos de infecção.
Pesquisa do IDEC (Instituto de Defesa do Consumidor) de São Paulo, pretendeu levantar a situação em cada Estado, mas apenas três ou quatro responderam, por meio de suas secretarias de Saúde, à pesquisa. Por isso não sabemos quantas pessoas, quase sempre idosos, morrem por infecção hospitalar, por ano, por mês, em qualquer período, em qualquer parte do País.
A comoção que tomou conta do Brasil, na morte de Tancredo Neves, infectado no Hospital de Base de Brasília, originou todo um posicionamento dos órgãos de saúde do País, à época, mas agora é só uma página esquecida da nossa história.
Melhor é fazer como nos recomendou um primo, médico antigo da área de saúde pública: “melhor é ficar longe dos hospitais. Eles têm lá umas bactérias que não conseguem exterminar de jeito nenhum”.
Volto ao tema.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

A epidemia de infecção hospitalar (1)

Ontem, 22, foi o segundo mês de ausência de minha mãe. Ela se foi depois de 29 dias no hospital, 22 dos quais, de sofrimento na câmara de tortura da UTI de um hospital. Entrou rindo, andando para ver que dor nas costas era aquela que sentia e não saiu mais. Foi tanto exame, sem nada a ver com a dor nas costas, que acabou pegando uma infecção hospitalar.
Ontem, 22, foi o sétimo dia de ausência da mãe de minha colega, também jornalista, Luciene Ferreira. Ela se foi depois de 40 dias no hospital, três dos quais na câmara de tortura da UTI de um hospital. Entrou rindo, conversando, para fazer uma cirurgia, estava com alta marcada e não saiu mais, depois de pegar uma infecção hospitalar.
Ontem, 22, foi o primeiro mês da ausência da avó do Jader, colega meu também jornalista. Ela se foi depois de oito dias na câmara de tortura da UTI de um hospital. Entrou rindo, conversando para operar de uma fratura e não saiu mais, depois de contrair uma infecção hospitalar.
Poderia escrever pelo menos mais cinco parágrafos com a mesma introdução, com pequenas variações na data. Mas não vem ao caso.
O que vem ao caso é o fato de a infecção hospitalar, que já é caso de saúde pública, estar virando epidemia. E silenciosa, porque os hospitais não divulgam seus números, apesar de resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que exige isto. Não se pode esquecer que infecção hospitalar é qualquer infecção adquirida após a admissão do paciente em um hospital.O assunto tem sido tratado em teses de mestrado e doutorado, onde se constata que a doença é responsável por alta incidência de óbitos em populações idosas. À luz da defesa do consumidor, o Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC) de São Paulo, tem em seu site, um levantamento de toda a legislação que regula, pune responsáveis e protege o consumidor. E tem até uma página para que os visitantes relatem seus casos.
Ontem fez dois meses. Dia 15 de abril minha mãe fez 90 anos. Dia 15 de maio, apenas um mês depois, estava na UTI, numa macabra coincidência de datas. Dia 15 de maio é o Dia do Controle da Infecção Hospitalar, data cada vez menos lembrada nos hospitais.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

A tragédia é só uma reportagem de TV

Não me aventurei a escrever nada sobre a tragédia com o avião da TAM, num primeiro momento. Foi pavoroso demais. Fiquei só grudada na TV, grande parte da noite, a partir das primeiras notícias. E vendo e ouvindo e vendo e ouvindo e comparando o que cada emissora mostrava.
E me descobri chocada por, no meio de tanto fogo, tanto assombro, estar analisando a cobertura das TVs. A Globo tomou um rombo, no primeiro dia. A Band mostrou a opção certa, de acompanhar tudo, ao vivo, mesmo que com certo despreparo, até compreensível para a cobertura de grandes tragédias, ou com certo exagero. Pior ainda a RedeTV, com aquele locutor estilo Zé do Caixão. Pior dos piores, o SBT que ignorou a dimensão do acidente e continuou a exibir uma xaropada atrás da outra, com destaque para o Ratinho.
Então matutei que até a tragédia, especificamente esta, tem infinitos ângulos, como todo fato. O ângulo dos especialistas em aviação; dos especialistas em meteorologia; dos especialistas em segurança aérea, dos especialistas em se tornar invisíveis, no momento que deveriam estar mais presentes; dos especialistas em tudo, como os jornalistas.
E minha primeira reação foi a de especialista em jornalismo. Por isso me choquei.
Talvez a repetição de tragédias esteja nos tornando frios, como a sucessão de escândalos nos tornou indiferentes.
Mas pior do que tudo é o dia seguinte, com a exploração da dor. Impossível não ter um embrulho no estômago com a sucessão de familiares desesperando-se, só porque a Globo tem de penitenciar-se de haver exibido uma edição quase toda do JN, na terça-feira do crime anunciado, deleitando-se com o Pan, com aquele ufanismo insuportável de galvões.
E nada melhor do que colocar sua estrela maior do jornalismo direto de São Paulo, ao lado do aeroporto de Congonhas para dar “informações exclusivas”.
Mas neste momento também já me penitenciei e nem quero saber quem informa melhor ou pior. Quero apenas, como todos os brasileiros, que não continuemos nas mãos do destino, do imponderável, ao entrarmos num avião, sob o temor do "quando será o próximo crime anunciado".

