terça-feira, 31 de março de 2009

Montes Claros é dona Divina







A trabalho visito Montes Claros.
Mas não tenho tempo de ver nada, a não ser o mercado central e a avenida sanitária à noite, onde estão os restaurantes, lanchonetes e quetais. Passo três dias na cidade e como carne de sol nos três, afinal é o carro chefe de lá.
Mas o melhor programa é o almoço de dona Divina no mercado.
Uma comida deliciosa, farta e variada. A começar pelo arroz com pequi, delicioso, molhadinho, um risoto e não só aquele arroz seco amarelado. E os pequis vêm em cima, para quem quiser comer, ou melhor, roê-los já que a fruta é traiçoeira e se você morde, fere a boca toda com os espinhos. E de quebra uns pedaços de charque misturados.
Nunca gostei muito de pequi, acho o gosto muito forte. Mas no arroz da dona Divina fica maravilhoso. Ela coloca também o óleo de pequi, talvez por isso ele ganhe a consistência do risoto.
E depois um frango ensopado também excelente. E mais a carne de sol acebolada, couve, farofa com manteiga de garrafa, feijão tropeiro e um legume que parece uma abobrinha d'água, que me esqueci o nome, algo começado com x.
E além da variedade, a quantidade. Ninguém pode reclamar que saiu com fome!
E no fim da tarde, um por de sol belíssimo do 6º andar do hotel.

domingo, 29 de março de 2009

E a Hora do Planeta virou show

Foi bonito ver a Hora do Planeta funcionando ontem.
Símbolos da exuberância iluminativa mundial de repente ficaram às escuras.
A começar pelo maior deles, na Cidade Luz: a Torre Eiffel ficou bonita totalmente apagada.
O mesmo com o Coliseu, com a Golden Gate.
As pirâmides então, foi fantástico: aquele silêncio milenar de repente acrescido da escuridão.
Por aqui, no Brasil, tivemos o Cristo Redentor e os palácios dos governos de São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Curitiba, Porto Alegre.
É bacana ver toda esta adesão a um gesto tão simples.
Tão simples e tão complexo.
Não consegui ficar uma hora com tudo desligado, apesar das velas que acendi.
Vi o jornal até o apagão nos monumentos mundiais, desliguei a tv e fiquei ali, olhando o relógio de minuto a minuto.
Ô vício nos confortos da modernidade!
Engraçado é que antigamente, quando a luz acabava durante as tempestades, ficávamos com velas acesas até mais de 2 horas.
Mas aí as companhias foram se sofisticando e o religamento passou a ser cada vez mais rápido.
Aliás, sofisticando porque senão a multa é da grossa, depois das agências reguladoras que, algumas vezes, defendem o direito do consumidor, quase sempre o da concessionária.
Mas acho que valeu meu esforço. Também foi a primeira vez.
No ano que vem prometo a mim mesma, ficar uma hora inteirinha com tudo no escuro.

quarta-feira, 25 de março de 2009

O próximo escândalo

Vem aí mais um escândalo.
Toda vez que a Polícia Federal vai a campo, naquelas operações de nomes mirabolantes, a população brasileira cai um pouco mais o queixo.
Ou não, pois tanto escândalo banaliza e embota nossa capacidade de nos indignar.
Dessa vez a PF deu uma batida na construtora Camargo Correia, em São Paulo, para desbaratar um esquema de evasão de divisas e lavagem de dinheiro
A operação chamada "Castelo de Areia", deve prender, num primeiro momento, dez pessoas. E buscar documentos em 16 locais, entre Rio e São Paulo.
Por isso Brasília, a ilha da fantasia e dos castelos de areia, está em polvorosa, afinal, segundo a PF, a principal clientela do esquema da Camargo Correia são políticos e seus partidos.
O ruim é que a gente ainda estava saboreando o escândalo do Senado e já vem outro.
Provamos só uma pitada do deputado e seu castelo, dos marajás do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, das passagens e telefones funcionais do Senado e de seu exército de diretores.
Não está dando tempo de degustar tudo, por isso o banquete está subaproveitado.

