quarta-feira, 30 de abril de 2008

Mineração no Topo do Mundo

Meu sobrinho de 11 anos, Henrique, em 2006,
no Topo do Mundo, antes do início do fim




Recentemente acompanhei um debate sobre um projeto de lei que anexa a Serra da Calçada ao Parque do Rola Moça. O debate incluiu ainda muitas críticas a outro projeto que quer passar o facão em parte da área desse parque.
Já havia escrito aqui sobre os dois casos e até colocado a poesia do Mário de Andrade. "Serra do Rola Moça".
Me impressionei com a mobilização sobre o caso. Primeiro de mais de 1.500 pessoas no alto da Serra da Moeda, perto do restaurante Topo do Mundo, em um glorioso abraço de proteção àquele pequeno canto de mundo, lindo, lindo, frágil, frágil, diante das garras abútreas das mineradoras.
Depois me impressionei com a audiência pública que reuniu ambientalistas, moradores da região do Barreiro, frades franciscanos e alunos de escolas. Nem tudo é desesperança.
Ainda bem que temos o Ministério Público sempre atento. Foi sua ação que impediu que a MBR continuasse a fazer prospecção ali na Serra da Moeda, furando mais de 30 buracos, com até 200 metros de profundidade.
Não há lençol freático que resista a isso, e, conseqüentemente, mananciais.
E do Rola Moça vem o abastecimento de água de uma boa parte de Belo Horizonte, Brumadinho e Nova Lima.
Mas inacreditavelmente, o prefeito de Nova Lima autorizou mais construção de condomínios naquela região do Topo do Mundo.
Triste poder público este que por causa de umas migalhas de impostos das mineradoras, entrega o futuro de toda uma população a um ilusório desenvolvimento, onde o que se adivinha é a escassez completa de água potável.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Ainda os cinco a zero

E como já tem gente dizendo que estou sem assunto, esta é a última postagem sobre o Atlético, mesmo sabendo que na noite dessa quarta para quinta certamente haverá bagunça de novo na sede.
Mas não vou falar mais nada, a menos que a PM solte bomba de novo lá em Lourdes.
Saí ontem para ver o que era aquele festival de sirenes e vi a porta do Atlético repleta dos torcedores da Galoucura, de charanga e tudo.
Como estivessem insultando muito o Ziza Valadares, a polícia foi chamada.
Acabei pegando um xerox de jornal fartamente distribuído para os passantes, com uma notícia sobre a condenação do Valadares pelo Tribunal de Contas da União. Parece que ele terá de pagar uma multa.
Coisas de quando ele esteve à frente da CBTU e contratou empresa sem licitação. Mas a condenação é uma mixaria. Só R$ 6 mil.
Mas aí um colega me disse que a Galoucura tem um ranço mesmo com o homem do bigode, porque ele cortou umas mordomias da torcida organizada, como ingressos gratuitos para o Brasil todo e tal. Corte por corte, a moçada agora quer o bigode!
Os dois estão errados e eu quero mais é que o time volte a ser o timão mineiro, sem estas exibições vergonhosas e sem a venda de ingressos na minha porta.
Acho que vou montar uma empresa de organizar venda descentralizada de ingressos e pedir o Ziza para me contratar sem licitação.
Que tal?

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Também não precisava de cinco

Claro que roguei praga no Atlético!
Que morresse, que caísse pra terceira e tal.
Mas levar de cinco do Cruziero, aí nem eu que estou de mal com a torcida pedi.
Contudo, em uma coisa eu e a massa atleticana, que me azucrina no dia da venda dos ingressos, estamos de acordo. Esse Ziza Valadares precisa tomar vergonha na cara ou vamos arrancar aquele bigode fio por fio.
Onde já se viu apanhar, literalmente, do Cruzeiro dessa forma vergonhosa?
Por isso que hoje, com a Galoucura aqui na minha porta berrando insultos pro presidente do clube, não vou me chatear.
Deixem eles xingarem palavrões.
Deixem eles pedirem a cabeça do Ziza.
Deixem eles chamarem o homem de mentiroso. Que prometeu um título para a torcida e coisa tal.
Hoje eu apóio o furdúncio, desde que não passe das 10 da noite, é claro, afinal não sou tão magnânima assim!
E que o Ziza seja corrido do Galo, quem sabe o próximo presidente seja mais profissional e monte um time de verdade e aprenda a organizar um espetáculo digno de um Atlético e Cruzeiro.
E agora que a polícia chegou, de sirene ligada e tudo, vou lá ver o que se passa.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