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Passa Tempo entra na modernidade

Passa Tempo é uma cidadezinha no Centro-Oeste mineiro que guarda grande parte de minhas boas recordações de infância. Ainda hoje, quando ouço galos e galinhas cacarejando, minha lembrança é do imenso quintal da casa de Tia São.
Do corre-corre de domingo, atrás dos frangos que seriam abatidos para o almoço. Tia São com uma peneira cheia de milho e solfejando um “pru-pru-pru” “ti-ti-ti”, “pru-pru-pru”, o jeito de chamar as galinhas, que na verdade só acudiam ao seu redor, por causa da fartura de grãos atirados para todo lado.
Fiquei assustada quando numa das vezes que voltei lá, em um feriado, o frango já não era mais o do quintal, mas um congelado, comprado no supermercado local. A surpresa foi dupla: o frango congelado e o supermercado. Pensei: “definitivamente a modernidade chegou a Passa Tempo”. Mas isto foi há pelo menos 12 anos.
Comprovação maior da modernidade foi a criação da Casa da Cultura de Passa Tempo, que visitei recentemente. A casa da Dona Alzira, avó das minhas primas, foi adquirida pela Prefeitura e transformada em centro de cultura, com uma pequena biblioteca e exposições de objetos antigos, desde fotos, jóias, perfumes, cosméticos, roupas, bolsas, até quadros, ferramentas e máquinas diversas.
Fiquei encantada. Objetos e mais objetos da Fazenda Campo Grande, que foi da família de Bolivar de Andrade (aquele mesmo que deu nome ao parque de exposições da Gameleira). Até artefatos de tempos dos escravos. Tudo espalhado caprichosamente e identificado, nos vários cômodos da casa de Dona Alzira.
E, supra-sumo da cultura passatempense: uma sala só de ufologia. Vídeos, recortes de jornais e revistas, quadros, fotos. Afinal, Passa Tempo foi pólo de ufologistas, graças às pesquisas de Antônio Faleiro, o Niginho, respeitado pesquisador do tema, reconhecido internacionalmente.

