Gui vendo disco voador
e a casa do pânico
Alexandre é dessas pessoas muito à vontade, que o vulgo costuma chamar de "folgado". É o caseiro da casa que alugamos em Búzios.
A casa é grande, em um terreno também muito amplo. E ele ficava por ali, o tempo todo, "desculpa", "com licença" e trançando por todo o lado. Logo cedo já estava rodeando a casa, ligando, desligando a bomba da caixa-d'água, muito conversado.
Bem, Alexandre é dado às lides alcoólicas, digamos assim, para não ofender Ana Paula, sua esposa, muito religiosa. É um casal novo, de trinta e poucos anos. Ela foi contratada para cozinhar para nós.
No dia 31, aquele climão todo de festa, a parentada da esposa espremida toda num barracão de dois quartos e o Alexandre comemorando o dia inteiro.
Comemorando a mineirada camarada que convidou todo mundo para a ceia, mas não esperou, porque estava doida para ir ver os fogos na praia, sabe como é, mineiro não perde trem.
Comemorando, puto, a parentada da Paula que veio para o Ano Novo, enquanto os seus próprios, mãe, irmãos e não sei mais quem, não apareceram para o Natal, porque estavam alagados em Campos.
E o Alê bebendo, "desculpe", "com licença", obrigou o sobrinho a passar um cortador de grama, deu um banho gelado no cunhado, namorado do irmão da Paula, no chuveiro da piscina, o coitado tremendo e olhando para nós com aquela cara de cachorro que caiu da mudança, "tó tintindo um frio"; e o Alê mandando, senhor dos impérios de Geribá e além mar.
Dia seguinte, a bebedeira continua.
Aí a briga explode, não podia ser de outro jeito, ainda mais que não houve explosão de fogos suficiente. Alguém tinha de soltar a pólvora acumulada o ano inteiro, que dependendo da situação, fica entalada mesmo ali no pescoço.
Foi efedepê para tudo quanto é lado, no finalzinho da tarde.
Aí a Paula juntou a família, incluindo o bebê de seis meses, e foi esfriar a cabeça na rua. E nós ficamos por ali, numa coisinha e noutra, a meninada mineira e pernambucana, travestida de paulista há mais de 13 anos, apagada no andar de cima, que mineiro também bebe os tubos.
Aí o Alê perdeu a medida, já nem "com licença" mais, reclamou que não foi convidado para o churrasco que os meninos fizeram à tarde. Que ninguém lhe ofereceu uma cerveja e dentro da casa procurou a Paula. Entrou em vários cômodos, "cadê a Paula?"
E disparou o alarme lá mesmo do barracão e vinha correndo xingando que alguém estava de brincadeira com ele. Isto três ou quatro vezes, cada vez mais alterado.
Minha irmã, tentando contornar, "vai para casa, amanhã a gente conversa". "Não, vou desligar o alarme, no andar de cima".
A casa é grande, em um terreno também muito amplo. E ele ficava por ali, o tempo todo, "desculpa", "com licença" e trançando por todo o lado. Logo cedo já estava rodeando a casa, ligando, desligando a bomba da caixa-d'água, muito conversado.
Bem, Alexandre é dado às lides alcoólicas, digamos assim, para não ofender Ana Paula, sua esposa, muito religiosa. É um casal novo, de trinta e poucos anos. Ela foi contratada para cozinhar para nós.
No dia 31, aquele climão todo de festa, a parentada da esposa espremida toda num barracão de dois quartos e o Alexandre comemorando o dia inteiro.
Comemorando a mineirada camarada que convidou todo mundo para a ceia, mas não esperou, porque estava doida para ir ver os fogos na praia, sabe como é, mineiro não perde trem.
Comemorando, puto, a parentada da Paula que veio para o Ano Novo, enquanto os seus próprios, mãe, irmãos e não sei mais quem, não apareceram para o Natal, porque estavam alagados em Campos.
E o Alê bebendo, "desculpe", "com licença", obrigou o sobrinho a passar um cortador de grama, deu um banho gelado no cunhado, namorado do irmão da Paula, no chuveiro da piscina, o coitado tremendo e olhando para nós com aquela cara de cachorro que caiu da mudança, "tó tintindo um frio"; e o Alê mandando, senhor dos impérios de Geribá e além mar.
Dia seguinte, a bebedeira continua.
Aí a briga explode, não podia ser de outro jeito, ainda mais que não houve explosão de fogos suficiente. Alguém tinha de soltar a pólvora acumulada o ano inteiro, que dependendo da situação, fica entalada mesmo ali no pescoço.
Foi efedepê para tudo quanto é lado, no finalzinho da tarde.
Aí a Paula juntou a família, incluindo o bebê de seis meses, e foi esfriar a cabeça na rua. E nós ficamos por ali, numa coisinha e noutra, a meninada mineira e pernambucana, travestida de paulista há mais de 13 anos, apagada no andar de cima, que mineiro também bebe os tubos.
