sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Porões da ditadura

O ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, Paulo Tarso Vannuchi, foi centro de uma polêmica recentemente. Em uma entrevista, disse uma frase descuidada que se transformou em tremenda saia justa para o governo do Lula: a revisão da Lei da Anistia, que colocou num saco só torturadores e torturados, perdoando a todos.
Participando da Conferência Estadual de Direitos Humanos na Assembléia, ontem e hoje, ele negou que tivesse defendido a revisão da lei.
Como sempre é culpa da imprensa que distorce tudo.
O camarada fala algo no meio de um monte de outras coisas e os jornalistas com diploma, treinados em cursos de quatro anos e mais para pinçar "furos" na verborragia das autoridades, dão destaque àquilo. No dia seguinte é aquela surpresa do descuidado, que corre para desmentir tudo.
Diz o ministro que esta revisão deve ser feita pelo Judiciário, como foi feito na Argentina e Chile. Ou seja, desmentiu que tivesse defendido a revisão pelo governo, mas não negou a idéia. Só a creditou ao órgão de direito.
E Minas Gerais, que tem um dos mais fortes movimentos de luta dos direitos humanos no país, deu o primeiro passo.
Colocou entre suas propostas para a conferência nacional em dezembro, a punição para os torturadores, mesmo que essa mancha negra da nossa história já tenha 20 anos. E a criação de um Centro da Memória, em Juiz de Fora, onde ficaram vários presos políticos, no presídio de Linhares.
Podem achar que é revanchismo, que é revirar antigos esqueletos, mas é preciso pensar naqueles que perderam filhos, irmãos, pais, desaparecidos nos porões da ditadura, e até hoje não tiveram acesso a seus restos mortais.
Não dá para varrer o lixo para debaixo do tapete eternamente. Não sou a favor de punições tardias, mas da abertura dos arquivos secretos, que até hoje se escondem sob a névoa do pára-poder do estado nacional. É preciso que toda a história seja conhecida e não apagada da nossa memória, como se nunca tivesse existido.

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