quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

"Mane Nobiscum"

Quem sabe, sabe. E só.
(Carta enviada dia 19 ao bispo Dom Luíz pelo deputado Durval Ângelo e por Tilden Santiago, ex-embaixador em Cuba)

''Mane Nobiscum''
''Luíz Flávio Cappio''
Se uma gaiola passar por aí, subindo o Velho Chico, na direção de Minas, venha para Pirapora, que seremos muitos os amigos, barranqueiros ou não, mineiros, brasileiros, até estrangeiros a acolhê-lo no cais, porque preferimos você vivo, como “confessor da fé,” participando de uma caminhada de saída do Egito, que não termina com a “transposição” do nosso rio.
Mane Nobiscum! “Fica conosco, pois já é tarde e a noite vem chegando.” Passe a noite em Emaús, na cidade dos homens, não volte a Jerusalém, cidade de Deus. O povo libertador e libertado ainda caminha nas trevas da dominação. Mane nobiscum, partindo o pão e bebendo o vinho da alegria, na esperança do alvorecer com água, pão e liberdade para todos
Sabemos que seu gesto de resistência não significa desistência de uma luta, que poderá não ser coroada de êxito. Acompanhamos com respeito sua firmeza em doar a vida para os pobres e para o Rio São Francisco. Aliás, “confessor da fé” você já é, há 33 anos, quando abandonou o convento em São Paulo, e um caminhoneiro o trouxe para o Nordeste – para viver o franciscanismo junto das populações ribeirinhas da Bahia, onde você acabou bispo, sucessor dos apóstolos. “Confessor da fé” você já é, como Francisco, nosso pai, como Vicente de Paulo, Dom Bosco e tantos outros.
Continuar “confessor da fé” até a morte ou sublimá-la com sua imolação, caso se torne impossível um diálogo verdadeiro e transparente, só a fortaleza do Espírito em sua consciência individual é que decidirá. Confiamos em você, por ser um ser iluminado. O respeito à sua decisão e à força d’Aquele que sopra onde quer não nos impede de desejá-lo vivo, como um amigo e irmão de caminhada.
E que com “transposição” ou sem ela, a “revitalização” e a “solução para o semi-árido” são tarefas e missões inadiáveis, acabando, de uma vez por todas, com a indústria da seca. Mane nobiscum!
Há uma semana, junto com três deputados das Comissões de Direitos Humanos e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, João Leite, Gil Pereira e Fábio Avelar e servidores daquela Casa, tivemos a alegria de conhecê-lo ou revê-lo. Vimos você lúcido, calmo, consciente e fiel a uma missão profética que carrega misticamente dentro de si: os pobres das regiões ribeirinhas, as águas de um rio, as barrancas com pouca mata ciliar ou assoreadas, os peixes, a fauna e a flora do cerrado, o profeta de Nazaré no solo seco da Judéia, o trovador medieval da Húmbria. Missão espiritual vivida nesse cenário messiânico, que é o Nordeste brasileiro que no passado conheceu líderes como você.
A civilização contemporânea, Dom Luíz Flávio, marcada pelo sufoco do mercado, pelo absolutismo do crescimento econômico, pela acumulação sem limites, graças ao avanço científico-tecnológico, pela ganância e insensibilidade do agro-hidro-negócio, pela tecnocracia predominante, pelo império da economia sobre a política, a ética, a ecologia, a ecopolítica, a filosofia, a sabedoria, a espiritualidade, tem grande dificuldade de entender fatos e mensagens, densos de carga profética e mística.
Somos uma geração pouco disposta a ler a grandeza interior dos mortais, especialmente quando estes, como você, nos colocam, de cheio, a interação vida e morte, seja na vivência dos pobres, seja no seu destino pessoal, seja na existência de um rio.
