terça-feira, 21 de agosto de 2007

A classe média ressentida

A classe média detonou a campanha do "Cansei". Sob o argumento de que foi feia pelos ricos. Argumento, diga-se de passagem, amplamente difundido pelo marketing luleiro (lula mais eleitoreiro), que ainda, ou novamente, usa e abusa do ultrapassado maniqueísmo "ricos X pobres", ou "norte X sul".
E sob este argumento vamos tapando o sol com a peneira para a insatisfação nossa de cada dia. Afinal, não é politicamente correto discordar de "sua majestade" em público, porque ele é pobre, é operário, enfrentou a ditadura.
E vamos engolindo o "isto é coisa dos ricos, que andam de avião" e fechando os olhos para tudo o mais, e ignorando qualquer outra explicação, indiferentes a qualquer outra análise mais profunda, que não a difundida, estrategicamente, por uns poucos, mas abraçada pelo senso comum.
A classe média detonou a campanha do "Cansei", porque tinha a Hebe Camargo (que apoiou o Maluf, por isso, com certeza virou bandida, porque banditismo e falcatrua pegam por osmose. E se a assertiva é verdadeira, logo quem trabalha com empresários corruptos, ou parlamentares idem, ou instituições idem, também é).
E também porque tinha a Ana Maria Braga, a Regina Duarte, ai, ai, coitadas, execradas sempre, porque têm a coragem de divergir do senso comum. Este senso comum indefinido, mas bem analisado por Saramago, em o "Homem Duplicado". ("Quanto ao senso comum, aparece-me de vez em quando. Às vezes, acato o que me diz, outras vezes mando-o passear. O senso comum deve ser tomado em doses homeopáticas, nem de mais, nem de menos").
A classe média detonou a campanha do "Cansei" porque foi rico quem fez. Como se não fosse legítimo rico protestar, mesmo que o protesto seja contra aviões atrasados, falta de caviar, dificuldades de importação da veuve clicquot.
Preconceito é não reconhecer o direito legítimo de todos. Cada um protesta conforme sua posição: nos países nórdicos protestam saindo pelados pelas ruas e parques. Aqui temos protestos de agricultores com tratores de última geração. Temos os caras pintadas, que estudam todos nas universidades federais, porque não trabalham e os pais puderam pagar o melhor colégio para o ensino fundamental e médio. E temos protestos de sem terra, com longas e extenuantes caminhadas. Todos eles são protestos válidos, porque representam uma resposta a uma situação que, na sua medida contraria um determinado interesse. Todos nós temos direito a defender nosso interesse de classe, rica ou pobre.
O problema é a classe média. Perdida no meio termo, ora apóia a ditadura e faz o golpe militar; ora apóia Collor e seus descamisados; ora apóia FHC e a segurança do status quo e ora apóia Lula, porque está na moda e é preciso seguir a "onda" que varre o continente, em mais uma grande tendência mundial, tão bem descrita por Hobsbawm.
O problema é a classe média em crise de identidade, doida para ser "burguesia e chegar ao paraíso", mas precisando dar satisfações ao vizinho e mostrar engajamento social.
O problema é a classe média ressentida, que não tem as benesses da classe rica e nem o "charme" da classe pobre.
Tadinhos de nós, que não temos nem opinião própria!

4 comentários:

Anônimo disse...

pôh, êidrieinah..
fãla séryoh..
quantas críticas...
puxah vidah...

Anônimo disse...

Como integrante da classe média ressentida, me senti diretamente atingido por suas críticas. Em primeiro lugar, quero deixar claro que apóio o direito de todos criticarem o que bem entenderem, da forma que quiserem. Quisera eu que as cansadas da Rua Oscar Freire tivessem a mesma criatividade dos noruegueses para protestar. Já pensou ver a Hebe pelada fazendo protesto na Praça da Sé?
Admito que falta espírito de corpo à classe média brasileira (na verdade, acho que temos mesmo é espírito de porco). Mas não abro mão do meu direito de criticar o que me der na telha. Adoro criticar: acho que o botox da Regina Duarte subiu pro cérebro, morro de preguiça de protesto de fazendeiros ricos reclamando da baixa dos preços (eles querem o quê? café cotado a 200 dólares a saca eternamente?) e de choradeira de deputado que se sente perseguido pelo Ministério Público. Votei no Lula e me sinto decepcionado com seu governo. Adorei as vaias que ele recebeu na abertura do Pan (acho que ele pensa que é a rainha da Inglaterra e todos somos seus súditos a idolatrá-lo). Mas uma coisa é inegável: seus índices de popularidade devem-se à melhoria da qualidade de vida dos mais pobres (quase imperceptível para os seres que têm como habitat natural o shopping center). Também é inegável que a nossa elite não tem do que reclamar. Afinal de contas, eles não enfrentam atrasos nos aeroportos, pois viajam em seus jatinhos particulares. Quem tem alguma coisa para reclamar é mesmo a classe média, encurralada pela alta dos preços dos serviços e dos impostos. Por isso, quem tem que protestar somos nós. Que tal começar fazendo um bundalelê coletivo nos aeroportos?

Anônimo disse...

Em primeiro lugar, gostaria de me despedir de todos, pois estou de malas prontas para passar uma temporada na Noruega protestando pelado ao lado das loiras maravilhosas que aquele pais “produz”...
Gostaria de debater sobre um termo usado por vc. Elites. Quem são as elites do Brasil ? Ao meu ver são aqueles que tem voz ativa ! São os que influenciam. O seu Blog difunde idéias que podem moldar a opinião de pessoas. Então, vc é parte da elite (uma parte pequena, um baixo clero), assim como sou ao presidir o ISSA aqui em MG. Assim como o presidente do sindicato dos taxistas, dos lixeiros e por ai vai. Acho que hoje em dia o termo elite é empregado em uma conotação negativa. “Se vc é elite, então não presta”. Qual é !!!
Outra coisa que me deixa revoltado é que muitos acham que esta crise só atinge a classe mais favorecida. Afinal de contas, quem viaja de avião comercial ? Eu, pelo menos umas duas vezes por mês. E sou bancado pela empresa, viagem, alimentação e hotel. Mas mesmo assim, eu sofro com os atrasos, tenho medo dos aviões caírem (mesmo sendo filho de piloto) e fico um bagaço quando chego em SP ou no RJ, às 3 da manhã pois meu vôo não saiu no horário. Agora, ficar na dependência de colocar famosos para que os movimentos tenham sucesso, ai é foda. Ta na hora de parar de fazer missa, passeata com camisa branca e levantar cartazes e começar a agir mesmo. Gostei da idéia do Gleidson ai em cima ! Vamos começar com um movimento: Cansei dos movimentos passivos. Vamos começar ficando pelados... no aeroporto de Oslo :)
O Brasil ainda tem saída: Galeão, Confins, Guarulhos, entre outros.

flavia disse...

já q somos todos elite e diante de tantos absurdos e de tantos motivos para criticar acho q devemos lançar um movimento com o seguinte tema:
elites de todo o mundo, uni-vos!