quarta-feira, 25 de julho de 2007

A epidemia de infecção hospitalar (3)

Hoje peço licença ao meu amigo Trotta, jornalista lá de Itajubá, para publicar aqui um texto dele. Trotta havia feito um comentário no primeiro artigo da infecção hospitalar, relatando os problemas ocorridos com sua mãe, que também se foi, como a minha mãe, a mãe da Luciene, a avó do Jader, presa a um leito de hospital. Com intenso lirismo e emoção, ele repudia a morte artificial dos aprelhos da medicina moderna. Após o texto dele, posto mais alguns comentários, que incluem também um trecho de um artigo de uma médica do Ministério da Saúde. Leiam até o final, porque vale a pena compartilharmos nossos sentimentos

REFLEXÔES DO DIA A DIA
Antonio Trotta – Jornalista
marketingsempena@itajuba.com.br

“Depois de eu me morrer, morro-me”

Morre-se de muitas maneiras e não quero a dor quando ela chegar. Já me basta a morte como parceira, como companheira discreta e certeira. Que a tristeza seja entregue à partida, aos momentos finais e não à dor voraz, insana e desmedida. No momento derradeiro, que meu ultimo grito não seja doído ou de sofrimento, mas de adeus, de até breve, de abraço na plataforma do próximo trem, com destino certo.
Seria demais morrer sorrindo, gargalhando, achando graça em tudo, na vida e nos que ficam?
Hospitais me deprimem; seus quartos, leitos e atendimentos não me dão a paz necessária para me remeter à paz infinita, definitiva! Tudo é muito artificial, anormal, cheio de procedimentos frios e burocráticos para enfrentar, com naturalidade, a morte. Seu silêncio não me faz bem; é imposto, carregado de obrigações e desconforto.
Não! Não quero acabar meus dias nas mãos de pessoas estranhas à minha vida e, evidentemente, à minha morte. Quero poder partilhar o pouco do sopro que me resta com quem sempre viveu ao meu lado. Quero, em vida, o meu direito a uma morte tranqüila. Se pudesse escolhê-la, obviamente, desejaria a mais repousante de todas, uma morte morrida, a mais natural possível. Não sei do que vou morrer, mas que eu esteja ao lado de quem sempre me amou em vida!
Não quero uma morte agônica. Que o fio de vida que me resta não seja sustentado por aparelhos, tubos e remédios - bombas que me arrebentam por dentro, sem a minha permissão. Não quero nada contra a minha vontade de viver ou simplesmente de morrer. Que a minha vida tenha uma boa morte e que os anjos me guardem do sofrimento, da humilhação, da dor e me libertem de súbito com suas asas. Quero poder voar e alcançar alturas jamais atingidas na quase-morte. No último sopro, que o vento me arrebate e me lance às torrentes, misturando-me com todas as partículas.
De morte natural, viver na natureza. Não mais existir junto a ela, mas ser totalmente parte dela, naturalmente. Da vida, viver a vida. Na morte, simplesmente morrer.
Viver é uma lição: muito se pode levar, muito se pode deixar. Muito se aprende e se ensina na vida e quando ela faltar. Que o último suspiro seja sereno, se possível com certo ar de quem já vislumbra o outro lado, a chegada, sem, ao menos, ter deixado de vez a partida. Que seja uma morte sem dor, mas repleta de saudades. Quero partir com a certeza de que tenho a eternidade toda pela frente.
Mas, antes que ela chegue, sabe lá como, quero continuar vivendo bravamente e amando apaixonadamente, acima de tudo, a vida e tudo o que ela contém.
Entre vida e morte, luto!


