Está chegando mais uma MBR para acabar com outro complexo de serras. mineiras, nosso patrimônio natural mais querido. Minas não tem mar. Mas tem montanha. Com mais um par de anos já estaremos falando em Minas "tinha montanhas". Nossa introspecção terá, então, de encontrar outra explicação socioantropológica.
A empresa MMX (dona do empreendimento) - não se sabe se carioca (pelo sotaque de seu “CEO”) ou outra múlti, apregoa os benefícios de um mineroduto que será construído por aqui. Esse “trem” pretende levar o ferro de Conceição do Mato Dentro até São José da Barra, no Rio de Janeiro. É uma cobra de mais de 500 quilômetros, ora enfiada debaixo da terra, mas em cova rasinha que nem de pobre, quando o relevo permitir, ora em cima da terra mesmo, como o metrô de Beagá. Coisa de mais de R$ 1 bilhão de investimento, para produzir 26,5 milhões de ton/ano de ferro. O “trem” vai passar por 25 cidades mineiras.
Negócio bom para as prefeituras envolvidas (Conceição do Mato Dentro, Alvorada de Minas e Serro), que poderão ver 1.500 cidadãos seus empregados na época da construção, apesar de somente 104, depois, quando o minhocão estiver pronto. E nestes cento e poucos não se sabe se estarão os técnicos e administradores, que com certeza não serão destas cidades.
Negócio muito melhor para a empresa MMX, que vai investir bilhões e faturar trilhões, certamente, já que vai tirar um produto da terra, baratinho, baratinho.
Muito bem, a discussão foi em torno do mineroduto. O “trem” está correto? Está dentro dos parâmetros ambientais? Vai degradar? Vai poluir? A MMX diz não polui. Não degrada. Que está tudo nos conformes.
Mas a grande discussão é outra. A construção do mineroduto é apenas uma cortina de fumaça preparada pela empresa para a verdadeira questão de fundo: a mineração industrial de jazida de ferro numa região histórica, ambientalmente fantástica, onde estão as cachoeiras mais bonitas do Estado (a do Tabuleiro, por exemplo), as vegetações mais extraordinárias. Não sou especialista. Apenas conheço a região muito bem.
Conheço a Serra do Espinhaço do chão e do ar. Sobrevoar o maciço próximo a Conceição e Serro é ver belezas indescritíveis, como um lago de águas verdes incrustado entre as pedras. É ver dezenas de riachos limpos correndo por entre verdes e verdes de perder de vista. Fora o lado cultural, presente na relíquia histórica que é o Serro, que de quebra, lhe oferece dois magníficos distritos, como Milho Verde e São Gonçalo.
A grande discussão deveria ser a exploração da jazida de ferro, concedida à empresa, estranhamente formada só em 2005, já para viver do minério, com dois projetos em andamento, em Corumbá e no Amapá, ambos, curiosamente, gestados aqui.
Dá para imaginar aquela região sem o carnaval que atrai milhares de pessoas; sem as cachoeiras de águas cor de coca-cola, límpidas, límpidas; sem a Festa do Rosário do Serro, que deveria virar patrimônio do Estado; sem o Jubileu do Bom Jesus do Matosinhos, de Conceição?
A exploração do minério de ferro vai trazer não só degradação ambiental. Vai trazer uma mudança cultural e de vocação econômica, como a que já ocorreu com a população masculina pobre de Alvorada de Minas, que virou miserável. Isto depois de perder o direito de garimpar pelos rios locais, em exploração manual de bateias, sem mercúrio, nem nada, em busca do que restou do ouro colonial. É que o IEF colocou seu helicóptero Esquilo a varrer a região atrás dos garimpeiros, espantando-os para dentro dos matos (Mato Dentro, Conceição).
E o queijo do Serro? E o requeijão de raspa? E o artesanato e os santos? E o povo alegre, festeiro, hospitaleiro, que abriga deus e todo mundo em suas casas, na época das festas?
Aquela região é muito rica cultural e ambientalmente. Não merece cair nas mãos de uma nova MBR. Aquela paisagem não merece virar a Serra do Curral; ou o Pico do Itabirito, sem pico, depois da Mina de Capanema; ou a Serra de Itatiaiuçu, pelada, pelada, só pó e degradação e tristeza. O Espinhaço precisa ser preservado e como eu não sou do ramo, passo a palavra para quem é: visite e veja fotos fantásticas http://www.conceicaodomatodentro.com.br
As fotos acima, Canyon do Peixe Tolo e Cachoeira do Tabuleiro , são de Henry Yu.
A empresa MMX (dona do empreendimento) - não se sabe se carioca (pelo sotaque de seu “CEO”) ou outra múlti, apregoa os benefícios de um mineroduto que será construído por aqui. Esse “trem” pretende levar o ferro de Conceição do Mato Dentro até São José da Barra, no Rio de Janeiro. É uma cobra de mais de 500 quilômetros, ora enfiada debaixo da terra, mas em cova rasinha que nem de pobre, quando o relevo permitir, ora em cima da terra mesmo, como o metrô de Beagá. Coisa de mais de R$ 1 bilhão de investimento, para produzir 26,5 milhões de ton/ano de ferro. O “trem” vai passar por 25 cidades mineiras.
