A MMX, apesar de ser uma empresa recente, que ainda não teve tempo suficiente para arrebentar com ecossistemas de onde se instala - como a Vale -, já tem uma boa folha corrida de peraltices.
Primeiro, o Eike Batista foi corrido da Bolívia em abril de 2006, depois de uma tentativa frustrada de implantar um empreendimento altamente poluidor naquele país. Como já estava em andamento o projeto Corumbá, de instalar um baita complexo siderúrgico no Mato Grosso do Sul, ele passou a pressões políticas e econômicas para agilizá-lo, conforme denúncias de ambientalistas de lá. http://arruda.rits.org.br/oeco/servlet/newstorm.ns.presentation.NavigationServlet?publicationCode=6&pageCode=67&textCode=21219&date=currentDate&contentType=html
No Mato Grosso, o licenciamento passou a sair num piscar de olhos, deixando todo mundo de cabelo em pé, com medo de ver o Pantanal virar uma nova Cubatão. Lá o Ministério Público está com ação civil pública contra a MMX. (www.prms.mpf.gov.br/info/not/images/20070412-01.pdf )
O outro braço da MMX, o projeto do Amapá, corre solto, porque lá naquelas lonjuras acontece de tudo, a não ser quando os índios fecham as estradas (parece que os pataxós de Carmésia andam vendo televisão). Mas se não dá problema no Amapá, de onde vai extrair uma montanha de ferro para mandar para o exterior, a forma de mandá-lo é uma verdadeira odisséia.
A MMX quer construir um porto flutuante no Pará, por onde o minério escoaria, em comboios de barcaças. Coisa de louco! O Ministério Público do Pará botou os olhos em cima e a coisa virou polêmica. "Peraí né gente, também não é assim, isto aqui não é a casa da mãe Joana não", decretou o MP paraense. http://www.portogente.com.br/texto.php?cod=15322
Aqüeduto lá, mineroduto aqui em Minas, onde a MMX vendeu quase todo o controle acionário do projeto Minas Rio, para a Anglo American.
Aqui falta o MP tomar uma medida qualquer, nem que seja obrigar a empresa a fazer um amplo esclarecimento à sociedade e não ficar comprando as terras de Conceição, Serro, Alvorada por valores milionários. Não ficar prometendo milhares de empregos para os coitados dos moradores que não têm alternativas de ocupação nessas cidades pequenas. Não ficar prometendo uns caraminguás para os prefeitos delas, sob a carapaça de desenvolvimento, que depois todo mundo verá do que se trata, mas aí já serão outros governantes.
Os índios da reserva Guarani, de Carmésia, desbloquearam a estrada, mas estão com os caminhões com os tubos do mineroduto. Ótimo, pelo menos a MMX foi obrigada a descer do pedestal, nem que por um minutinho só.
O Fórum de Desenvolvimento Sustentável tem um documento já apresentado ao MP com uma lista de irregularidades no processo de lá. Pedi uma cópia para o pessoal do Fórum. Estou aguardando.
Mas enquanto isso, sem licença, com licença, com processo na justiça, sem processo, com projeto ou não, a MMX vai caminhando tranquilamente, aqui, no Mato Grosso e no Amapá.
Um dia, quando acordarmos, teremos só essa "terra devastada"
(Eis a natureza, árida, desolada, como metáfora da condição humana):
"Terra devastada" (fragmentos)
T.S.Elliot
"Aqui água não há, mas rocha apenas
Rocha. Água nenhuma. E o arenoso caminho
O coleante caminho que sobe entre as montanhas
Que são montanhas de inaquosa rocha
Se água houvesse aqui, nos deteríamos a bebê-la
Não se pode parar ou pensar em meio às rochas
Seco o suor nos poros e os pés na areia postos
Se aqui só água houvesse em meio às rochas
Montanha morta, boca de dentes cariados que já não pode cuspir
Aqui de pé não se fica e ninguém se deita ou senta
Nem o silêncio vibra nas montanhas
Apenas o áspero e seca trovão sem chuva
Sequer a solidão floresce nas montanhas
Apenas rubras faces taciturnas que escarnecem e rosnam
A espreitar nas portas de casebres calcinados
Se água houvesse aqui
E não rocha
Se aqui houvesse rocha
Que água também fosse
E água
Uma nascente
Uma poça entre as rochas
Se ao menos um sussurro Aqui água não há, mas rocha apenas
Rocha. Água nenhuma. E o arenoso caminho
E água
Uma nascente
Uma poça entre as rochas
Não a cigarra
Ou a canora relva seca
Mas a canção das águas sobre a rocha
Onde gorjeia o tordo solitário nos pinheiros
Drip drop drip drop drop drop drop
Mas aqui água não há".
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