terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

FSM e a midia tradicional

Terminado o Fórum Social Mundial em Belém, Pará, a "grande imprensa" anuncia que o encontro terminou sem uma carta de sugestões. E alardeia os resultados positivos do Fórum Econômico Mundial, aquele que os ricos fazem em Davos, Suíça. Segundo a mídia, lá os participantes pediram um novo modelo financeiro mundial, para evitar futuras crises.
Conversa para boi dormir, porque quem tem o poder de mando não "pede", implementa.
E aqui, na Amazônia, as discussões foram muito mais ricas do que aquilo que a imprensa nos empurra goela abaixo, aparato que é dos modelos desse capitalismo falido que aí está.
Capitalismo? - Aliás, alguém precisa discutir por que os modelos socialistas foram encerrados com uma penada, porque "exauridos", enquanto o capitalismo capenga ocidental se recicla, apesar de ter perdido sua premissa básica, a da não-intervenção estatal.
As economias globalizadas, sistema financeiro à frente, estão aí socorridas por bilhões de dólares e euros, dos governos constituídos. Dinheiros estes, diga-se de passagem, de todo o conjunto da sociedade.
De repente, num passe de mágica, aparecem trilhões para socorrer a economia. Para socorrer a fome, a miséria, as doenças, nunca houve.
Não estou a defender nada, só gostaria de entender por que não se acabou com o capitalismo também.
Falta outro modelo? Para que serviu o fórum de Davos? Para dizer que "precisa" haver outro sistema? Isto nós todos sabemos há muito tempo.
Mas qual outro? Nenhum dos ricos presentes levou uma sugestãozinha sequer? Um desenhinho simples?
Mídia livre
Voltando à mídia e ao FSM.
Uma das discussões mais ricas foi exatamente sobre a mídia livre. Um dos debates desse tema foi sobre o papel dos meios e a crise. Quem comandou as discussões foram os jornalistas Altamiro Borges (Vermelho), Luiz Hernandez Navarro (La Jornada), Sandra Russo (Página 12), Pascual Serrano (Rebelión), Marcos Dantas (PUC-RJ), Joaquim Palhares (Carta Maior), Joaquín Constanzo (IPS), Bernardo Kucinski (USP) e Ignacio Ramonet (Le Monde Diplomatique).
E a grande sacada é que a mídia é causa e efeito desta crise. “Os meios são co-responsáveis por essa crise já que fazem parte desse sistema financeiro e, também, por calar sobre a existência da crise”, de acordo com Pascual Serrano. A grande mídia cumpre seu papel dentro do aparato capitalista, ao fazer a apologia do desmonte do Estado e do desmonte dos direitos trabalhistas, conforme análise de Altamiro Borges.
"A mídia hegemônica é responsável pela crise e pelos seus efeitos para os trabalhadores e os povos. Essa mídia está criando um clima de pânico para justificar os ajustes que o capitalismo muitas fazes não tem força para fazer em situações de normalidade: as demissões em massa e o retrocesso nos direitos trabalhistas. Fortalecer a mídia livre é necessário para se contrapor a essa investida”.
Para Ignácio Ramonet, do Le Monde Diplomatique, o momento é de oportunidade e fortalecimento da mídia livre, que vem avançando sistematicamente sobre os modelos tradicionais de comunicação (jornais e revistas). Para os presentes, o desafio é ampliar o alcance das novas mídias, ultrapassar audiências tradicionais para formar novas.
E alguns caminhos seriam o aperfeiçoamento da linguagem e os financiamentos estatais para garantir a sobrevivência dessas iniciativas. Isto, porque, segundo Marcos Dantas, jornalista e professor da PUC-Rio, não adianta querer democratizar as estruturas de mídia tradicionais, é preciso construir outros espaços e com eles disputar a agenda pública.
“O que existe hoje são pessoas que fazem esses grandes meios, que escrevem o texto, o título e cada escolha não é abstrata, é feita por pessoas concretas. Há um código meio secreto que as leva a excluir umas coisas e incluir outras, a decidir o que é ou não notícia. E através desse filtro vemos o mundo, a partir dessa escolha do que é ou não importante. E isso impede o real debate na sociedade. Qual a agenda importante: a deles ou a nossa? A disputa da agenda exige a construção de canais alternativos, mas não se faz nada sem dinheiro. E o dinheiro está na sociedade. A gente tem que decidir que esse dinheiro deve fomentar e sustentar a multiplicidade de vozes. E para isso é preciso uma política pública”, avalia Dantas.
Nós, comunicadores
Pois bem, aí está bem clara a definição de "produção da notícia", dentro da teoria da comunicação.
Aproveito uma monografia de uma amiga, que li recentemente para dar pitacos, a pedido dela, e transcrevo: "as decisões tomadas na produção de pautas não são tomadas a partir de uma avaliação individual de noticiabilidade, mas sim de um conjunto de valores que incluem critérios, quer profissionais, quer organizativos. Na seleção de fatos,o grupo de referência, constituído pelo corpo profissional de uma redação, constitui a verdadeira fonte de expectativa dos jornalistas, mais do que os prováveis leitores. E este corpo profissional leva em conta alguns motivos em sua seleção: a autoridade institucional e as sanções; os sentimentos de dever e estima para com os superiores; as aspirações à mobilidade profissional; a ausência de fidelidade de grupo contraposta; o caráter agradável do trabalho; e o fato de a notícia ter-se transformado em valor por osmose" (Ronaldo Henn).

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