Recebo mais este artigo, no dia seguinte à "enésima" audiência na Assembléia sobre a construção da rodoviária no Calafate, que aconteceu ontem (17). Este processo escandaloso tem que ter fim. O Ministério Público precisa tomar uma atitude mais propositiva.
O QUE ESTÁ POR TRÁS DA MUDANÇA DA RODOVIÁRIA DE BELO HORIZONTE
Ubirajara Tadeu Malaquias Baía – Engenheiro Civil e Mestre em Engenharia de Transportes
Infelizmente nosso futuro está mesmo complicado em termos de mobilidade urbana. Como se não bastasse a desova contínua e crescente de veículos novos pelas montadoras, a política pública de favorecer o veículo particular segue sendo privilegiadíssima pela direção da BHTrans.
A malfadada proposta de transferir a atual Rodoviária para a região do Calafate é prova cabal desta desastrada campanha de desfavorecimento do transporte público. Como é do conhecimento público, a demanda por viagens em ônibus partindo (ou chegando à) da Rodoviária vem caindo ano após ano, o que, em grande parte, é explicado pelos altos preços das passagens. A viagem por ônibus só é mais interessante do que viajar em veículo particular quando se trata de motorista viajando sozinho em seu carro. No caso deste mesmo motorista viajar acompanhado de uma ou mais pessoas, a viagem por ônibus fica muito mais onerosa do que a viagem em veículo particular, qualquer motorista sabe muito bem disto.
Como se isto só já não bastasse, vem a BHTrans com proposta de onerar ainda mais as já polpudas tarifas cobradas dos usuários do transporte por ônibus intermunicipais e interestaduais. Pelo que sei, isto é competência do DER-MG (âmbito estadual) e da ANTT (âmbito federal), pois que a BHTrans somente detém sob sua jurisdição o transporte urbano no município de Belo Horizonte. Só para citar um exemplo, um passageiro de ônibus que parte da Rodoviária, mesmo já tendo sido "mordido" na taxa de utilização do terminal, se quiser fazer uso do banheiro, tem que dispender mais uma taxa. Enquanto que nos aeroportos, tanto no da Pampulha quanto no de Confins, onde o público alvo tem poder aquisitivo bem superior ao típico usuário do ônibus rodoviário, qualquer pessoa pode fazer uso das instalações sanitárias sem a necessidade de ter que pagar qualquer taxa.
Com a Rodoviária em sua atual localização podemos garantir, com toda certeza, que qualquer passageiro da região metropolitana precisa fazer somente uma viagem para acessá-la, uma vez que, no máximo a cinco ou seis quarteirões passam linhas de ônibus praticamente para qualquer bairro da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Com a mudança para o Calafate, a imensa maioria destas mesmas pessoas precisará tomar duas linhas de ônibus, pois que a oferta de ônibus nas proximidades do novo terminal nunca será nem ao menos parecida com a oferta existente no centro da cidade.
Isto fará também com que o afluxo de veículos particulares demandando à nova rodoviária seja muito superior ao verificado hoje. É de se esperar que haja um aumento no número de veículos particulares levando/buscando passageiros em razão da menor oferta de transporte público na região. Para tanto, bastam que três passageiros, que hoje fazem uso do transporte público, passem a fazer uso do veículo particular para que o pseudo "ganho" com a retirada dos ônibus rodoviários da área central seja totalmente anulado e, o que é ainda pior, até mesmo agravado se o número de veículos for superior a três por cada ônibus que chega ou parte da nova rodoviária. Um ônibus rodoviário, onde normalmente viajam 48 pessoas, ocupa o mesmo espaço na via ocupado por três carros populares. Em resumo, não há ganho nenhum, nem para os passageiros, nem para o trânsito de um modo geral, pois todos só têm a perder!
Na realidade, o que é preciso fazer mesmo é atacar de verdade os poucos problemas que a Rodoviária atual apresenta, pois que a BHTrans até hoje só cuidou dos sintomas e nunca levou a cabo medidas eficazes para solucionar o problema na sua raiz. De concepção arrojada, com projeto escolhido mediante concurso público, ocorrido em plena ditadura militar, os problemas da atual Rodoviária se restringem à saída e ao retorno dos feriados prolongados, quando o movimento de passageiros aumenta significativamente, causando problemas no trânsito do seu entorno. A construção de uma nova área para desembarque, que poderia ser construída em uma laje por cima do Ribeirão Arrudas, entre os dois viadutos laterais, permitiria mais do que dobrar a atual capacidade de desembarque de ônibus, acrescentando 20 novas vagas às 15 hoje existentes. Esta nova plataforma poderia ser facilmente acessada por uma passarela interligando, de forma eficiente e adequada, o saguão principal da Rodoviária com o saguão da Estação Lagoinha do MetrôBH. Embora esteja ali, bem do lado, os dois terminais de passageiros estão de costas um para o outro e o pobre do usuário é que se dane com a chuva, o sol, a bandidagem, a sujeira e com tudo mais de ruim que orbita aquela região da cidade.
Transferir as linhas interestaduais e aquelas de cidades do interior situadas acima dos 200 – 250 km de distância da capital é totalmente compreensível e se faz necessário mesmo. Mas transferir toda a Rodoviária do Centro para o Calafate, com o Expominas e a Universidade Católica bem ali do lado, aí é uma verdadeira loucura, para não dizer outra coisa... As viagens mais longas devem mesmo sair do Centro, mas têm que ser transferidas para um local além do Anel Rodoviário. Uma opção inteligente e muito mais em conta para a sociedade seria transferir tais viagens para o Terminal Leste da Estação de Integração São Gabriel do MetrôBH, que se encontra bastante ocioso desde o início da operação dos ônibus urbanos integrados ao metrô naquele local. Com poucas adaptações o terminal poderia ser transformado em uma rodoviária para acomodação dos ônibus de longo percurso e já nasceria dentro de uma estação do MetrôBH, às margens do Anel Rodoviário.
As viagens de até 200 – 250 km necessitam permanecer na área central pois, até este raio limítrofe é possível para um morador do interior vir à capital pela manhã, resolver todos os problemas dele durante o dia e, no final da tarde, tomar seu ônibus de volta e jantar em sua casa à noite. Fazer esta pessoa desembarcar longe do Centro e ter que tomar condução para alcançar seu destino, que na maioria das vezes está na área central e/ou na região hospitalar da cidade, é, no mínimo, uma covardia, uma maldade. Mas, infelizmente, a atual administração de Belo Horizonte parece mesmo que só visa a satisfação dos empresários que estão por trás disso tudo, leia-se DMA Distribuidora, dona do EPA, Mart-Plus e Via-Brasil, a quem interessa a construção de um centro comercial no Calafate com uma rodoviária embaixo garantindo seus lucros. Este é o verdadeiro mote para se transferir a Rodoviária, o resto é conversa pra boi dormir... Mas, e o povo, onde fica o povo nessa história toda? Ora, o povo é que se dane não é mesmo Sr. Fernando Pimentel?!...
Ubirajara Tadeu Malaquias Baía
METRÔBH/CBTU/STU-BH
Analista Técnico
ubirajara@cbtu.gov.br
utmbaia@hotmail.com
sexta-feira, 18 de julho de 2008
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Um comentário:
Gentê! O assunto "Rodoviária" voltou a bombar! Achei que a dona do blog já estava menos iradah...
Mas acho que não vai ter jeito mesmo. O seu Calafate, daqui a pouco tempo, não será mais o mesmo!
Sarah
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