sábado, 14 de julho de 2007

Overdose de Pan

O Pan ainda nem bem começou e eu já estou com overdose de transmissão. Não agüento mais ver e ouvir o Galvão berrando, ufanista. Não agüento mais o JN entrevistando eles mesmos (ex-atletas, posando de comentaristas).
Mas e se o Brasil consegue mais medalhas do que os Estados Unidos, dessa vez, heim, heim? Ou se passa o Canadá? Ou Cuba?
Começo a delirar. Efeitos da over.
Mas que a abertura foi o máximo, lá isso foi. Tirando o porre do desfile das delegações (ô trem chato e antigo!), o show preparado pela carnavalesca lá, que não sei o nome, porque não me ligo mais em carnaval do Rio, foi de encher os olhos. Uma beleza de cores, de sons, de luzes.
Mas odiei aquele aligator gigante, abrindo aquela bocarra. Aliás, detesto tanto jacarés e afins, que quando estava no colégio, arranquei uma página de um livro de Geografia, para não ver o jacarezão que a ocupava inteira – desperdício! (de espaço, não de arrancar).
E odiei também aquela cobrona, anaconda, horror de nossos piores pesadelos. Aquilo não é bicho que representa o Brasil. Bichos brasileiros são as araras, os tuiuiús, os tucanos (os verdadeiros), os micos. Que me importa se tem jacaré no Pantanal e cobrona na Amazônia? Eu nunca fui ao Pantanal mesmo!
Mas o Vila Lobos estava divino. A coreografia de Débora Colker, primorosa; e os fogos de artifício, que eu adoro, imperdíveis. Me emocionei na cena da Adriana Calcanhoto cantando “Acalanto”, naquela cadeira enorme, fragilidade e doçura, suavidade e ternura de voz pseudo-acanhada. Chorei porque cantei “boi da cara preta” pra minha mãe na UTI, antes de ela partir, em maio. Mas isto é outra história.
Mas o Chico César, pequenino, naquele espaço imenso, cantando pela paz e enfiando uns passos de frevo, ainda que paraibano, deu uma saudade do Recife. E o Cordel do Fogo Encantado, ainda Recife e Olinda, um pouco Alceu Valença, meio Chico Sience - que se foi num carnaval-, e aquela alegria nordestina, foi de balançar o coração. Matar de saudade de um tempo bom vivido em outros carnavais.
Brasil não é jacaré nem cobra, como pensam os gringos que achavam que estes bichos eram encontrados em plena Copacabana. Brasil é mais esta alegria de passos trocados ao som de instrumentos impossíveis.
E nem importa se vamos ganhar 200 medalhas. Importa é o que vamos nos divertir com tudo isso.
E viva o Pan do Brasil!

sexta-feira, 13 de julho de 2007

A volta do mar de lama


Quando Carlos Lacerda cunhou a expressão “mar de lama”, para definir a corrupção no governo de Getúlio Vargas, especialmente o financiamento pelo Banco do Brasil, do Jornal Última Hora, com certeza não tinha idéia de que um dia ela seria literalmente empregada na realidade brasileira.
E foi, recentemente. Em 2006, em março, e em janeiro de 2007. Nesta última data, as cidades de Mirai e Muriaé, na Zona da Mata mineira, foram tomadas, especialmente a primeira, pelo mar de lama que escorreu da barragem estourada da mina Rio Pomba-Cataguases.
Foi uma cena de fim de mundo. Os campos, pastagens, bichos, gado, casas, ruas, tudo coberto pela lama da lavagem da bauxita. A lama navegou atingindo os rios Fubá e Muriaé, chegando a municípios do Rio de Janeiro. O desastre ambiental, digno de um filme de Spielberg, atingiu mais de seis mil moradores, 1.200 casas e interrompeu o fornecimento de água para mais de 100 mil habitantes só no Rio.
Pois bem, passados seis meses, a mineradora consegue a façanha de ter deferida, pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente (Copam), a Licença de Instalação (LI) de nova barragem, a do Bom Jardim. Contra os votos da Fundação Estadual do Meio Ambiente, que, na época do desastre queria até mesmo que a mineradora encerrasse suas atividades.
Essa nova barragem fica pouco acima daquela que rompeu em janeiro (São Francisco), também no Rio Mirai, e segundo a Feam, o local é potencialmente de risco. E a gente nem sabe se a empresa cumpriu aqueles compromissos todos com o Ministério Público, ou se pagou a multa imposta pelos órgãos ambientais mineiros, porque depois que passa o tempo, tudo é esquecido e não se fala mais nisso, até que um desastre maior se sobreponha.
O mais interessante disso tudo, é que a “grande” imprensa mineira não noticiou nada sobre a concessão da licença, efetivada no finalzinho de junho. Só um jornal de São Paulo e o MG TV.
A perspectiva de uma nova bomba-relógio sobre a população da Zona da Mata e da bacia do Rio Paraíba do Sul deve estar fazendo revirar no túmulo o grande compositor Ataulfo Alves (“laranja madura, na beira da estrada, tá bichada Zé, ou tem marimbondo no pé”), que escreveu uma das mais singelas homenagens a uma terra natal – “Meu pequeno Mirai” -
“Eu daria tudo que eu tivesse/ Pra voltar aos dias de criança/ Eu não sei pra que a gente cresce/ Se não sai da gente essa lembrança/ Aos domingos missa na matriz/ Da cidadezinha onde eu nasci/ Ai, meu Deus eu era tão feliz/ No meu pequeno Mirai/ Que saudade da professorinha / Que me ensinou o bê a bá/ Onde andará Mariazinha
Meu primeiro amor onde andará? / Eu igual a toda meninada / Quanta travessura que eu fazia/ Jogo de botões sobre a calçada / Eu era feliz e não sabia/ Eu era feliz e não sabia”.
Agora é esperar e torcer para “não ver”.