terça-feira, 24 de março de 2009

A volta do cantor

O velho volta à praça da Assembleia cantando alto. Mas desta vez não é Elvis Presley.
Ele passa por ali para ir em algum lugar, não está fazendo caminhada ou corrida como a maioria.
Também não está vendendo nada como seu Alonzo, neto de português, velhinho que fica num banco com seus brinquedinhos feitos de madeira e latinha de aluminio, gaiolinhas, panelinhas de pressão e cadeirinhas de balanço, tudo assim, quase miniaturas.
Também não é da turma dos estudantes do Pandiá Calógeras que perdem aula, ou a matam, e ficam por ali, nos bancos, de conversa.
Conversa às vezes estranha, como a que ouvi dia desses, lá na praça, de um garoto de 10, 12 anos: - "Se eu tivesse 80 mil reais comprava tudo em droga".
O cantor é uma incógnita e uma curiosidade para mim, apaixonada que sou por figuras típicas da nossa paisagem urbana.
Vou perguntar alguma coisa, da próxima vez.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Apague a luz por uma hora

Neste sábado, 28, vamos todos fazer um gesto de boa vontade com o planeta Terra. Por uma hora vamos desligar as luzes e participar do movimento contra o aquecimento global e as mudanças climáticas.
É o Dia da Terra, que este ano acontece no sábado, de 20h30 às 21h30.
É difícil para nós urbanos ficar sem luz por uma hora. Ainda mais no sábado.
Ainda mais neste horário em que estamos nos botecos, na frente da TV ou em papos com os amigos.
Mas vale a pena. É um gesto simples que está ao alcance de todos nós.
Este é um movimento mundial conhecido como Earth Hour e que acontece desde 2007.
Aqui no Brasil tem à frente a Ong WWF.
A previsão é de que 1 bilhão de pessoas participem.
No ano passado, o Dia da Terra teve a adesão de 50 milhões de pessoas de 35 países.
Foi um espetáculo o apagar simultâneo das luzes do Coliseu, em Roma, da Golden Gate, de São Francisco e da Ópera House de Sidney.
Mas nós podemos fazer muito mais, em gestos pequenos e simples, de nosso cotidiano.
Andar menos de carro, usar menos o ar condicionado, os ventiladores e coisas que fazemos todos os dias, com nossos infindáveis aparelhos domésticos.

quinta-feira, 19 de março de 2009

A ilha da fantasia chamada Senado

Dá embrulho no estômago ver o Sarney reclamar que a imprensa só se preocupa com os escândalos do Senado e não dá a agenda positiva que a Casa tem.
Resta saber qual, já que não se discute e nem se vota nada. Os 81 senadores só estão frequentando páginas, telas e microfones para explicar suas peraltices.
A última que a sociedade quer saber é para que o Senado precisa de 181 diretorias, a não ser, claro, para dar salários enormes a uns poucos apaniguados. Aliás, poucos não, 181. E com certeza estas diretorias têm as vices ou subs, o que eleva este número para o dobro pelo menos.
E pior ainda, não há controle algum.
O presidente não sabia nem quantos diretores tinha. Primeiro disse que eram 131, depois 136 e agora, coitado, marido traído, descobriu que são 181.
O mesmo aconteceu com as horas extras, pagas nas férias a 3.883 servidores, mais da metade do quadro total, de 6.570 servidores, entre efetivos e comissionados.
Os coitados dos senadores, como o 1º secretário Heráclito Fortes - a quem compete assinar tais atos-, não sabiam nada. Mas quem pagou o mimo não foi o Heráclito, mas o Efraim Morais, o antecessor.
Os caras estavam de férias e ainda assim receberam hora extra. Dá muito trabalho ficar na praia, ou na Europa. Na Disney então, meu Deus!
Ah, e ainda teve o caso do telefone funcional emprestado para uma filha de senador falar bastante, em sua viagem ao México, enquanto eu fico aqui, ralando e pagando a conta para ela.
Ou pagando a conta dos convidados da Roseana Sarney que usaram as passagens aéreas da cota da senadora. E eu viajando para São Paulo, de ônibus, 10 horas.
E ainda tem senador cara de pau dando entrevista "achando absurdo" tudo isso, como o Mercadante. Sei, antes de a imprensa denunciar, ele não sabia. Tá bom, eu acredito.
Como a imprensa pode dar agenda positiva disso?
O que os distintos senadores fazem além dessa lambança permanente de mordomias e desrespeito?