Mas os pobres, com quem você vive há 33 anos, têm ouvidos e coração para entendê-lo e correr em massa, como vimos, à igrejinha e à árvore onde você jejua. Nós aprendemos do Mestre que certos males na terra dos homens, só com muito jejum e oração se combate com eficácia profética. Uma contraposição profética e mística é uma denúncia que está longe de se assemelhar ao jogo, freqüentemente aparente, só para inglês ver, de situação e oposição política, mais teatro que política, na busca do poder pelo poder.
Se não considerarmos posições individuais de políticos, qual a posição, hoje, dos partidos políticos brasileiros, face ao problema do semi-árido, da revitalização, da transposição e face ao jejum, no qual você se imola? Simplesmente não existe. Os partidos são omissos.
Mas é bem verdade que além dos filhos do sertão, não são poucos aqueles que se sensibilizam com seu gesto, nacionalmente e internacionalmente. Apesar de não ter você a força do poder e da mídia.
É muito mais fácil para setores da mídia nacional e algumas personalidades incomodadas do poder civil ou eclesiástico tentar divulgar a interpretação de que estamos diante de uma postura suicida, como se isso tranqüilizasse a consciência inquieta, face ao choque provocado pelo gesto heróico desse sucessor dos apóstolos. Saiba perdoar, Dom Luíz Flávio, o que faz parte da lógica do depositum fide” e não da racionalidade política. E que antes de ser sucessor dos apóstolos, você foi e permanece um filho de Francisco, que levou a sério sua filiação franciscana.
A multidão daqueles que vêm da grande tribulação estará com você, Dom Luíz Flávio, “mártir” ou “confessor da fé”, pouco importa. Mas se você nos perguntar nossa preferência, dizemos-lhe com simplicidade, carinho e ternura: mane nobiscum! – como em Emaús. Fica conosco, Luíz Flávio, vivo, na comunhão de Casaldáliga, Geraldo Lyrio, Aloísio, Lellis, Balduíno, Serafim, José Maria Pires, Paulo Evaristo, Fragoso e tantos outros sucessores dos apóstolos. Mane nobiscum em memória de Helder Câmara, Távora, João Batista Motta, Luís Fernandes, Austregésilo, Luciano e tantos outros confessores da fé. Mane Nobiscum na luta pela revitalização do Velho Chico, pela revitalização de nossa pátria, da Nação e do povo, como sonhava Tiradentes em Ouro Preto.
O ideal seria que os dois Luíses, para usar uma expressão do amigo Antônio Faria, pudessem dialogar diretamente, sem intermediários, olhos nos olhos, como aconteceu na Caravana do rio São Francisco de 2001. Um diálogo franco, transparente, sincero, sem rodeios, não oportunista, como merecem o nosso povo e os dois Luíses. Mane Nobiscum! Luíz Flávio.
Suba numa gaiola! Suba o Velho Chico! Venha fortalecer sua saúde nas montanhas de Minas. Para juntos, renascidos, descermos o rio revitalizado em Minas, na Bahia, em Pernambuco, em Alagoas, no Sergipe – degustando uma autêntica integração nacional, popular e democrática.
Seus irmãos e amigos, desde a Caravana de 2001, da Serra da Canastra até Juazeiro/Petrolina/Sobradinho.
Tilden Santiago (PT) ex-embaixador do Brasil em Cuba
Durval Ângelo (PT) presidente da Comissão de Direitos Humanos da ALMG

2 comentários:

Anônimo disse...

Prezada Adriana Gomes,
Quero lhe falar é da mina do "Sheike" Batista lá na minha Conceição do Mato Dentro. Ela é alvo de uma demanda judicial na minha família.Como o jargão da MMX é: A MMX pede licença! ou coisa parecida,entendo que o "Sheike" deve se posicionar a esse respeito, propondo, no mínimo, uma saída honrosa. Se ele tem conhecimento da demanda? Apimente isso! Se quiser detalhes, basta me procurar.
Bento Luiz Silva 31 (32863014) 86893014 e-mail-Bentols@uai.com.br

flavia disse...

oi adriana,
espero q em 2008 vc continue nos informando e divertindo com o seu blog. feliz natal e feliz ano novo! bjs