Sentada, cerimoniosamente, em frente à mesa do médico, enquanto ele anota meus dados, escuto a voz rouca, grave, do Lula, insistente:
-"Companheiro, sou eu, atende o telefone!"
-"Companheiro, sou eu, atende o telefone!"
Com um sorrizinho meio sem graça, o médico tira um celular do bolso da camisa - antes que o Lula continuasse com aquela insistência despropositada, sem saber que o homem estava trabalhando -, e o atende.
E aí, escuto toda a conversa do médico com a esposa sobre uma lista de compras do supermercado. "Onde está, onde não está, o que é para comprar, o que precisa, então compra do outro óleo, cê resolve, tá no móvel da sala, na gavetinha, chama o pintor, troca a tinta"
-"Compra um creme de barbear. - Não precisa ser de espuma não. - É, do comum mesmo, estes bozzano, gilete."
- "Mas que remédio mesmo o pneumologista te receitou?"
- "Cê faltou do serviço foi ontem?"
Vou embora rindo da maravilhosa exposição íntima, preço da nossa mania por mais e mais tecnologias.
E vou embora morrendo de inveja de ter um celular antigo e não um modernérrimo, que permite o Lula ficar chamando, ou o Bob Esponja berrando pra gente atender o telefone, ou ainda uma risada escancarada, dessas de bruxas de filmes infantis.
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2 comentários:
ou ainda o bip do computador do lost e o kiko dançando vou ficar atoladinha...
eidrieina, tú tá por fora... fala séeeerio ae....
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