quarta-feira, 18 de março de 2009

Dilma, a mãe dos sem-teto



Dilma Roussef fez plástica no rosto e ficou parecendo manequim para expor peruca. "Perucas Vilma, cabelos 100% naturais".
Uma foto de capa da Folha de ontem dava esta impressão. A foto oficial, divulgada logo que ela voltou do "resguardo" da plástica ficou ótima.
Maquiagem e photoshop fazem coisas...
Sério, comparando o antes e o depois, acho que ela estava melhor com óculos, mesmo que de fundo de garrafa. A esticadinha básica ficou boa, só que os olhos, sei não.
E ontem na foto, o que me chamou a atenção foi a sobrancelha. Estava totalmente arqueada, num efeito que os cirurgiões plásticos costumam chamar de "demonizado", imaginem porque.
Mas a aparência da Dilma não vem ao caso.
O que importa é mais uma obra que ela vai tocar: o resgate do déficit habitacional.
Ela anunciou ontem em Salvador que o "bolsa-habitação" vai funcionar muito bem, garantindo até prestação zero para quem não pode pagar nada. Quem puder pagar alguma coisinha vai pagar, ainda que simbolicamente.
Tomara que dê certo e que a ideia não sofra nenhum acidente de percurso, como outras obras do PAC. Gente criativa para dar o cano e roubar dinheiros alheios não falta neste País.
E eu queria pedir a Dilma para entrar num programa desses de bolsa qualquer.
E como sou modesta, não quero nenhuma bolsa Balenciaga, ou Dior, ou Chanel, ou Louis Vuitton.
Fico muito satisfeita com uma Colcci que vi dia destes, que custa "só" 200 e pouco reais.

terça-feira, 17 de março de 2009

Conversa roubada

Um velho atravessa a praça da Assembleia, pela manhã, oito e pouco, cantando a plenos pulmões:
It's now or never; my love for you; kiss me my darling..."
Pouca gente espanta ou para. Quase todos imbuídos de seu próprio tempo, caminhando, correndo, ciosos de suas próprias limitações, para se preocupar com as esquisitices alheias.
Então ele olha para um mendigo puxando uma carroça com um cachorro em cima e solta:
-É Elvis Presley, o maior cantor do mundo, de todos os tempos. Conhece? Já ouviu?
E o mendigo, que anda sempre por ali, meio que parte da paisagem urbana da região, olha sem jeito.
Esboça um sorriso de sem graça ou de compaixão, vá se saber, e balança a cabeça afirmativamente.
E o velho canta mais um trecho, feliz de compartilhar sua paixão com alguém, ainda que com um andarilho com um cachorro a bordo de seu impossível transporte.

segunda-feira, 16 de março de 2009

O terremoto de Itaúna

A terra tremeu em Itaúna, a cento e poucos quilômetros de Beagá.
Já tem gente de outras terras com inveja, porque Itaúna entrou para o mapa do mundo, ainda que com um tremiliquezinho.
É a terceira ou quarta cidade mineira a tremer. Dos 11 tremores registrados no Brasil, nove aconteceram aqui. As Minas já não são as mesmas.
Montanhas azuis e verdes foram tão cutucadas que isto pode estar causando os tremores.
Será que estamos a caminho das grandes catástrofes?
E será que há um grupo de cientistas estudando nossas mudanças climáticas, geográficas, morfológicas?
Sim, porque o Sul já tem tufão. O Nordeste já tem tremores de até 3 pontos na escala Richter. E Minas também tem.
Temos queimadas constantes, inundações, deslizamentos.
É, acho que Deus cansou de ser brasileiro!

