sexta-feira, 1 de maio de 2009

A vigilância que não vigia a gripe

Chego em Confins na madrugada de hoje, preparada para ser barrada, colocada numa ambulância e levada para o isolamento do Hospital das Clínicas.
Afinal estou voltando do México, de Cancún, mas estive também na capital, onde a epidemia se espalhou rapidamente.
Na saída do aeroporto mexicano recebi máscaras, folhetos explicativos sobre a doença e um questionário para responder sobre se senti dois dos seis sintomas.
Na escala no Panamá, a mesma coisa.
Mas no Brasil, em Beagá, nada aconteceu. Todo mundo desceu tranquilamente, apesar de uma mulher ter espirrado metade da viagem e de um senhor mais velho ter tossido outro tanto. Ambos sem proteger os incômodos com um lenço sequer.
Claro que é brincadeira a primeira frase, mas que eu esperava alguma coisa mais, esperava.
Afinal não dá para combater epidemia só com a boa vontade de cada um.
Eu me preveni com máscara, passei já do período de manifestação da doença (de 2 a 7 dias), mas poderia ter sido contaminada em qualquer dos aeroportos e só saber daqui a dois dias.
O chato é ver o ministro Temporão, com aquele cabelão ao vento, mastigando mentiras.
Não dá para fazer jogo de cena nestes casos.
Não dá para chamar a imprensa, principalmente tvs, para ir aos aeroportos, junto com a Vigilância Sanitária e fiscalizar um voo qualquer.
Dá ótimas imagens, mas não dá resultado.
Foi assim com a Aids, cujas campanhas levaram pelo menos 5 anos até atingir o público-alvo. E o estrago já estava feito.
As autoridades precisam saber que o público-alvo são os viajantes de aviões e navios que tenham passado pelo México e Estados Unidos. E precisam ser mais incisivas, pelo menos recomendando a estes passageiros que fiquem em casa por uns cinco dias, mais ou menos em isolamento, ou pelo menos evitando lugares de grande aglomeração, como igrejas, shoppings, teatros, cinemas, etc.
Eu vou fazer minha parte, me mantendo em semi-isolamento: dei folga de uma semana para a secretária e minha filha foi para a casa de amigos.
Minha consciência - ajudada pelo médico-chefe da instituição onde trabalho, o primeiro a sugerir a quarentena, via e-mail ainda quando eu estava no México -, não me permite agir de outra maneira.
E não é paranóia não: a epidemia teve uma disseminação galopante, passando de um nível a outro em menos de 48 horas. Enquanto eu escrevia num dia que ela estava no nível 4, já havia pulado para o nível 5.
E mesmo que venha a ser controlada nas próximas semanas, não se sabe nada sobre uma recidiva e sua virulência. E pior: as vacinas só estarão prontas daqui a seis meses.

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