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Manifesto da Associação dos Moradores do Santa Tereza

Para quem está acompanhando a novela do Mercado de Santa Tereza, aí vai o link do manifesto da Associação dos Moradores, tendo à frente o Yé Borges. Vale a pena entrar e dar seu apoio. Se não conseguir acessar pelo link abaixo, transcreva-o para a barra de endereços.
http://www.guiasantatereza.com.br/htms/maercado.htm

E nasce o Parque da Serra de Ouro Branco

Caí de amores pela Cadeia do Espinhaço. Foi só a MMX dos Batista, pai e filho, anunciar a intenção de esburacar aquilo tudo, lá pelos lados de Conceição do Mato Dentro, Serro e Alvorada de Minas, para eu virar defensora de carteirinha da serrona. Ainda mais depois que fiquei sabendo que toda a cadeia já é Reserva Natural da Biosfera, devidamente certificada pela Unesco.
Por isso assinei uma lista de adesão à criação do Parque Estadual da Serra de Ouro Branco, ou Serra do Deus te livre, como informam os registros históricos, que ainda dão conta da passagem por lá dos naturalistas Saint-Hilaire e Von Martius.
O parque é um grande movimento da comunidade de Ouro Branco e mais tímido da comunidade de Ouro Preto. Seus quase 15 mil hectares estão praticamente em Ouro Branco e só 5% em Vila Rica. E o trem é antigo. Começou lá em 2003 e foi só ganhando corpo, antes que a serra o perdesse, o corpo, inteiramente, por causa da pecuária extensiva e da exploração mineral clandestina (pedra-sabão, bauxita, ouro, topázio imperial).
Estudo técnico da consultoria ambiental Terra Brasílis mostrou que a serra guarda 800 espécies vegetais e num sei quantas espécies de pererecas (a mulher do sapo), tudo muito mais do que na Serra do Cipó, que era considerada até então a reserva mais rica.
A Serra do Ouro Branco já é tombada pelo Patrimônio Histórico de Minas Gerais desde 1976e conta com lugares incríveis como um mirante lá no alto, de onde se avistam as cidades de Ouro Branco, Conselheiro Lafaiete e Congonhas; muitas trilhas, além de cachoeiras.
Do lado histórico, a serra é mais rica ainda. Fica lá, parte da antiga Estrada Real onde se encontram ainda pontes e ruínas dos séculos XVIII e XIX.
Mas o que isto tem a ver com minha defesa do Espinhaço?
É que o marco zero, o princípio, o início, o primórdio, a gênese da cadeia está ali mesmo, em Ouro Branco, nesta Serra do mesmo nome, que tem um paredão abrupto de 1.568m de altitude, de fazer cair o queixo de qualquer bandeirante e português que o tenham visto, na colônia. De Ouro Branco, o Espinhaço embrenha-se norte acima, até chegar na Bahia, trecho este todo protegido pela Unesco.
Protegido pela Unesco, mas não pelas comunidades que ainda não se deram conta da importância da preservação. E não pelas mineradoras que nem tanto dinheiro assim deixam para Minas Gerais, basta ver o que elas representam no PIB mineiro. (Recomendo os relatórios da Secretaria da Fazenda e da Federação das Industrias de Minas Gerais, facilmente encontrados em seus sites).
Por isso começo minha campanha pela criação do Parque da Serra de Ouro Branco, como já fiz campanha pela criação do Parque do Pico do Itambé (também na região do Serro, mas com maior área em Santo Antônio do Itambé), lá pelos idos de 1996 ou 1997. Além do mais, a cidade tem uma das melhores festas de Minas Gerais, o Festival da Batata, de 11 a 15 de outubro
E quem sabe das coisas desse novo parque é a turma dos Guardiões da Serra de Ouro Branco, que pode ser contatada pelo e-mail: projeto.co-criar@oi.com.br.
Criar, cuidar, proteger e fiscalizar parques é muito bom. E se todos se conscientizassem disso, não precisaríamos ficar fazendo “Live Erth” pelo mundo afora, para gritar que estamos mais perto do colapso total do que imaginamos.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Viva a ressurreição do Mercado de Santa Tereza