Aí o Alê perdeu a medida, já nem "com licença" mais, reclamou que não foi convidado para o churrasco que os meninos fizeram à tarde. Que ninguém lhe ofereceu uma cerveja e dentro da casa procurou a Paula. Entrou em vários cômodos, "cadê a Paula?"
E disparou o alarme lá mesmo do barracão e vinha correndo xingando que alguém estava de brincadeira com ele. Isto três ou quatro vezes, cada vez mais alterado.
Minha irmã, tentando contornar, "vai para casa, amanhã a gente conversa". "Não, vou desligar o alarme, no andar de cima".
Foi lá, seguido de minha irmã e do meu sobrinho Guilherme, um galalau de 1,90m. Andou por lá, onde Touro Indomável estava no oitavo sono dos justos. Não desligou nada, desceu as escadas correndo e gozando a "vagareza" de minha irmã e sobrinho.
E levou ela até o barracão, totalmente às escuras. Saí correndo atrás e chamei o Guilherme. Imagina, ir sozinha lá naquela escuridão, com o Alê surtado, afirmando que estávamos escondendo a Paula.
Pano quente vai, pano quem vem e o Alê diz que vai embora, descansar, mas pede para dar um mergulho na piscina e usar o chuveiro. "Pode?"
"Não, não pode", arrebento, com minha corda finíssima de violino. "Meu irmão está dormindo e vai se incomodar".
Ele sai para seu barraco catando cavaco, desembainhando espadas, enfrentando dragões e xingando e "muito obrigado", "muito obrigado".
Entramos meio assustados agora, conjeturando se a Paula tinha enchido o saco e se mandado de vez.
E sintoma do nosso medo: não fizemos piadas como em outras situações. É que alguém lembrara que ele dissera ter uma arma. Ficamos por ali, "faz isso, vamos fazer aquilo, liga para o dono, e tal", quando vou à cozinha e dou de cara com o Alê do lado de fora dando murros na janela de vidro.
Saio correndo, subo ao andar de cima, acordo o Samuel. "Samuel, Samuel, acorda, estamos tendo um problema com o caseiro, ele está surtado".
A irmã do pano quente conversa com Alexandre, depois de abrir a porta da cozinha e ouvir as queixas dele sobre a Paula ter sumido, eu não ter deixado ele entrar na piscina às 23 horas do dia 1º de janeiro e de os garotos não terem lhe chamado para o churrasco.
Ele se vai e nós ficamos por ali, assustadíssimas, só as mulheres, (dois homens apagados embaixo e um em cima e dois acordados, olhando com cara de filhos, esperando a decisão da mãe).
E alarmadíssimas, mirabolando chacinas, ataques a machadadas, incêndios com nós todos dentro da casa: "liga para o Pedro, cadê o telefone, vamos à polícia". Pedro é o dono.
Brigamos entre nós, nos agredimos e o Alê no santo sono pós porre.
Sai uma comitiva para ir à polícia, fica duas horas na rua, vai numa delegacia e não é aquela, fica presa num engarrafamento, pega uma van do turismo sexual e volta para casa de mãos abanando, mas pelo menos falamos com o proprietário que promete vir no dia seguinte, logo cedinho.
Entre mortos e feridos, salvamos-nos todos, depois de uma noite em claro, esperando o ataque do Alê.
E a meninada de plantão o resto da noite na cozinha, conversando casos de família, que os paulistas não conhecem, porque foram embora muito pequenos e não sabem nada de nós.
De nossas bebedeiras, de nossas idiossincrasias, de nossas doenças, de nossas explosões e paranóias. E com certeza não ficaram sabendo de nossa generosidade, de nossa estranha afetividade, de nosso companheirismo, porque o dia não era para estas histórias. Estas ficam para uma outra vez. O clima era de terror e histórias de bondade não combinam.
Pedro quis mandar os caseiros embora e nós não permitimos. Pediu para um de nós fazer um boletim de ocorrência para ele se municiar para o caso de uma demissão por justa causa.
"Eu é que não vou ajudá-lo a resolver um problema que é dele. O nosso foi ontem, com a ameaça do caseiro", acordamos entre nós, depois de muito custo para convencer uma das irmãs, que queria porque queria ir, para não parecermos incoerentes.
E ficamos nisso. Com muitas desculpas do Alê e da Paula, pela "carraspana", e no resto da temporada cada um no seu papel.
Ah, quase me esqueci. O Alê não tinha arma nenhuma, segundo o Pedro, tudo não passava das mentiras que o caseiro gosta de contar, como a de que o proprietário é militar, quando na verdade é engenheiro. "Bravatas"...
Palavras há muito esquecidas, como carraspana e bravatas, usadas por um caseiro e um engenheiro, foram o meu saldo.
"A marvada pinga é que me atrapaia"....