sexta-feira, 13 de março de 2009

O golpe do telegrama

Recebo um telegrama de uma tal doutora Danielly Fragoso, com OAB e tudo, me informando que é a última tentativa para eu me pronunciar sobre um seguro de R$ 24,9 mil a que tenho direito, conforme determinação judicial.
E ainda me ameaça dizendo que se não houver pronunciamento, o dinheiro será "extornado", assim mesmo, com x, não sei para quem.
E dão um telefone para eu entrar em contato: (11) 3483 0934 ou (11) 6708 9628.
O telegrama contém muito erro de português, tanto de ortografia como de concordância.
Como tenho birra de erro de concordância, principalmente verbal, desconfio daquilo.
Primeiro não tenho seguro nenhum, a não ser um de morte, que, obviamente, não viria para mim.
Aí vou à internet e digito o nome da doutora e encontro lá um fórum, falando do golpe.
Ô gente criativa esta brasileira!
Fico pensando como os golpistas montaram o esquema.
Passam o telegrama (está lá no corpo, que é fonado). Aí já me pergunto como o Correio vai cobrar.
Se for telefone fixo, significa que a turma montou uma empresa, com endereço, telefones, recepcionista/telefonista e tudo mais, portanto, gastou alguma coisa.
Se for telefone celular, o Correio vai tomar o cano.
Aí faço outra pesquisa no Google e descubro que se trata de alguma coisa ligada a uma antiga rede de hotéis em praia chamada Solemar, em que as pessoas compravam cotas e nunca usavam, porque o grupo faliu, foi mudando de nome e tal.
E quem atende ao telegrama acaba pagando alguma coisinha mais.
Bem, sinceramente não me lembro de ter pago nada de Solemar, então ainda estou curiosa para descobrir como fui brindada pela doutora Danielly, ora com um ele, ora com dois.
Aí bate a paranóia: de repente fiquei muito exposta aos golpes.
Este ano já fui sorteada com o telefonema de madrugada, aquele do sequestro de um parente; e agora com o telegrama.
Fico cismando se não estou lá no computador do Protógenes, afinal meu telefone tinha uns ruídos estranhos no ano passado.
Acho que vou mudar de identidade ou entrar no programa de proteção a testemunhas.

terça-feira, 10 de março de 2009

Proibiram o "kit ressaca"

Estou de mal da Anvisa porque ela proibiu o "kit ressaca".
Olha só que bobagem, proibir a salvação dos bebuns, enquanto um remédio abortivo continua por aí, à vontade, em muitas farmácias.
E que mal pode ter uma embalagem com heparex e um outro pro estômago, para evitar o enjoo?
Lembro do tempo em que trabalhava no Diário do Comércio, ali na Rua Padre Rolim, bem ao lado de uma farmácia antiga, daquelas tipo botica, com estantes altas em mogno e portas de vidro.
O dono, um senhor velhinho, tinha uma clientela fixa nas manhãs de quinta e sexta. A turma que abusava dos uísques, cervejas e cachaças na noite anterior, e na seguinte, fazia a primeira parada na farmácia, antes mesmo do café.
O homem preparava uma poção mágica para a gente, um líquido amarelo, ruim que só, misturado ali na nossa frente, em um copo, mexido com um tubo de vidro branco.
Ah, alquimistas!
Era tiro e queda, passava a ressaca na hora.
Aí industrializaram o "kit", antes com um hepoclair e um engov ou um plasil. Simples assim.
Mas a Anvisa está muito ciosa de suas funções e proibiu.
Mas a gente vai continuar a passar na farmácia de manhã e comprar o engov, ou o plasil, ou o hepoclair do mesmo jeito.
Ou tomar o engov antes de começar a rebordosa.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Dia de trabalho Internacional da Mulher

