Um governo que tem ministros como os que o Lula tem não precisa de inimigos.
Primeiro vem um na tv, dá uma entrevista pedindo a revisão da Lei de Anistia, para punir os torturadores, anistiados junto com os torturados. Claro que depois, quando viu o tamanho da crise institucional envolvendo as Forças Armadas, desmentiu tudo. "Foi a imprensa que distorceu", óbvio, a culpa é sempre do jornalista.
Agora vem o da Educação, Fernando Haddad e diz que vai formar uma comissão para estudar o fim do diploma para o exercício do jornalismo.
Ô santa ignorância! Ô inocente útil!
Pois a declaração do ministro estampou uma das principais páginas da Folha de São Paulo hoje, exatamente no dia em que o Supremo Tribunal Federal iria analisar a ação que começou na justiça paulista, com uma destrambelhada de uma juíza de primeira instância ajuizando a favor de um camarada que queria ser jornalista sem ter passado pelo curso correspondente.
Aliás, vou trocar "correspondente", por "curso de formação", já que a coisa está tão bagunçada que já tem gente querendo fazer jornalismo por correspondência, em três meses.
Pois o Haddad foi mais infeliz ainda, disse que era a favor de se "flexibilizar" as exigências da profissão de jornalista. "Outros profissionais podem exercer o jornalismo, desde que passem por uma preparação".
Que preparação, ô ministro?
Um cursinho Madureza?
Por que não flexibilizar a profissão de engenheiro, médico, advogado, sociólogo, professor, dentista, arquiteto, só para citar as mais conhecidas?
Santa ignorância que acredita até hoje que para ser jornalista basta saber escrever. Até hoje não disserem para estes juízes e ministros que um currículo de quatro anos tem que ter algo mais do que o simples aprender a escrever?
Santa inocência que se presta a fazer o jogo do patronato, doido para "flexibilizar", porque aí pega esses mainardis da vida, e nem paga nada, só cedendo o espaço para que realizem seus egos incomensuráveis. Não precisam pagar salário, encargos, dar férias.
O cerne do erro está na indistinção entre jornalista e colaborador. Tudo bem, que o dono do jornal queira usar o colaborador, aquela figura "famosa", para escrever um artigo e agregar status à sua empresa. E vice-versa.
Mas quero ver como fica na hora de fazer a cobertura diária, de ficar horas numa reunião, numa assembléia, numa delegacia, numa porta de hospital, na estrada onde acabou de bater um ônibus cheio de romeiros, de cair um caminhão cheio de bóias-frias, nessa busca insana, cotidiana, de dar à sociedade o direito constitucional à informação, direito, aliás, humano, antes de constitucional.
Ministro da Educação deveria é discutir a qualidade das escolas, das universidades, dos currículos, das mensalidades exorbitantes das escolas privadas, dos motivos pelos quais os alunos chegam ao ensino médio tartamudeando numa simples leitura.
Ministro não tem de achar isso ou aquilo, tem é de fazer jus ao salário que recebe pago por nós, inclusive jornalistas, e melhorar o desempenho de sua pasta.
O ministro Haddad foi de uma infelicidade completa ao dar essa entrevista, nesse dia histórico para nós jornalistas, que nos mobilizamos em todo o Brasil, em defesa da exigência do diploma para o exercício da profissão.
O direito à informação não pode estar submetido à vontade de donos da mídia, ao viés de seus interesses. E contra isso, o antídoto é o jornalista formado em escolas.
Que alguém conte isso para o inocente útil, pelo amor de Deus!
PS - Estava terminando a postagem, quando recebi a nota do sindicato, que transcrevo abaixo:
x.x.x.x.x.
SJPMG promove mobilização pela regulamentação do diploma
“Se não houver a regulamentação, qualquer pessoa pode escrever sem compromisso nenhum com a ética, ou seja, ele não vai ser penalizado, a sociedade não vai poder reclamar dele junto, por exemplo, às Comissões de Ética”, alertou o presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, Aloisio Morais Martins, durante manifestação realizada pela categoria, hoje, em defesa da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão.
No início da tarde, profissionais, estudantes e professores de jornalismo, portando bandeiras e camisas da campanha “Jornalistas por Formação”, reuniram-se em frente ao prédio da Justiça Federal, no bairro Santo Agostinho, em Belo Horizonte, para conscientizar a sociedade sobre a importância da regulamentação do diploma. O Ato Público foi marcado também pelo discurso de jornalistas, além da distribuição de folhetos aos cidadãos.
Ao ressaltar a necessidade do diploma, a Diretora de Direito Autoral e Imagem do Sindicato dos Jornalistas, Vera Lucia Godoi de Faria, criticou a declaração do Ministro da Educação, Paulo Haddad, publicada, hoje, pelo jornal Folha de São Paulo, sobre a possibilidade de graduados em outras áreas poderem ser diplomados em Jornalismo mediante formação complementar: “Eu acho um absurdo porque é mais uma forma de precarizar a profissão, que exige tempo, dedicação, foi um momento inoportuno“.
A manifestação dos jornalistas, em Belo Horizonte, foi realizada simultaneamente ao Ato Público promovido pela Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ, em frente à sede do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília. A iniciativa visa sensibilizar os Ministros do STF, que votarão, em breve, a ação que questiona a exigência de formação profissional para Jornalista. Também foram coletados, em todo o Brasil, abaixo-assinados em favor da manutenção do diploma, encaminhados aos Ministros do STF, sendo mais de 3.000 assinaturas somente em Minas Gerais.
A campanha tem sido apoiada por diversos setores da sociedade, inclusive entidades de jornalismo de todo o mundo. “A formação é essencial para o exercício responsável da profissão. São técnicas, preceitos, princípios éticos. Seria um retrocesso a falta de regulamentação. A sociedade moderna exige um jornalismo cada vez mais qualificado e tem esse direito”, esclarece a Diretora Jurídica do Sindicato dos Jornalistas, Maria Candida de Medeiros Cânedo.
Mais informações
Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais
Av. Álvares Cabral, 400, Centro
(31) 3224-5011
E-mail: mailto:eventos@sjpmg.org.br
Site: http://www.jornalistasdeminas.org.br/
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
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Um comentário:
Esse negócio do diploma é seríssimo. Se com a exigência já tem um monte de modelo e atriz se aventurando a fazer "reportagens" imagina se liberar geral? E é o que você falou, cobrir o camarote da carnaval de Salvador todo mundo quer. Quero ver fazer reportagem investigativa, correr risco, ou então passar horas atrás de uma mísera informação sobre o buraco da rua... Estou enrolando para escrever sobre isso, mas esse seu post me animou.
Beijos,
Ana Paula
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