Bem que se diz que a justiça divina tarda, mas não falha. E no caso do Mercado Distrital de Santa Tereza não foi nem a justiça divina, foi a daqui mesmo. Aquela mesma sempre acusada de morosa. Pois dessa vez foi rapidíssima.
Nem bem havia assentado a poeira da truculenta desocupação do mercado pela prefeitura de Beagá e uma liminar dos permissionários foi deferida favoravelmente pela Justiça. E fez-se a justiça com os comerciantes remanescentes, com os freqüentadores, com os moradores do bairro Santa Tereza. Com os moradores de Belo Horizonte. Agora é esperar o julgamento do mérito.
Enquanto isto, o projeto de lei que tomba os dois mercados distritais – Santa Tereza e Cruzeiro – como patrimônios do Estado foi aprovado na Comissão de Meio Ambiente da Assembléia. Só falta a votação em Plenário para virar lei. Apesar de não garantir o tombamento do espaço físico dos dois locais, torna-os patrimônio de toda a população mineira.
Daí que fazer qualquer alteração depois, por este ou aquele prefeito malucão, será bem mais complicado, porque os dois mercados estarão sob a vigilância de toda a população mineira.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

As 20 Maravilhas do Mundo

E para acabar de vez com esta polêmica sobre as 7 Maravilhas do Mundo, por que não aumentá-las de 7 para 10 ou 20? Assim todo mundo ficaria contemplado. E os franceses não precisariam chorar pela ausência da Torre Eiffel. Os espanhóis não precisariam atacar o Cristo Redentor porque o Allambra não entrou. E nem os alemães precisariam ficar naquela olímpica indiferença, dizendo que o resto do mundo não tem refinamento, só porque o castelo Neuschwanstein também ficou de fora.
Engraçado que a escolha das novas sete maravilhas recebeu a crítica de todo mundo: desde a Unesco, até cientistas, arqueólogos, artistas, arquitetos, jornalistas. Todo mundo criticou a forma de escolha, a votação pela internet e pelo celular, tudo pago. Nisso têm razão; quem fez mais campanha, levou.
Pela escolha cibernética, as novas maravilhas do mundo são: o Cristo Redentor, do Brasil; a Grande Muralha da China; a cidade de Petra, na Jordânia; Machu Picchu, no Peru; a Pirâmide Chichén Itzá, no México; o Coliseu, em Roma; e o Taj Mahal, na Índia.
Mas as tradicionais maravilhas do mundo antigo - Pirâmides de Gizé, os Jardins Suspensos da Babilônia, a Estátua de Zeus, o Templo de Artemis, o Mausoléu de Helicarnassus, o Colosso de Rodes e o Farol de Alexandria -, estas escolhidas pelo sábio bizantino Fílon no século III a.C., continuam no nosso coração, pois é coisa que a gente aprendeu na escola primária e não esquece mais, apesar de estarem de pé somente as pirâmides.
E para que ninguém mais tenha dúvida de que a escolha foi só uma jogada de marketing, inventada pelo canadense Bernard Weber, que muita gente considera um bom “picareta”, a Unesco meteu o pau no concurso, afirmando que o “O New7Wonders é mais direcionado para motivos comerciais do que para conservação de um patrimônio”.
Mas eu acho louvável um dos objetivos do concurso, que após três anos, nem sei se ainda permanece: a destinação de parte dos recursos arrecadados para a restauração dos “budas de Bamiyan”, no Afeganistão, destruídos em 2001, pelos mentecaptos dos Talibãs.
Para que todo mundo ficasse satisfeito, torno a defender o aumento de sete para 10, ou 20 maravilhas, como a lista inicial do tal concurso, que tinha 77 monumentos, depois 21: Acrópolis, Grécia; Alhambra, Espanha; Castelo Neuschwanstein, Alemanha; Coliseu, Itália; Cristo Redentor, Brasil; Estátua da Liberdade, EUA; Estátuas da Ilha de Páscoa, Chile; Grande Muralha, China; Igreja de Santa Sofia, Turquia; Kremlin, Rússia; Machu Pichu, Peru; Ópera de Sydney, Austrália; Palácio de Petra, Jordânia; Stonehenge, Grã-Bretanha; Taj Mahal, Índia; Templo de Angkor, Camboja; Templo de Kiyomizu, Japão; Templo Maia, México; Torre Eiffel, França; Timbuktu, Mali.
Pelo menos, o mundo todo ficaria ligado nestes monumentos e se interessaria por sua preservação, não deixando que presentes ou futuros "alucinados dirigentes” os destruíssem.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Adeus Mercado de Santa Tereza