Ontem foi meu dia e eu nem lembrei.
Hoje vou assistir uma homenagem a elas, aliás, a nós, mulheres. Mas vou trabalhando.
E penso que é isso, coitadas das mulheres: tudo é motivo para nós trabalharmos.
Se há um almoço para comemorar, vamos para a cozinha.
Se há uma solenidade qualquer, preparamos discursos, convites, compramos flores, mandamos releases, contratamos uma banda, aquela trabalheira durante uma semana.
Bom seria se no Dia da Mulher tudo ficasse por conta dos homens.
Que eles preparassem tudo para nós. Que nós fôssemos realmente as homenageadas: ali, só de dondocas, olhando, aprovando, desaprovando, sem levantar um dedinho sequer.
Comemoro neste dia, minha jornada tripla de trabalho. Minha preocupação com o futuro da filha, com as contas a vencer, com os consertos a fazer, com a segurança da família, com a chuva, com o tempo quente, com a saúde desse e daquele familiar.
É tanta comemoração que eu nem sei se vou dar conta!

sábado, 7 de março de 2009

E o calor cozinhou os miolos

Estou para escrever sobre a temperatura em Beagá, sobre este calor insano, mas me dá uma preguiça.
Olho para dentro de minhas ideias e vejo-as por ali, esparsas, encolhidas, abrigando-se em sombras parcas.
Minhas ideais estão pingando suor, buscando um refresco qualquer: um picolé, um ventilador, uma árvore amena onde se abrigar.
Torço, torço e não sai nada.
Apesar da chuva de ontem à noite, o calor dessa semana cozinhou meus miolos.
Tenho saudade de Quaresmas de outrora, quando a gente fazia roupa de frio, de lã, de veludo, de manga comprida, para usar na Semana Santa, acompanhar a Procissão do Encontro ou a do Senhor Morto.
Outros tempos, outros climas.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Ainda a excomunhão

O último cânon do Código de Direito Canônico diz textualmente "et prae oculis habita salute anikmarum, quae in Ecclesia suprema semper lex esse debet", cuja tradução significa, "tendo-se diante dos olhos a salvação das almas que, na Igreja, deve ser sempre a lei suprema".
Ou seja, muito antes de punitivo e condenativo, o Código é para orientar, proteger os católicos.
Os exemplos estão aí de uso do código e revisões em seguida ou muito tempo depois.
O caso mais recente foi a revogação - pelo Papa Bento XVI em janeiro último -, da excomunhão de quatro bispos, feita há 20 anos pelo bispo francês Marcel Lefebvre.
Ou seja, dependendo das condições, do momento histórico, a excomunhão varia.
Mas o bispo de Recife e Olinda, D. José Cardoso Sobrinho, não pensou duas vezes para julgar e condenar.
Seguiu o Código Canônico, naturalmente, mas poderia ter aplicado uma pena menor, diante de outros atenuantes.
E o que isso muda na vida dos excomungados?
Para os médicos, creio que nada.
São gente esclarecida e muitos profissionais dessa área não estão nem aí para qualquer religião, endurecidos pelo convívio diário com a morte e o sofrimento humano.
Mas para a mãe da menina talvez seja uma pena dura. Não sei se ela é católica, mas se for, a excomunhão representará um fardo insuportável.
Como pessoa simples, humilde que é, vai ser exposta, aliás já está, a uma situação humilhante: a de não poder frequentar a Igreja e receber seus sacramentos.
É hora de a Igreja rever algumas de suas leis.
Este caso da menina de Recife é emblemático e deveria servir de reflexão para a Igreja.
O aborto é passível de excomunhão, segundo o Código Canônico, porque a Igreja entende que é um crime contra a vida especialmente grave, pois atenta contra um ser humano indefeso.
Por que os assassinatos frios e brutais não são considerados no mesmo patamar?
Como tratar os assassinos do garoto João Hélio Fernandes que foi arrastado pelo cinto de segurança de um carro, por 30 metros, por bandidos no Rio?
Ele tinha alguma defesa?
No entanto, não houve nenhum bispo se arvorando em juiz divino e excomungando os bandidos. Este é só um caso de que me lembrei. Há inúmeros.
Depois a Igreja não entende por que as demais religiões avançam cada vez mais no outrora 2º país mais católico do mundo, principalmente entre o povo pobre.
Estes querem compaixão e não condenação.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Retratos do Brasil

