segunda-feira, 23 de julho de 2007

A epidemia de infecção hospitalar (1)

Ontem, 22, foi o segundo mês de ausência de minha mãe. Ela se foi depois de 29 dias no hospital, 22 dos quais, de sofrimento na câmara de tortura da UTI de um hospital. Entrou rindo, andando para ver que dor nas costas era aquela que sentia e não saiu mais. Foi tanto exame, sem nada a ver com a dor nas costas, que acabou pegando uma infecção hospitalar.
Ontem, 22, foi o sétimo dia de ausência da mãe de minha colega, também jornalista, Luciene Ferreira. Ela se foi depois de 40 dias no hospital, três dos quais na câmara de tortura da UTI de um hospital. Entrou rindo, conversando, para fazer uma cirurgia, estava com alta marcada e não saiu mais, depois de pegar uma infecção hospitalar.
Ontem, 22, foi o primeiro mês da ausência da avó do Jader, colega meu também jornalista. Ela se foi depois de oito dias na câmara de tortura da UTI de um hospital. Entrou rindo, conversando para operar de uma fratura e não saiu mais, depois de contrair uma infecção hospitalar.
Poderia escrever pelo menos mais cinco parágrafos com a mesma introdução, com pequenas variações na data. Mas não vem ao caso.
O que vem ao caso é o fato de a infecção hospitalar, que já é caso de saúde pública, estar virando epidemia. E silenciosa, porque os hospitais não divulgam seus números, apesar de resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que exige isto. Não se pode esquecer que infecção hospitalar é qualquer infecção adquirida após a admissão do paciente em um hospital.O assunto tem sido tratado em teses de mestrado e doutorado, onde se constata que a doença é responsável por alta incidência de óbitos em populações idosas. À luz da defesa do consumidor, o Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC) de São Paulo, tem em seu site, um levantamento de toda a legislação que regula, pune responsáveis e protege o consumidor. E tem até uma página para que os visitantes relatem seus casos.
Ontem fez dois meses. Dia 15 de abril minha mãe fez 90 anos. Dia 15 de maio, apenas um mês depois, estava na UTI, numa macabra coincidência de datas. Dia 15 de maio é o Dia do Controle da Infecção Hospitalar, data cada vez menos lembrada nos hospitais.

2 comentários:

Anônimo disse...

Adriana,
Li e tive a mesma sensação que vc. Surpresa, revolta, dor e desilução. Minha mãe também morreu em um leito de hostipal, sózinha, enganada e sem um quadro correto. Cada hora era um diagnóstico, contrário ao anterior. Infecção hospitalar não era o assunto, apenas agravamento do quadro e ponto final. Ela foi operar do joelho para uma melhor qualidade de vida e não mais voltou.
Seu alerta ajuda a gente a pensar que é preciso fazer algo mais sério.
Grande abraço.
A.Trotta

Anônimo disse...

Adriana, A sensação que nos dá diante desses médicos, com seus boletins, é de total impotência. Eles falam, falam, falam e não explicam como resolver o problema criado por eles dentro dos hospitais. Enquanto isso, escutamos e fingimos acreditar nas falsas explicações. Textos como este deviam ser amplamente divulgados para com isso, quem sabe, termos uma postura diferente em relação às mentiras contatadas pelos médicos e hospitais.