Oldack Esteves, chargista do Estado de Minas durante anos a fio, costumava contar, entre uma gargalhada e outra, que neste Estado montanhês tudo era tão sério, tão sisudo, que a primeira vez que saiu um trio elétrico na rua, a polícia foi atrás “cobrindo o cacete no pessoal”.
Me lembrei disso ao ler a notícia do fechamento do Mercado de Santa Tereza. Com ele foi-se um pouco da alegria, da descontração, da diversidade daquele bairro, único na cidade tradicionalmente boêmio, tradicionalmente cultural, tradicional.
Belo Horizonte está mais pobre. Não tem um Bexiga, uma Liberdade, uma Lapa, uma Estação da Luz, um Mercado Modelo, um Recife Antigo, um Mercado São José, um Soho, um West End. Belo Horizonte não tem memória. A pouca que tenta manter é constantemente bombardeada pela autoridade municipal da vez. Depois querem transformar a cidade num pólo de turismo de negócios. Mas turismo para quê? Ou o negócio só acontece de 8 às 18 horas? E à noite, o freguês faz o quê?
Quem não freqüentou Santa Tereza não pode entender. Quem nunca foi a um show ali na Praça Duque de Caxias, não comeu uma peixada, ou uma casquinha de siri no Xanadu (que depois foi pra Savassi, sumindo no anonimato daquele bairro), não pode entender. Meu Deus! E o Bolão? Quem não foi de madrugada comer o melhor macarrão da cidade? Quem não foi ao Cine Santa Tereza, que virou discoteca, que virou boate, que virou casa de shows? E quem não andou atrás da Banda Santa (¨felicidade mora em Santa Tereza¨ ), não pode entender. E quem não foi ao mercado no sábado à tarde, tomar todas e virar a noite; ou à noite e virar a madrugada nos botequins sem frescura? Certamente não entende e nem liga.
Alegam que o mercado já não atraía tanto público assim. Mas então, por que não fazer um projeto de revitalização? Levar uma programação cultural, como teatro, shows? Até quando vamos ficar dando adeus ao nosso passado cultural? (e eu nem sou de Beagá!!). Até quando vamos ficar passivos ante a constante desconstrução de nossa vocação boêmia?
Desmancha-se hoje, como é agora com o Mercado Santa Tereza – quiçá o do Cruzeiro, logo, logo. Desmanchou-se ontem, como foi com o bairro Bonfim. Até que um dia, resolve-se gastar um dinheirão para revitalizar tudo de novo, como fizeram com o Mercado da Lagoinha.
Mas aí já é outro século. Outros são os moradores e a história da cidade já estará perdida.
Foto: Viaduto de Santa Tereza - Annekathrin Knigge, retirada do Overmundo

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Mineradoras não só poluem mas dão calote também

E para não dizer que estou de implicância com a MMX, que eu não sabia quem era, até pesquisar no Google e ver lá os nomes de sempre nesta área, os Batista: - Eike e Eliezer, filho e pai -, discuto aqui a outra face da mineração. Não só polui, mas dá calote também.
Pelo menos é o que andam reclamando os prefeitos de cidades onde existe a atividade, como Ouro Preto e Itabirito. Dizem eles que a alíquota da Compensação Financeira (Cfem) que recebem das companhias, tipo a Vale do Rio Doce, a MBR e a Samarco é irreal, menor do que a que recebem os municípios onde é explorado o petróleo. Reclamação devidamente apoiada pelo DNPM (o que dá as concessões de lavra no Brasil).
Enquanto nos municípios petrolíferos as prefeituras recebem uma alíquota de 5% sobre o faturamento bruto, os coitados dos municípios mineiros que têm minério em suas entranhas rasgadas e devastadas, ganham, "a título de compensação pela degradação ambiental" (como se fosse possível compensar isto!), somente 2% do faturamento líquido das empresas. Não é à toa que a Vale faturou, só no primeiro trimestre deste ano, R$ 5 bilhões.
Bem que o DNPM está tentando mudar isto, com uma ação no Superior Tribunal de Justiça, que já mandou as caloteiras pagarem R$ 2,2 bilhões para as prefeituras. Mas a turma ainda está chorando e recorrendo, claro.
E voltando à MMX. Queria ver a cara dos prefeitos de Alvorada de Minas e Conceição do Mato Dentro (não sei como está o do Serro), depois de descobrirem que a galinha dos ovos de ouro, na verdade não passa de um urubu na carniça. Porque as mineradoras deixam lá para as cidades uns caraminguás, e saem com os bolsos estufados. Também, seus donos precisam dar coleiras de brilhantes para suas esposas.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Faça cursinho para qualquer coisa