Uma garota de Recife foi submetida a um aborto. Aos 9 anos, estava grávida de gêmeos e o responsável era o padrasto, que confessou abusar sexualmente da menina.
Decisão correta dos médicos de um hospital público de Recife que optaram por interromper a gravidez.
Aqui não se trata de polêmica nenhuma sobre o aborto, embora o arcebispo de Recife e Olinda tivesse entrado na história para excomungar todo mundo.
Trata-se da dignidade da criança, da sua vida, ameaçada pela gravidez dupla. Do horror da situação.
Se a Igreja tem lá suas leis, os homens também têm as suas e foi Deus também quem concedeu aos humanos o livre-arbítrio.
Numa situação dessas, é preferível ficar de fora, enfiar a viola no saco, como dizia meu pai, e não dar palpite numa situação que por si só, sem as ameaças de excomunhão, já é dolorosa suficientemente.
Me lembrei da família que vi na praia em Maceió, do post aí abaixo.
Retratos do Brasil, no século XXI.

quarta-feira, 4 de março de 2009

A internacionalização do crime 2

Fiz uma piada dia destes, aqui, depois que a polícia mineira prendeu uma quadrilha de assaltantes de banco que tinha ligações com o PCC. Falei que o crime se internacionalizara, com a organização criminosa vendendo a franquia de sua atividade.
E num é que a coisa era verdadeira?
Leio hoje que o governo dos Estados Unidos mandou um estudo para as autoridades brasileiras, constatando que o I Comando da Capital, o PCC , de São Paulo, e o Comando Vermelho, o CV, do Rio, estão com filiais no Paraguai, Argentina, intercâmbio cultural com as Farcs da Colômbia e até um pezinho em Portugal.
É a tal estória, se o capitalismo pode se globalizar, por que não o crime organizado? Não é por isso que eles são organizados?

terça-feira, 3 de março de 2009

Estória roubada

A família chega e se instala bem à minha frente, em Pajuçara, Maceió: pai, mãe e quatro filhos pequenos.
Logo o homem começa a gritar os filhos, a mulher, a dar ordens, senhor absoluto do negócio da família: o aluguel de bóias infantis, daquelas bem grandes, com formato de bichos, cadeiras, carros.
Enfileira um elefante, dois karts, uma poltrona, um batman e um jetski e começa a dar o preço: "é dois reais a hora".
E começa o estresse: "Samuel segura o elefante. Manuela anota o do kart. Jó, cadê a caneta?". Só ali na gerência da família e do negócio.
E eu, bem pertinho só aumentando minha curiosidade.
Puxo conversa com a mulher, com um bebê pendurado no seio: o pequeno mama e chora, chora e mama, mama e chora.
Vou perguntando e ela me diz que tem 26 anos, os quatro filhos com 10, 8, 4 e nove meses. E que o bebê chora muito porque é "dengoso".
Depois converso com o marido, quando a mulher vai ao mar. Ele se chama Daniel, tem 26 anos e está desempregado. Pergunto se os brinquedos são dele ou se ele trabalha para alguém.
Diz que foi o irmão, "que é dono de uma loja de celular", que comprou para ele trabalhar, enquanto não arruma "serviço". Me vem a lembrança da família de Fabiano, de Vidas Secas.
Daniel fica ali naquela peleja, driblando a ventania que insiste em carregar os brinquedos para longe, controlando o horário e gritando com os meninos para ajudarem.
Às 10h30 já estão almoçando: o bebê e o de 4 anos, Deivi, assim mesmo, sem d final e com ei. É um macarrão com uns pedaços de carne que Josefa (Jó) trouxe de casa. Comem todos numa baciinha de alumínio.
Em certo momento chego para Josefa, com uma nota de R$ 20 e digo a ela que preciso de um troco de R$ 10, por isso quero alugar um brinquedo com os outros 10 reais, mas não vou usar. Ela fala para o marido e ele me dá o troco e fica por ali, sem graça. Jó cochicha alguma coisa para a menina de 10 anos e ela vem me perguntar se pode usar o brinquedo alugado. Digo que sim, que eles podem fazer o que quiser. A mulher grita para os outros também pegarem as bóias, "porque a muler alugou o brinquedo proceis". E me agradece. Fico feliz de ver os meninos brincando e não trabalhando.
Os pais ficam por ali, sem graça, ele agora quieto, sem chamar o Samuel ou a Manoela para qualquer coisa, sem dar ordens, sem reclamar da caneta estragada.
E eu percebo que interferi num ecossistema humano que funciona perfeitamente sem minha ajuda, sem minhas conclusões.
Recolho minhas tralhas rapidamente, pago a conta, e vou embora sem graça.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Imagens