Negócio bom para as prefeituras envolvidas (Conceição do Mato Dentro, Alvorada de Minas e Serro), que poderão ver 1.500 cidadãos seus empregados na época da construção, apesar de somente 104, depois, quando o minhocão estiver pronto. E nestes cento e poucos não se sabe se estarão os técnicos e administradores, que com certeza não serão destas cidades.
Negócio muito melhor para a empresa MMX, que vai investir bilhões e faturar trilhões, certamente, já que vai tirar um produto da terra, baratinho, baratinho.
Muito bem, a discussão foi em torno do mineroduto. O “trem” está correto? Está dentro dos parâmetros ambientais? Vai degradar? Vai poluir? A MMX diz não polui. Não degrada. Que está tudo nos conformes.
Mas a grande discussão é outra. A construção do mineroduto é apenas uma cortina de fumaça preparada pela empresa para a verdadeira questão de fundo: a mineração industrial de jazida de ferro numa região histórica, ambientalmente fantástica, onde estão as cachoeiras mais bonitas do Estado (a do Tabuleiro, por exemplo), as vegetações mais extraordinárias. Não sou especialista. Apenas conheço a região muito bem.
Conheço a Serra do Espinhaço do chão e do ar. Sobrevoar o maciço próximo a Conceição e Serro é ver belezas indescritíveis, como um lago de águas verdes incrustado entre as pedras. É ver dezenas de riachos limpos correndo por entre verdes e verdes de perder de vista. Fora o lado cultural, presente na relíquia histórica que é o Serro, que de quebra, lhe oferece dois magníficos distritos, como Milho Verde e São Gonçalo.
A grande discussão deveria ser a exploração da jazida de ferro, concedida à empresa, estranhamente formada só em 2005, já para viver do minério, com dois projetos em andamento, em Corumbá e no Amapá, ambos, curiosamente, gestados aqui.
Dá para imaginar aquela região sem o carnaval que atrai milhares de pessoas; sem as cachoeiras de águas cor de coca-cola, límpidas, límpidas; sem a Festa do Rosário do Serro, que deveria virar patrimônio do Estado; sem o Jubileu do Bom Jesus do Matosinhos, de Conceição?
A exploração do minério de ferro vai trazer não só degradação ambiental. Vai trazer uma mudança cultural e de vocação econômica, como a que já ocorreu com a população masculina pobre de Alvorada de Minas, que virou miserável. Isto depois de perder o direito de garimpar pelos rios locais, em exploração manual de bateias, sem mercúrio, nem nada, em busca do que restou do ouro colonial. É que o IEF colocou seu helicóptero Esquilo a varrer a região atrás dos garimpeiros, espantando-os para dentro dos matos (Mato Dentro, Conceição).
E o queijo do Serro? E o requeijão de raspa? E o artesanato e os santos? E o povo alegre, festeiro, hospitaleiro, que abriga deus e todo mundo em suas casas, na época das festas?
Aquela região é muito rica cultural e ambientalmente. Não merece cair nas mãos de uma nova MBR. Aquela paisagem não merece virar a Serra do Curral; ou o Pico do Itabirito, sem pico, depois da Mina de Capanema; ou a Serra de Itatiaiuçu, pelada, pelada, só pó e degradação e tristeza. O Espinhaço precisa ser preservado e como eu não sou do ramo, passo a palavra para quem é: visite e veja fotos fantásticas http://www.conceicaodomatodentro.com.br
As fotos acima, Canyon do Peixe Tolo e Cachoeira do Tabuleiro , são de Henry Yu.
7 comentários:
Pararáns, o blog está muito bom. Começou em grande estilo, ou seja, tentando salvar as maravilhosas montanhas de Minas.
Vai em frente e conte com a gente!
Elvira
Adriana,
Muito bom o seu blog. Seu perfil é ótimo! Quem não leu, vale a pena conferir.
Parabéns. Aguardo mais textos polêmicos.
Beijos,
Aline
oi adriana! parabéns pelo seu blog!
agora q vc conquistou vários leitores, fique sabendo q vamos querer uma atualização diária, viu!?!
Muito bom, Adriana.
Fico feliz em saber que mesmo sendo uma "dessas jornalistas antigas, que já ralaram muito" você continua querendo "fazer barulho". É disso que precisamos, alguém que tenha opinião forte e polêmica. Parabéns!
Um abração,
Thiago
É isso aí, Adriana! Chegou a hora de dizer as verdades indizíveis!
Gleidson
Esta é minha mãe. Ainda bem que já tirei minha carteira da OAB
Naiara
Muito boa a idéia do blog.
A matéria também.
O pior é que esse minério que eles "tiram" nem fica aqui no Brasil, vai tudo pra China, a preço de banana.
Paulo Emílio.
Postar um comentário