Fiquei surpresa, dia destes, ao ver nos muros da cidade, cartazes anunciando um cursinho para o Enem, antigo Provão, aquele teste que o governo inventou para medir o aprendizado dos alunos de ensino médio. Mede o que a rapaziada aprendeu e serve, de quebra, para garantir vagas em universidades públicas e a bolsa de estudos nas particulares, depois da criação do ProUni.
Tudo bem e até louvável querer saber o que os meninos estão aprendendo, principalmente diante das barbaridades que a gente ouve falar de provas de vestibular e quetais.
Pior é saber que agora, para mensurar o conhecimento do ensino médio, criou-se mais uma indústria no Brasil: o do cursinho do Enem. A exemplo da indústria da prova da OAB, dos concursos, da admissão ao CEFET e principalmente às universidades.
Ou seja, estas provas não medem nada, já que o aluno vai primeiro fazer o tal cursinho. Para concursos ainda vai. Mas para a OAB e para o Enem? Meu Deus, que país é esse, onde as escolas não ensinam nada e para garantir um passo à frente (a carteira para o exercício da profissão de advogado e o direito ao ProUni) , o aluno tem de estudar tudo de novo?
O que as provas da OAB estão medindo? Decoreba de leis e constituições, que os inúmeros cursinhos indicam?
O que o Enem está medindo? Pegadinhas ensinadas pelos cursinhos “especializados”.
Criar mais e mais “provas de fogo” não vai levar a nada. O que vai medir a qualidade do ensino no Brasil é uma fiscalização rigorosa do MEC em cima dos conteúdos programáticos das faculdades e universidades; e do cumprimento do parco calendário escolar. Mas, sobretudo, o que precisa mesmo é acabar com a liberalidade, quase libertinagem, das concessões de autorização para funcionamento de novas escolas.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

SPA onde não se passa fome


Para aproveitar a foto enorme que publiquei na primeira postagem, falo um pouquinho de Itabirito.
Itabirito, que fica só a 57 km de Beagá, pela Rodovia dos Inconfidentes, é tudo de bom. É destas cidades que acolhem muito bem o visitante. Fora as milhares de festas que acontecem o ano inteiro. Ô gente que gosta de uma festa! Alguém já foi ao Festival do Pastel de Angu? Demais.
Alguém já ouviu falar em um SPA onde não se passa fome? Pois em Itabirito tem o SPA Outeiro de Minas. A filosofia por lá é: "você é quem escolhe. Se quiser pode até tomar cerveja". Claro, que pagando para emagrecer, você não vai se aventurar. Mas o Outeiro funciona mesmo como um local "desestressante".
É bom ir para um lugar onde a natureza é o melhor atrativo. O Outeiro fica bem num alto de morro, com muita montanha ao redor e um verde de encher os olhos. Tem ótimas trilhas para quem gosta de caminhar. Nestas caminhadas você pode ser surpreendido com ruínas de minas desativadas (graças a Deus!). Ou então ir parar na "bendita" Mina de Capanema, da MBR, que transformou o que era o cartão postal da cidade (Pico do Itabirito), em uma cratera lunar.
E à noite dá para ficar no descampado em frente aos chalés em volta de uma fogueira. E como é uma hospedaria pequena, dá para fazer uma turma bem legal. Mas em junho, julho e agosto é preciso levar muita roupa de frio, porque o bicho pega!