O amadorismo do Atlético e a Tv Record

Pela manhã, dei entrevista para a TV Record, na porta da minha casa. O assunto, claro, a bagunça da torcida atleticana na sede do clube, em Lourdes.
As Tvs adoram vir com aquelas pautas prontas - mostrar a alegria dos torcedores, as filas para comprar ingressos, porque os atleticanos são fiéis e muito apaixonados, e aquela baboseira toda, que se repete infinitamente.
Mas hoje a menina da Record não teve jeito: abordei-a e disse: "você devia entrevistar os moradores para ver o que eles acham disso". E lá estava eu, microfone na cara, rodeada de torcedores, e metendo o pau.
Falei, como já disse várias vezes aqui (só em março foram duas), das brigas, gritaria, sujeira, desrespeito com os moradores. Tudo isso para comprar ingresso de um jogo que só acontece no domingo. A venda começa na quinta, às 9 horas e a torcida vem para a porta na quarta, lá pelas 9, 10 horas da noite. E aí, já viu...
Mas ontem a coisa pegou fogo. Claro, alguns mais exaltados quebraram uns vidros da sede, o que eu achei bem feito.
Aí a polícia interviu: foi um festival de sirenes e bombas de efeito moral a noite toda. Às 3 horas da madrugada ouvi aquele estrondo. Era a última bomba jogada pela PM.
Engraçado, é que de outras vezes os torcedores incomodavam os prédios vizinhos, xingando porteiros e moradores, jogando garrafas nas garagens e jardins. Mas a PM nunca fez nada. Ficava só de longe, olhando.
Mas quando o patrimônio do clube foi atingido, bem aí foi outra estória.
Garantir a segurança do cidadão, como é de seu dever, a PM não faz. Mas garantir patrimônio de um ente particular, é na hora.
E a diretoria do Atlético continua com total desrespeito aos moradores e aos seus torcedores. Moradores já cansaram de fazer abaixo assinado para mudar o esquema de venda de ingressos. Mas, olimpicamente, a diretoria nos ignorou.
Quero ver até quando vai ignorar a torcida, que já fez um protesto recente contra a diretoria e agora quebrou o patrimônio do próprio time. E em vez de resolver o problema, a diretoria chama a polícia.
É difícil demais descentralizar as vendas? É difícil demais vender só no Mineirão? Ou em lojas de artigos esportivos? Ou em shoppings nas principais regiões da cidade (Barreiro, Venda Nova, etc)?
Fico imaginando como seria a venda de ingressos de um evento como o Pop Rock, em apenas dois dias e em um único lugar.
Por que o Atlético não deixa de ser amador e contrata uma empresa de produção de eventos, já que não consegue solucionar o arroz com feijão do seu metier?
Por aí a gente vê por que o clube não consegue entrar num único campeonato mais, a não ser com este desempenho pífio e desprezível!
Mas como disse um colega, "o Atlético está ali há mais de 30 anos, os vizinhos que se mudem", vou acabar tendo de me mudar.
E essa idéia me fez pensar que sou retirante em minha própria cidade: primeiro fugi da Nova Gameleira, tocada pela construção do Ceresp; depois fugi do Prado/Calafate, pela iminência da construção da nova rodoviária; e agora, bem agora é a torcida do Atlético. E nisso o Fernando tem razão: eu é que sou a intrusa.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Chico se mudou definitivamente


