quarta-feira, 23 de julho de 2008

As portuguesas II

O consulado é um pequeno espaço e gente se espremendo por todo canto. Com muito custo chega minha vez de pegar uma senha no balcão, onde um homem faz uma triagem. Explico meu caso, ele diz que não tenho direito, porque meu pai já morreu.
Aí falo com ele que encontrei o vice-cônsul num evento que fui cobrir e conversa vai, conversa vem, o vice garantiu que eu tinha direito, só meus filhos é que não. Quando falei vice-cônsul, acho que ele entendeu a linguagem, afinal este jeitinho foram eles, portugueses, que inventaram.
Sai, vai lá dentro e volta com uma ficha para eu ser atendida pela bambambam de nacionalidade deles. Mas a ficha estava muito longe e resolvo voltar outro dia. Pergunto que dia é mais tranquilo.
"Volte na sexta, mais cedo, assim lá pelas 7h, 7h30, que você será uma das primeiras a ser atendida". O consulado funciona só de 8 às 12 horas.
Vou embora pensando no meu avô quando chegou ao Brasil.
Desembarca no porto no Rio de Janeiro e ali mesmo, o serviço de imigração cadastra todo mundo. Como ele veio sozinho, com 19 anos, certamente foi agregado a alguma família que veio completa: pai, mãe e filhos. Ou não, já que não era menor de idade, como muitos imigrantes que vinham nessa condição.
E se o cadastro não era feito ali no porto mesmo era feito em Juiz de Fora, na pensão para onde ia a maioria que vinha trabalhar na estrada de ferro Central do Brasil, que estava em expansão em Minas Gerais. E meu avô veio parar em Jeceaba, chamada antes de João Ribeiro, Serra do Camapuã, ou outra coisa qualquer, que hoje é a cidade de Entre Rios.
Procuro seu rastro no serviço disponibilizado recentemente pela Secretaria da Cultura, na internet, um site do Arquivo Público Mineiro. Fantástico pedaço da nossa história ali, à disposição de todos, por um simples clique.
Vou recolhendo pedaços de lembranças do meu pai falando sobre seu pai: que meu avô veio de uma aldeia na região do Rio Douro, que gostava de ouvir rádio ao cair da tarde, músicas tristes, que falavam de dores, de abandonos, de desgraças. E gostava de ouvir fados, claro. E lembro do meu pai que também ouvia estas músicas, com um de nós, seus filhos menores, ao colo. Dessa época, me vem à lembrança a múscia lamentosa de Amália Rodrigues.
E descubro a origem de um traço constante em nossa família: a melancolia.
A do meu avô era saudade de sua terra. Da mulher que deixou lá, do filho que nem conheceu. De seus pais, tios, vida.
A do meu pai e a nossa é saudade de algo que nem nós sabemos. Que veio impressa em nossos genes.
Por isso eu preciso ir a Portugal, numa aldeia chamada Espinho, no distrito que agora sei tratar-se de Aveiro e ver uma casa que ainda está lá, visitar uma pequena igreja onde meu avô Joaquim foi batizado e ver seu registro, que minhas primas já viram.
Por que o consulado não entende isso?

Um comentário:

Anônimo disse...

Que bom procurar nossa história, né.. Uma viagem a Terrinha seria demais, você tem que ir!
Em breve, terei novidades também. Visto permanente para a Espanha. Ai, ai, que chique!!
Sarah