sexta-feira, 27 de julho de 2007

"Chega de realidades, queremos uma promessa, um sonho, uma novidade!"

Com esta frase pichada nos muros da Cidade do México, o jornalista Ilson Lima encerra um artigo que fez sobre as demissões no Diário da Tarde.
Por concordar inteiramente com ele, por ter trabalhado mais de cinco anos na redação da rua Goiás, por ter vivido bons momentos profissionais e pessoais no DT, reproduzo o texto do Ilson, compartilhando com ele e com os jornalistas demitidos, toda a indignação com as políticas do "Deus Mercado".

*"Nada substitui o lucro"**
Solidarizar-me com os jornalistas, ilustradores e diagramadores do Diário da Tarde é muito pouco nesta hora de demissão em massa, sempre uma triste hora para nós trabalhadores. Nestas horas, e ainda assim, às vezes é preciso radicalizar nos conceitos e nada como reproduzir essa máxima da TAM, que sem nenhuma hipocrisia (diga-se), é o signo do que para eles seja o Deus que rege o mercado.
No jogo jogado dessa lógica mercadológica, a pessoa somente importa enquanto colocar sua força de trabalho e talento à disposição do capital, do lucro das empresas, e só tem futuro se se enquadrar no sistema caduco que querem manter às nossas custas. O resto é trololó de empresário, cuja responsabilidade social só existe para amenizar o quadro de misérias e mazelas do nosso país, mantido pelos "130 mil milionários (0,7% da população brasileira)", segundo dados da The Boston Consulting Group.
Enquadrado nessa forca, o jornalismo brasileiro vive sua mais recente crise, agora globalizada, e moldou-se à idiotice mercadológica, como se seu produto fosse sabão na prateleira. Hoje, um punhado de poucas famílias - Frias, Marinho, Civita, Saad, Associados e Companhia -, auxiliadas por seus managers, gestores de negócios e negociatas, mandam na comunicação do país. Jornalismo mesmo, aquele que polemiza,
que mostra a sua face educativa, científica, que mostra as diversas "verdades", e que por isso pode até ser revolucionário, foi pras cucuias há muito tempo. E o que é pior: sob a conivência do governo Lula, que, por medo, como um súcubo, se verga àquilo que a mídia conservadora e golpista (Globo à frente) quer, mesmo sendo vítima do antijornalismo e do partidarismo desses veículos.

Quem teve acesso ao Diário da Tarde do final da década de 80 e início de 90, mesmo já sob as cíclicas crises com as quais convivíamos, conheceu um pouco do que restou do jornalismo mineiro. O jornal ainda não tinha perdido (ou vendido) a sua alma, não tinha virado esse negócio/negociata que é hoje (Aécio Neves que o diga).

Nessa época, com a popularidade que tinha com o público belo-horizontino, o velho DT era esperado com suas manchetes inovadoras de primeira página e suas reportagens policiais. Uma das mais espetaculares que me lembro agora foi com a privatização da
Açominas na década de 90. Em letras garrafais, o Márcio lascou lá: "É Pau, é Pedra....É Aço!", com direito a abertura de fotos e tudo.
Sensacional!. Houve confronto entre militantes do movimento sindical e
a PM. Voaram paus e pedras em direção aos policiais, muitas prisões e tudo mais. Enfim, galera do DT, agora como eu também no olho da rua, não tem chororô com o Deus Mercado. Enquanto eles manipulam seus negócios e negociatas, nós sonhamos em fazer jornalismo inspirados no velho Pasquim, cujos mentores diziam que jornalismo é investigativo, o resto é negócio, e nos grandes jornalistas brasileiros. Para terminar, veio à cabeça uma frase na contramão daquela lá em cima da TAM...TAM...TAM:
"Chega de realidades, queremos uma promessa, um sonho, uma novidade!", uma pichação atribuída à juventude da Cidade do México.

Muita fé e alegria nesta hora de dor,
Ilson Lima


*Primeiro dos sete mandamentos da TAM, reproduzido do site
institucional da empresa

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