Duas coisas que escrevi aqui neste pedaço de mundo e que tiveram um desfecho triste: o apego aos nossos bichos de estimação, que se transformam em nossos parentes e a dor que é quando eles adoecem ou morrem (minha cooker Nicole, adoeceu em setembro passado, diabetes, ficou cega este ano e na semana passada morreu, depois de uma operação). E a transferência do macaco prego Chico, de Uberaba.
Chico morreu anteontem.
Em primeiro de novembro do ano passado fiz um post de desagravo ao Chico, que ia ser transferido da Mata do Ipê, onde nasceu e vivia, para outro lugar. O motivo era cômico, se não fosse absurdo: o bichinho estava incomodando os visitantes do parque, com roubos, agressões e bebedeiras.
Na época escrevi que o Chico devia ir no bar da esquina e pedir uns tragos de cachaça, só assim para se entender como ele tomava porres. Para roubar celulares, eu imagino que ele encostava um 38 no visitante e gritava: "passa o telemóvel!" (vai que o Chico era descendente de português).
As agressões que as "autoridades" disseram ser mordidas, deviam acontecer assim: o Chico passava uma carreira no de cujus e lhe mordia os calcanhares, afinal pelo seu tamanho, só poderia alcançar esta parte do corpo, mesmo que de uma criança, e ainda gritava "toma distraído!"
Pois bem, os problemas das autoridades acabaram-se: o Chico morreu. E tendo convulsões, o que leva a crer que não foi de morte natural.
Na minha opinião, o Chico morreu de melancolia, banzo, por ter sido expulso de sua terrinha natal, onde ele conhecia tudo, cada folhinha, cada minhoca e inseto, mandado para a distante Araxá, lá onde viveu Dona Beja.
Ou então as águas sulfurosas da famosa estância hidromineral não lhe caíram bem, apesar de serem ótimas para a pele.
Antes Chico tivesse continuado na cachaça.
Como disse da outra vez: os humanos continuam dando sinais de irracionalidade.

terça-feira, 22 de abril de 2008

O padre voador

O padre Ademir de Carli, de Santa Catarina, que tentou voar com uns balões de gás hélio amarrados no corpo e desapareceu pouco depois de decolar e ainda não foi encontrado, não chega a ser original.
A imprensa começou a chamá-lo de "padre voador".
Bem, padre voador foi a alcunha que o padre Bartolomeu de Gusmão, jesuíta brasileiro que se ordenou em Coimbra, recebeu por seus inventos, principalmente na área de aeronavegação.
Já por volta de 1700, Bartolomeu de Gusmão passou a dedicar-se exclusivamente à construção de uma espécie de balão. Recebeu ajuda do monarca português D. João V e fez várias tentativas de vôo.
A engenhoca foi batizado de Passarola e a história foi imortalizada por José Saramago, no "Memorial do Convento"

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Ainda a imprensa

Não sei mais em quê ou quem acreditar. O Roberto Cabrini estava ou não com cocaína?
O Fábio Assunção estava ou não comprando drogas (era maconha ou cocaína?) no apart de São Paulo?
Se Cabrini estava com o bagulho, por que não foi indiciado por tráfico? Afinal dez papelotes não são pouca coisa.
Se não estava, então quem armou pra cima dele? Será aberto inquérito para apurar a armação?
E o Fábio Assunção, se estava comprando, por que não foi preso?
Perguntas, perguntas, que os "noticiários" não respondem.
Aqui em Belo Horizonte, um jornalista foi acusado de ter matado a esposa em 2000.
Ele disse à época que tinha sido armação da polícia, insatisfeita com uma série de reportagens que ele escrevia sobre a corrupção naquela instituição.
O inquérito foi um festival de incompetência, com falta de provas, testemunhas importantes ignoradas, daí que depois de um calvário de quatro anos, nosso colega foi inocentado no 1º Tribunal do Júri.
Pelo menos a dolorosa experiência lhe valeu a venda feito água de um livro que acabara de lançar, Distrito Zero, quando foi acusado do crime, se se pode considerar isso um consolo.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Isabella Nardoni vira reality show