E levou ela até o barracão, totalmente às escuras. Saí correndo atrás e chamei o Guilherme. Imagina, ir sozinha lá naquela escuridão, com o Alê surtado, afirmando que estávamos escondendo a Paula.
Pano quente vai, pano quem vem e o Alê diz que vai embora, descansar, mas pede para dar um mergulho na piscina e usar o chuveiro. "Pode?"
"Não, não pode", arrebento, com minha corda finíssima de violino. "Meu irmão está dormindo e vai se incomodar".
Ele sai para seu barraco catando cavaco, desembainhando espadas, enfrentando dragões e xingando e "muito obrigado", "muito obrigado".
Entramos meio assustados agora, conjeturando se a Paula tinha enchido o saco e se mandado de vez.
E sintoma do nosso medo: não fizemos piadas como em outras situações. É que alguém lembrara que ele dissera ter uma arma. Ficamos por ali, "faz isso, vamos fazer aquilo, liga para o dono, e tal", quando vou à cozinha e dou de cara com o Alê do lado de fora dando murros na janela de vidro.
Saio correndo, subo ao andar de cima, acordo o Samuel. "Samuel, Samuel, acorda, estamos tendo um problema com o caseiro, ele está surtado".
A irmã do pano quente conversa com Alexandre, depois de abrir a porta da cozinha e ouvir as queixas dele sobre a Paula ter sumido, eu não ter deixado ele entrar na piscina às 23 horas do dia 1º de janeiro e de os garotos não terem lhe chamado para o churrasco.
Ele se vai e nós ficamos por ali, assustadíssimas, só as mulheres, (dois homens apagados embaixo e um em cima e dois acordados, olhando com cara de filhos, esperando a decisão da mãe).
E alarmadíssimas, mirabolando chacinas, ataques a machadadas, incêndios com nós todos dentro da casa: "liga para o Pedro, cadê o telefone, vamos à polícia". Pedro é o dono.
Brigamos entre nós, nos agredimos e o Alê no santo sono pós porre.
Sai uma comitiva para ir à polícia, fica duas horas na rua, vai numa delegacia e não é aquela, fica presa num engarrafamento, pega uma van do turismo sexual e volta para casa de mãos abanando, mas pelo menos falamos com o proprietário que promete vir no dia seguinte, logo cedinho.
Entre mortos e feridos, salvamos-nos todos, depois de uma noite em claro, esperando o ataque do Alê.
E a meninada de plantão o resto da noite na cozinha, conversando casos de família, que os paulistas não conhecem, porque foram embora muito pequenos e não sabem nada de nós.
De nossas bebedeiras, de nossas idiossincrasias, de nossas doenças, de nossas explosões e paranóias. E com certeza não ficaram sabendo de nossa generosidade, de nossa estranha afetividade, de nosso companheirismo, porque o dia não era para estas histórias. Estas ficam para uma outra vez. O clima era de terror e histórias de bondade não combinam.
Pedro quis mandar os caseiros embora e nós não permitimos. Pediu para um de nós fazer um boletim de ocorrência para ele se municiar para o caso de uma demissão por justa causa.
"Eu é que não vou ajudá-lo a resolver um problema que é dele. O nosso foi ontem, com a ameaça do caseiro", acordamos entre nós, depois de muito custo para convencer uma das irmãs, que queria porque queria ir, para não parecermos incoerentes.
E ficamos nisso. Com muitas desculpas do Alê e da Paula, pela "carraspana", e no resto da temporada cada um no seu papel.
Ah, quase me esqueci. O Alê não tinha arma nenhuma, segundo o Pedro, tudo não passava das mentiras que o caseiro gosta de contar, como a de que o proprietário é militar, quando na verdade é engenheiro. "Bravatas"...
Palavras há muito esquecidas, como carraspana e bravatas, usadas por um caseiro e um engenheiro, foram o meu saldo.
"A marvada pinga é que me atrapaia"....
4 comentários:
Nooossaaa!!! Tudo nos miiiiiinimos detalhes?
Manda as fotos pro Guilherme: guimartins@click21.com.br e
jack_tequila@hotmail.com
Nossssssssssssssaaaaaaaaaa!!!
UFA!
Depois de longos anos deixando sua leitora sem as matérias mirabolantes ou minunciosas como esta, eis que surge uma boa história. Adorei os detalhes e vou tentar agregar as novas palavras ao meu humilde conhecimento linguístico.
bjs Camila
obs:Roteiro de filme heim! "MINEIROS EM FÉRIAS"
KKKKKKKKKKKKKK
Nossa! Que aventura! Êta família sortuda, hein! Com tanto casarão em Búzios, escolher logo a casa do caseiro mal assombrado! Abraços!
Bem vinda Bruna,
Obrigada pela visita.
É ou não é uma "sorte" termos escolhido esta casa? E vc nem imagina que houve até votação na hora da escolha !
Volte sempre a este cantinho e contribua com seus comentários.
Bj
Adriana
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