sexta-feira, 6 de julho de 2007

Adeus Mercado de Santa Tereza


Oldack Esteves, chargista do Estado de Minas durante anos a fio, costumava contar, entre uma gargalhada e outra, que neste Estado montanhês tudo era tão sério, tão sisudo, que a primeira vez que saiu um trio elétrico na rua, a polícia foi atrás “cobrindo o cacete no pessoal”.
Me lembrei disso ao ler a notícia do fechamento do Mercado de Santa Tereza. Com ele foi-se um pouco da alegria, da descontração, da diversidade daquele bairro, único na cidade tradicionalmente boêmio, tradicionalmente cultural, tradicional.
Belo Horizonte está mais pobre. Não tem um Bexiga, uma Liberdade, uma Lapa, uma Estação da Luz, um Mercado Modelo, um Recife Antigo, um Mercado São José, um Soho, um West End. Belo Horizonte não tem memória. A pouca que tenta manter é constantemente bombardeada pela autoridade municipal da vez. Depois querem transformar a cidade num pólo de turismo de negócios. Mas turismo para quê? Ou o negócio só acontece de 8 às 18 horas? E à noite, o freguês faz o quê?
Quem não freqüentou Santa Tereza não pode entender. Quem nunca foi a um show ali na Praça Duque de Caxias, não comeu uma peixada, ou uma casquinha de siri no Xanadu (que depois foi pra Savassi, sumindo no anonimato daquele bairro), não pode entender. Meu Deus! E o Bolão? Quem não foi de madrugada comer o melhor macarrão da cidade? Quem não foi ao Cine Santa Tereza, que virou discoteca, que virou boate, que virou casa de shows? E quem não andou atrás da Banda Santa (¨felicidade mora em Santa Tereza¨ ), não pode entender. E quem não foi ao mercado no sábado à tarde, tomar todas e virar a noite; ou à noite e virar a madrugada nos botequins sem frescura? Certamente não entende e nem liga.
Alegam que o mercado já não atraía tanto público assim. Mas então, por que não fazer um projeto de revitalização? Levar uma programação cultural, como teatro, shows? Até quando vamos ficar dando adeus ao nosso passado cultural? (e eu nem sou de Beagá!!). Até quando vamos ficar passivos ante a constante desconstrução de nossa vocação boêmia?
Desmancha-se hoje, como é agora com o Mercado Santa Tereza – quiçá o do Cruzeiro, logo, logo. Desmanchou-se ontem, como foi com o bairro Bonfim. Até que um dia, resolve-se gastar um dinheirão para revitalizar tudo de novo, como fizeram com o Mercado da Lagoinha.
Mas aí já é outro século. Outros são os moradores e a história da cidade já estará perdida.
Foto: Viaduto de Santa Tereza - Annekathrin Knigge, retirada do Overmundo

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