Mais uma vez a cobertura da mídia de um fato de extrema comoção social - a morte da menina Isabella Nardoni - vira espetáculo.
Entra década, sai década, entra caso, sai caso e o comportamento é o mesmo. Já não basta noticiar o fato. É preciso criar/inventar seus desdobramentos.
Já não se faz suíte - que no jargão jornalístico significa dar seqüência à notícia. Faz-se espetáculo. E espetáculo deprimente, como o que ora se presencia com o caso Nardoni.
Mas há menos de um mês era o caso da menina torturada em Goiânia, suplantado por um ibope melhor. Onde está o desdobramento daquele processo policial? A "empresária" - personagem criado pelos telejornais para se referir à mulher que adotou informalmente a menina -, continua presa? Já tem condenação?
Mas isso não importa, porque a morte de Isabella é a mais nova comoção. E a imprensa se esmera em dar seu show, pulando muros, plantando-se na frente da casa da família, ouvindo garçons, porteiros, vizinhos, cachorro e papagaio e mais um festival de besteiras de corar qualquer "foca" (outro jargão, me perdoem).
Como se não bastassem os Datenas, Marcelos, dizendo do pai da menina: "olha ali o indivíduo. Olha ele de bermuda, de boné". E a gente olhando, mas ainda assim precisando da descrição dos "comunicadores", senão não seríamos capazes de formar nossos próprios conceitos.
Como se não bastasse tudo isso, vem a Ana Maria Braga e fica ao vivo, 8 horas da manhã, falando e entrevistando sobre a morte da infeliz criança.
Infelizes de nós que vemos este degradante tratamento da desgraça e dores alheias. A Braga conversando com o produtor do jornalismo da TV para saber como seria a cobertura da emissora naquele dia. E depois, no dia seguinte, entrevistando o repórter, para ver como e onde ele iria ficar.
Só falta entrevistar o diagramador do jornal impresso para ver como ele desenhará a página com a notícia.
Vemos porque temos poucas opções de escapar da "cobertura", verdadeiro reality show da televisão brasileira, comercial e de cabo, indistintamente.
E além dessa lavagem cerebral, temos também uma pobreza de informação assustadora.
Mas, infelizmente, a cobertura jornalística virou mesmo um espetáculo, porque alguém chamado "mercado" determinou que o povo gosta mesmo é de big brother
E tome vizinhos descrevendo gritos e choros.
Sou mais o Gritos e Sussurros de Bergman.

domingo, 13 de abril de 2008

E a tecnologia me deixou na mão

Bem, fiz uns posts abaixo e queria ilustrá-los com umas fotos. Tirei umas da estrada de Cataguases, que ficaram muito bonitas. Fiz no celular, um Motorola Z não sei o quê, que tem uma câmara de 2 megapixels.
Bem, daí para o computador é só tirar o chip, colocar num adaptador com entrada USB e pronto!
Foi assim que fiz as fotos de Uberaba e Uberlândia, que para celular e internet estavam até muito boas.
Mas dessa vez falhou. As fotos não descarregaram de jeito nenhum. Nem com um cabo que também veio com o telefone, que por sinal ganhei da Telemig no final do ano, com o compromisso de me "fidelizar" (palavra do telemarketing dela) por 12 meses. Como se eu precisasse disso, 12 anos depois de "fidelidade" à Telemig.
Dessa forma vou ficar devendo as fotos lindas da Serra da Mantiqueira, com um céu escandalosamente azul. Prometo que só viajo agora com a minha câmara Sony, que já manejo bem e não com esses celulares descartáveis, que, com apenas cinco meses de uso, já começam a sofrer tudo quanto é tipo de piripaco.
ô preguiça dessas geringonças!

sábado, 12 de abril de 2008

Ainda as cadeias do Estado

Não foram só as cadeias de Ubá e Cataguases que me levaram a algumas reflexões. Visitei também a de Frutal, no Triângulo mineiro.
Embora em condição um pouco melhorzinha que as outras duas, ainda guarda aquela imagem de curral, de masmorra. Lendo outras matérias sobre cadeias, só fica a impressão: o sistema todo está falido.
Aliás, a impressão é mais ampla: não é só o sistema penitenciário, mas todo o estado está falido. Os problemas no atendimento de saúde à população de baixa renda, mostrados diariamente pelas televisões. Basta acompanhar, a escalada da dengue.
A degradação da educação, também para a população carente, está aí para ser conferida a qualquer momento.
Se se não se faz parte da classe que pode pagar com facilidade, ou daquela que a duras penas também ainda paga a saúde e educação particulares, o resto é o fracasso.
Daí não se poder ignorar a pergunta: para que serve o estado?
Se o estado não consegue garantir segurança, saúde e educação, pelos quais pagamos, para que precisamos dele afinal?
Não seria a hora de revermos os termos do contrato que fizemos quando saímos da fase do "o homem é o lobo do homem" e criamos o estado?
Vai chegar um momento que todos vão descobrir que não vale mais a pena termos o estado só para que alguns se locupletem, com cartões corporativos ou não.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Veja a beleza da estrada