Ponta Verde, Maceió, num entardecer nublado

A transposição do Velho Chico para os nordestinos







Alguns assuntos nos acompanham até nas nossas férias. A transposição do Rio São Francisco foi um desses casos. Também não podia ser diferente, para quem está em Alagoas, onde o rio tem sua foz, na divisa com Sergipe.
Vou passar um dia na Foz do São Francisco, em Piaçabuçú, que significa palmeira grande. Esta cidade do litoral sul alagoano é onde o rio se encontra com o Oceano Atlântico. Do lado de Sergipe está a cidade de Brejo Grande.
É um passeio imperdível, uma hora navegando pelo São Francisco, em direção ao mar, apreciando as águas verdes do rio e ouvindo estórias do guia, morador de Piaçabuçú.
Ao longo das margens dá para constatar a degradação do Velho Chico: erosões, dunas, assoreamento. O Chico está realmente morrendo.
Daí se aprende na prática o que significa a revitalização para o Rio da Integração Nacional. Revitalização que todos querem, ao contrário da transposição, que ninguém quer, só o governo e os empresários da obra bilionária.
Na ida para Piaçabuçú, a guia toca de leve no assunto, criticando a obra "que os nordestinos não querem". Eu emendo, lá do fundo onde estou sentada: "os mineiros também não".
O rio já foi um colosso que avançava 15 metros mar adentro. Hoje, suas águas enfraquecidas, não chegam mais do que 3,5 metros dentro do Atlântico.
Em compensação, o mar vem avançando mais e mais. Hoje já chega a penetrar 110 metros no leito do rio. E a consequência é o desaparecimento de cidades ribeirinhas, como a de Cabeço, em Sergipe, onde só resta hoje, a ponta de um farol que ficava na praia. E os ribeirinhos vão se mudando para mais longe.
E quase já não vivem da pesca mais, como Manoel, com quem eu converso do lado alagoano, apesar de ele ser sergipano. Vivem de vender as cocadas e as imagens de barro, sobretudo São Francisco, para os turistas que as agências despejam nas dunas.
Manoel diz que ouviu falar da transposição e que não vai ser bom para eles: "tirar água do rio é ruim, vai acabar com a pesca", sentencia.
E, na sua simplicidade, toca no ponto primordial da questão: o rio está fraco, "as águas não conseguem varrer o fundo, que tem muito capim, vegetação prendendo as redes de pesca. Quando o rio era forte, as águas puxavam este mato que boiava rio afora".
Resumindo: o rio precisa ser desassoreado.
As dunas móveis são a linda resposta da natureza ao assoreamento, consequência da remoção das matas ciliares das margens. Os barqueiros sabem disso, os guias também, a população também.
Só o governo insiste na loucura de tirar água de um rio que já agoniza.