Nesta terceira incursão sobre a infecção hospitalar, me aventurei no site da Anvisa para buscar informações. Queria dados, estatísticas nos estados, trabalhos das comissões, etc. Não encontrei. Solicitei, por meio do “Fale conosco”, estes dados. Tenho esperança que me respondam.
Pesquisando o assunto, encontrei um artigo da médica Glória Maria Andrade, coordenadora do Programa Nacional de Controle de Infecção Hospitalar.
No período de calvário de minha mãe na UTI, uma das cenas mais angustiantes era a informação diária de que “hoje foi ligado tal aparelho; ontem foi entubada, amanhã será ‘traqueostomizada’, depois ligada ao aparelho de hemodiálise...”
E como o hospital onde ela estava internada mantém um programa para os familiares, de acesso quase irrestrito à UTI, diariamente a víamos, ali, atada ao leito, numa cena dantesca de aparelhos. Já não era ela mais.
Sobre isto, transcrevo aqui um trecho do artigo da médica Glória Maria:
Convivemos com o avanço tecnológico no nosso dia a dia nos hospitais. Novas descobertas surgem a todos os momentos. A medicina robótica já substitui a mão do homem no campo cirúrgico. Os monitores com seu festival de luzes e botões se interpõem entre o profissional de saúde e o doente. Foi-se o tempo em que o paciente podia contemplar a face do seu médico e segurar com confiança na mão do seu enfermeiro de cabeceira. Perde-se no tempo o olhar de esperança que o paciente busca naqueles que lhe aplicam os tratamentos. Cada vez mais a máquina vem assumindo estas funções.
Paga-se alto preço nas unidades de tratamento intensivo por se prolongar a vida dos pacientes.
O aumento das taxas de infecção hospitalar nestas circunstâncias é um sinalizador que a melhoria da qualidade de vida nem sempre é uma verdade. Os procedimentos invasivos, muitas vezes desordenados, se transformam em mais uma agressão ao templo sagrado do corpo. Necessário se faz que reflitamos ao se colocar a tecnologia ao nosso serviço.
Fazê-la correr paralelamente conosco não permitindo que o computador engesse nosso raciocínio e nossas ações quando se trata de oferecer cuidados aos nossos pacientes.
Que possamos usufruir do maravilhoso Mundo Novo Tecnológico com parcimônia, sem nos esquecermos que a máquina não transmite o calor humano, não oferece o olhar de esperança”.

2 comentários:

Anônimo disse...

Adriana,

É assustador saber que três pessoas que eu conheço - você, a Luciene, o Trotta - passaram por este calvário nos hospitais, que resultou na perda de pessoas amadas, queridas... É muito triste e desalentador.
Imagine quantas outras pessoas sentiram o que vocês relataram: em um momento de extrema fragilidade, causado pela doença de um familiar, ficar nas mãos dos médicos, dos especialistas. A mercê do que eles dizem...

Isso tem que mudar. Não podemos só ter o direito de questionar e cobrar depois do pior.
Queremos, acima de tudo, um atendimento humano e técnico de qualidade.

Aline

Anônimo disse...

ESTOU PASSANDO POR UM PESADELO QUE COMEÇOU NO DIA 18/07/2008 NO DIA DO MEU ANIVERSÁRIO.
MINHA MÃE FOI HOSPITALIZADA PARA A RETIRADA DE UM TUMOR NA CABEÇA.
A CIRURGIA FOI UM SUCESSO A RECUPERAÇÃO DA MINHA MÃE ESTA INDO MUITO BEM, CHEGOU A TER ALTA DO HOSPITAL SÃO BERNARDO EM SÃO BERNARDO DO CAMPO SP. FICOU EM CASA DIAS 22/08 A 24/08/08 porem teve febre de quase 40 graus e teve que retornar ao Hospital. Onde acabou indo para a UTI novamente, tomou a medicação MARIVAN o que acabou ocasionando um tromboembolismo pulmonar, além de uma infecção na urina. Foram feitos varios procedimentos até uma traqueostomia para aliviar a entubação se encontra sedada e eu me encontro desesperado pois sou filho unico solteiro e moramos juntos, o que mais me doi e ver o sofrimento da minha mãe.
Eu fico endefeso e não posso fazer nada, tenho que trabalhar e entro as 13:30 e saio as 19:30h. enquanto a visita na UTI do Hospital so pode ser as 16:30h.
Vizinhos e amigos estão indo lá por mim mas não e a mesma coisa.
Morro de saudades da minha mãezinha mas ela não fala comigo, cada vez que vou até o Hospital é um médico diferente e com informações desencontradas, fico vulneravel a tudo isso. Estou ficando sem vontade de comer e muito triste. solicitei ferias na empresa mas so vai ocorrer dia 18/09/2008´pois já tive ferias este ano.
Parece um filme de terror.
Peço a todos que orem por mim Carlos Eduardo Oliveira e a minha mãe Augusta Maria Oliveira 71, leito 09 do Hospital São Bernardo.

abraços aos amigos...