Um acidente na estrada, onde um caminhão tanque pegou fogo, interrompendo o tráfego por mais de cinco horas, me levou a pensar: por que as pessoas correm tanto? Por que não curtem a beleza das rodovias?
Saindo de Ubá, na MG 265, até chegar ao entroncamento da BR-040, próximo a Barbacena, há um trecho magnífico da estrada. Até chegar a Cataguases, a rodovia é margeada por um verde intenso e a Serra da Mantiqueira, que oferece uma visão privilegiada. Por quilômetros e quilômetros é possível ver a serra que acompanha o motorista em todas as retas e curvas. Uma serra verdejante, viva, com um azul ao fundo, horizonte inconfundível dos dias de abril.
E entre um povoado e outro, umas casas encarapitadas nos morros que me levam a pensar: como foram parar ali? Como se faz para chegar lá?
Situação que nem um grande amor, como disse uma companheira de viagem, me levaria a viver em um lugar tão inóspito. É um pedaço de Santa Bárbara do Tugúrio.
Mas isso foi na ida para Ubá, porque na volta, depois que passamos por Rio Pomba, um acidente com o caminhão nos fez dar meia volta e ir até Juiz de Fora, onde o prefeito foi preso por roubar do FPM, e aumentar nossa viagem em mais de 120 quilômetros.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Ubá, Cataguases, cadeias

A profissão nos leva, às vezes, a situações, que por escolha própria, não gostaríamos de vivenciar. É o caso da visita às cadeias de Ubá e Cataguases, que fiz hoje.
Dá para entender alguns conceitos teóricos como degradação e outros nem tanto, como inferno e masmorras, depois de uma andada rápida por um corredor estreito, fedido, escuro.
Assim são as cadeias públicas de Ubá e Cataguases, na Zona da Mata.
Debaixo de um calor insuportável, com uma umidade de floresta tropical, que faz o suor escorrer incontrolável por todo o corpo, grudando roupas, cabelo, pensamentos, vai se vendo aqueles homens e mulheres atrás das grades, desesperança de uma humanidade perdida.
Páro do lado de fora da cadeia de Cataguases. Simplesmente não consigo acompanhar a visita. Não por problemas filosóficos, mas físicos mesmo. Saio porta afora pingando suor por todos os lados, morta de sede. Penso como é possível aos presos agüentar aquilo.
Na cadeia de Ubá, depois de ver algumas celas, páro numa sala que tem na entrada. Sento-me em uma cadeira capenga, sem forro, rasgada, dessas que os moradores de rua jogam fora, porque já não têm qualquer serventia.
Corro o olhar pelo resto dos "móveis": uma escrivaninha lascada, torta. Mais uma cadeia sem forro, lascada e outra "mesa" alquebrada. Pergunto para o escrivão para que serve aquela sala: "É para atender algum advogado que vai soltar um preso, ou algum familiar, ou qualquer coisa".
Passeio o olhar naquilo e entendo por que não sobra dinheiro para instalações decentes: alguns prefeitos têm de roubar do FPM, ou de outros fundos, para ter dez, doze carros, um milhão de reais em casa e armas, vá lá se saber para quê.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Arquitetando informações para todos

Mais do que aprender arquitetura da informação em um fim de semana, um curso sobre o tema me ensinou um pouco mais sobre manter a mente aberta.
Gosto de conhecer experiências novas, idéias idem. E estes cursos costumam ser plenos de gente jovem, outros nem tanto, como eu, mas que estamos sempre com uma curiosidade infinita para aprender.
Para instigar nossa mente, deixá-la perplexa, cutucar a imaginação, o Daniel Diniz, professor do curso de Arquitetura da Informação, passou um vídeo sobre tecnologias de navegação para cegos, os obstáculos que eles encontram para navegar, quase tão intransponíveis como os do dia a dia das cidades, e as soluções simples, se se quiser realmente democratizar este mundo que nasceu sob o signo da socialização.
Uma internauta cega vai falando de suas dificuldades, principalmente com bancos, cujos sígnos de acesso seu programa de leitura não consegue decifrar, e outro, também cego, vai indicando as soluções para superação dessa ou daquela dificuldade.
Achei fantástico o vídeo e adorei a cutucada.
Nunca como agora achei perfeita a máximna "há muito mais sobre o céu e a terra do que supõe a nossa vã filosofia".
Preocupados em distribuir a informação nos sites e em fazer tudo corretamente, não nos passa pela cabeça os públicos especiais: cegos, portadores de deficiências de membros superiores (mãos e braços), crianças, adolescentes, velhos.
E me lembrei da foto do Stephen Hawking ("O universo numa casca de noz", entre outros tantos)aprisionado a uma cadeira de rodas, inteiramente imobilizado, mas totalmente lúcido, com uma mente a milhões de anos luz à frente das nossas, usando o computador com os olhos.
E me torno esperançada: de que haverá sempre gente pensando à nossa frente, olhando o mundo com outro olhar, o olhar dos menos, dos deficientes, dos loucos, dos desvairados.
E tenho certeza de que é essa gente que faz o mundo caminhar e que torna nossa vida mais confortável nos pequenos detalhes do nosso cotidiano.

domingo, 6 de abril de 2008

Acredito em redes de ajuda

Acredito em redes de ajuda. Grupos que se vão formando, muitas vezes aleatoriamente, em função de um objetivo qualquer. Pode ser para ajudar numa operação médica cara, num transplante, para encontrar uma criança desaparecida, contra alguma mudança ou obra de governos títeres.
Muita gente recebe isso por email e deleta, com raiva de receber mais uma "corrente".
Separando estas, que realmente enchem o saco, gosto e acredito nas redes que se organizam socialmente. Já participei de inúmeras, como a Liga contra o Trauma, Doação de Medula, etc.
Exemplo de redes de ajuda, é o grupo criado na internet (yahoo grupos) para lutar contra a implantação da rodoviária no bairro Calafate em Belo Horizonte.
Fiz alguns artigos sobre o assunto, como ex-moradora do Prado/Calafate, e entrei com todo o entusiasmo nas campanhas dos moradores.
Contribuo como posso: escrevendo.
Desde que fui adicionada ao grupo, tenho recebido e-mails da Eliane Torquato, Vanessa Freitas, pessoas que não conheço, com quem nunca troquei uma palavra, mas que temos uma luta comum.
As redes sociais são o que há de moderno em mobilização social. E com a ajuda da internet, então, é o melhor dos mundos.
E como gosto muito de uma campanha, estou sempre em defesa de algo, uma colega minha já me nomeou presidente da associação comunitária da Portelinha (pra quem não sabe, a favela da novela das 8 da Globo, que além de toda a chatice e implausibilidade, ainda é politicamente incorreta, chamando o tal local de "favela" ao invés de "vila", como manda o figurino sociológico).
A turma contra a rodoviária no Calafate está ativa, participando de todas as reuniões sobre o tema, e já prepara uma ofensiva mais séria, que são as ações populares contra a prefeitura.
E viva a consciência política e social!

terça-feira, 1 de abril de 2008

Crianças que caem. Crianças que são torturadas

Não sei o que é mais macabro, se é que se pode identificar algum ponto de intercessão entre os dois fatos: crianças que caem de prédios em São Paulo, que são torturadas em Goiânia, ou a epidemia de dengue no Rio, esta doença boba, que continua a matar, enquanto o prefeito da cidade reza para o Senhor do Bonfim.
A criança que caiu jogada da janela (para isso inventaram a palavra defenestrar, que o eufemismo lingüístico nos levou a adotar em outro sentido, mais brando e conotativamente) nos deixa pasmos.
O que leva uma pessoa - sejam pais, parentes, assaltantes, babás, mães adotivas-, a cometer desatinos como este? Creio que nem a psicoliteratura é capaz de dizer.
E o que faz uma autoridade eleita para comandar uma cidade, que recebe para isso, que tem um mundo de benesses por causa do cargo que ocupa, a deixar uma doença típica da Idade Média a se alastrar e a dizimar, sobretudo crianças?
E ainda por cima declarar nas tvs que "rezou para o Senhor do Bonfim levar o mosquito da dengue para o mar"?
Será que alguém disse para ele que quem leva o mosquito para longe não é o Senhor, ou qualquer outro santo, mas sim uma política de saúde correta e séria?
Que não adianta verba atrás de verba, se não há responsabilidade com seu uso? Que privilegie o saneamento básico, políticas de combate à miséria, antes de qualquer atendimento de urgência?
É aceitável, no terceiro milênio após Cristo, conviver e morrer de uma doença que é típica da miséria dos séculos medievais?
E entre crianças que caem e são torturadas e crianças que morrem de dengue está o imponderável, o insondável da mente humana. E entre ambos está uma Justiça que não dá respostas para nossos estranhamentos.